O PODER DO CAPITAL E OS INTELECTUAIS EXALTADOS
"Intelectuais exaltados dançam como animais de circo mal os meios de comunicação lhes acenam com as suas remunerações"
George Steiner in "Fragmentos"
O "Poder do Capital" é uma fatalidade histórica para a qual a Democracia ainda não conseguiu meios e modos democráticos que a contenham e dominem.
E ao longo do tempo documentado até perder-se na pré-história contada por vestígios parece certo que o "Poder do Capital" foi sempre preponderante.
Foi uma pena que os velhos clássicos sábios gregos que, já desconfiados da criação mágica das coisas pelos deuses do Olimpo, se puseram a questionar porque razão ou causas racionais as coisas aconteciam daquele modo que eles observavam repetidamente e não de outro, não se tivessem debruçado a pensar sobre porquê o Capital se acumulava tão fortemente de um lado de uns quantos da Comunidade contra outros muitos e como o seu peso correspondia a Poder e distinção social entre os cidadãos da Comunidade.
Pois, certamente, como era seu hábito na busca do saber das coisas teriam ido à essência das causas e ter-nos-iam deixado algum tratado que hoje nos iluminaria muito sobre esta magna questão do "Poder do Capital".
Foi pena e parece que, também eles nesse caso concreto, tenham concluído que a riqueza era da natureza das coisas segundo as virtudes pessoais e, como tal, bem aceites e até consideradas como "Capital de Saber" importante para dirigir a Cidade.
É ilustrativa a história que se conta acerca de Tales de Mileto, o primeiro grande filósofo grego que, em rapaz tinha fama de mandrião sempre metido e distraído nos seus pensamentos, e que por isso, se riam dele e o consideravam uma nulidade. Ferido no seu orgulho pensou em provar a todos que era capaz de ganhar dinheiro. Já sábio em astronomia e prevendo com grande antecedência um bom ano de colheita de azeitona pediu dinheiro emprestado e comprou todos os lagares da zona. Os seus cálculos saíram certos e aquando da abastança de colheita de azeitona ele, como único proprietário dos lagares locais pode impor os preços do azeite e, desse modo, enriquecer e posteriormente dedicar-se exclusivamente ao estudo.
Também um contemporâneo de Tales chamado Sólon que não só recuperara da falência a empresa do pai como aumentara grandemente o seu património granjeou com isso uma grande reputação de sabedoria, astúcia e honestidade.
Este eupátrida (bem nascido) e bem sucedido nos negócios pela inteligência e saber era o melhor visto pelos artesãos e mercadores, classes em ascensão, para realizar as necessárias reformas sociais.
Nomeado pelo povo candidato a arconte epónimo foi eleito e aboliu a escravatura a todos que haviam sido feitos escravos por dívidas, desvalorizou a moeda para lhes facilitar os pagamentos das dívidas no futuro e outras grandes alterações na composição das instituições dirigentes estatais que colocou o pendor do Poder na maioria do povo em detrimento dos aristocratas.
Esta reforma, revolucionária naquele tempo, esteve na origem da Democracia Ateniense.
Sólon teve a percepção de que a pertença da riqueza de um lado apenas, a aristocracia, conduzia automaticamente a cada vez maior acumulação de propriedade e Capital no mesmo campo dos já poderosos e à escravatura cava vez mais, todos os pequenos proprietários.
Quando, como neste caso grego, pela primeira vez na história da civilização humana o "Poder do Capital" concentrado se equilibrou face ao Poder do "Capital Eleitoral e Social" da pequena propriedade e bens, foi possível o Estado Democrático (à parte a escravatura instituída) e dar-se um salto de desenvolvimento económico nunca visto e ainda mais nas ciências e pensamento que, ainda hoje é, a maior herança intelectual da humanidade.
E ainda mesmo assim a Democracia soçobrou perante excessos democráticos e manobras do Poder do Capital aristocrático que se coligou com Filipe e com Alexandre que lhe deu o golpe fatal e mais tarde a submissão total às mãos de Roma imperial.
Como se deu sempre e se dá ainda hoje a acumulação do Capital em detrimento da maioria dos povos do mundo?
Será esta acumulação, como pensavam os gregos antigos, o consequente resultado de igual maior acumulação de estudo, saber e conhecimentos para prever as trocas e os negócios mais propícios a elevados reembolsos?
Ou será a acumulação de riqueza, tal como atestavam os protestantes luteranos, um sinal do céu enviado sob forma de graça divina dada em recompensa dos que mais acreditavam e trabalhavam na Terra para a grandeza de Deus?
Historicamente, sabemos de várias originais formas de acumulação de capital, umas violentas como sejam o saque de povos mais fracos, saque de valiosos despojos de guerra, conquistas guerreiras com ocupação de terras e riquezas de povos vencidos e outros menos violentos como descobertas e exploração escrava de minas de ouro, prata e cobre ou ainda de negócios-encomendas para construções de grandiosas obras para Reis, Imperadores e Estados e também riquezas acumuladas em proveito próprio no desempenho de altos cargos dos reinos e impérios.
Sabemos também de mercadores que arriscavam a mercadoria, os barcos e a vida nos mares e com arte de navegação, sorte e conhecimentos dos mercados, acumulavam riquezas.
Marx tentou e deu uma explicação matemática eficaz acerca da acumulação do Capital sob a teoria das "mais valias" produzidas pelos trabalhadores em proveito e acumuladas pelos patrões da indústria.
Mas, ninguém explicou ainda, como se deu a primitiva e primeira acumulação de Capital, origem inicial do "Poder do Capital" que, como o Sol, nunca mais se extinguiu.
E, tal como o Sol faz nascer e crescer tudo à superfície da Terra, o "Poder do Capital" faz nascer, crescer e acumular sempre mais e mais "Capital" ao já acumulado.
E faz "Intelectuais exaltados dançar como animais de circo".
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