quarta-feira, junho 19, 2013

CRISTINA, VELHO AMIGO E O MESMO

Caro amigo, depois de cumprir o meu respeito sentido e reservado em memória ao velho amigo perante a sua morte no teu religioso funeral, cada vez penso mais na nossa última e curta conversa que trocámos ao telefone.
Sobre qualquer questão da actualidade de que discordávamos atiráste logo com o inevitável chavão de que "é tudo o mesmo".
Na verdade, no mundo real vivo nada é igual e muito menos "é tudo o mesmo". O mundo real vivo é a natureza global e esta é feita, e só é possivel existir e preservar-se, pela diversidade que permite o ciclo biológico animal e vegetal onde o homem se inclui sem poder fugir dele. No mundo da natureza tudo flui e em cada instante passado já não é "o mesmo" que no instante anterior.
Nunca dois filhos do mesmo pai e mãe, mesmo gémeos e educados filosoficamente para serem cultural e socialmente "o mesmo", são ou serão a mesma personalidade.
Individualmente, talvez a igualdade e "o mesmo" seja única e exclusivamente a nossa caracteristica de eternidade, isto é, só alcançada na condição de não ser que é agora a tua, velho amigo. Como entidades sociais nem a passagem à inevitável igualdade no não ser faz de nós todos "o mesmo": alguns são expostos em mausuléus, outros em estátuas, monumentos e em placas de ruas. 
Grande mistério da vida: somos iguais e "o mesmo" apenas e só enquanto estamos fora da existência. E grande paradoxo da existência: é precisamento a natureza de sermos "não o mesmo" que gera o conflito que gera o progresso que gera a utopia que gera a caminhada inextinguível da História.
Marx tinha razão: a igualdade total traria o fim da História.
E a questão é: pode o homem viver sem fazer História; pode o homem existir e não existir a sua História?
Velho amigo, se o não ser ainda for alguma coisa e tu estiveres algures, desejo muito que tenhas encontrado a felicidade num mundo conforme aos teus ideais. 

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