domingo, fevereiro 04, 2018

AMENDOEIRA ALGARVIA EM MORTE LENTA NÃO ASSISTIDA.


A velha amendoeira centenária continua firme de pé ora vestindo-se de verde ora de flores brancas únicas inimitáveis numa imitação infindável de si própria repetindo-se todos os anos.
Contudo ao seu redor outras velhas e também centenárias amendoeiras, que com ela formavam o tal manto de neve que matava as saudades da princesa que viera das terras frias do norte, abandonadas pelos donos a quem já um dia proporcionaram uma beleza florida e uma riqueza de vida em fartura e alegria vivem agora resistindo heroicamente mantendo as velhas raízes secas e subnutridas agarradas à terra desesperadamente procurando sobreviver, florir e dar belos frutos como sempre fez e que, orgulhosa e teimosamente de pé, quer continuar a fazer para embelezar o ar do campo e cumprir a sua promessa de vida sempre até tombar e regressar à terra como cinza.
Aquelas que já integradas pelo mato que invadiu as antigas terras tratadas, limpas, adubadas e semeadas onde antes eram o brilho e colorido orgulho dos seus lugares vivem a tristeza dos tempos feitas arbustos de troncos carcomidos e galhos secos escondidas no matagal que já nem sombra dão quanto mais voltarem a ser promessa de belas flores e magníficos frutos.
Ninguém fez nada para salvar esta espécie que foi a maior riqueza do Algarve pelo que está traçada sua sentença de morte lenta não assistida.
Só falta fazer-lhe o funeral com o cortejo de velhos atrás aqueles que ainda têm lembrança de quanto belo era uma amendoeira florida e saboroso e generoso era o seu fruto rico.

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