sábado, novembro 30, 2019

PROCESSO JUDICIAL DE JESUS NAZARENO (TOMO III) SEGUNDO VALÉRIO BEXIGA

Valério Bexiga, o autor desta formidável obra continua, neste Tomo III, escalpelizando metódica e minuciosamente o Processo Judicial de Jesus Nazareno pesquisando e reunindo todos os testemunhos documentais  históricos e bíblico-religiosos existentes acerca do Julgamento de Jesus para, segundo uma análise de comparação, verificação e confrontação entre si e também com as Leis e Tradições da época fazer a reconstituição das peças deste tão enigmático facto acontecido e mal conhecido há dois mil anos.
No Tomo I (379 pág.) o autor reúne todas as fontes históricas pagãs e cristãs e confronta-as texto a texto, passo a passo, data a data, segundo os mais variados e apertados critérios de depuração afim de detectar alterações, acrescentos, emendas, apagamentos e até falsificações de modo a adequar os textos às previsões de acontecimentos futuros ditados pelos Profectas por um lado e aos acontecimentos posteriores e respectivos textos dos evangelistas e paulinos por outro.
No Tomo II (412 pág.) o autor pesquisa e analisa, sempre à lupa, os conceitos e instituições judaicas incluindo o conceito de Messias e missão deste, a envolvente histórica do 'movimento de Jesus' e, por fim, analisa o Grande Sinédrio; competências judiciais, estrutura social e hierarquia, como tribunal e penas do Direito Hebreu e competências do Sumo-Sacerdote.
Neste Tomo III (498 pág.) o autor, completada a análise escalpelizada na detecção dos documentos reputados válidos, assim como de Leis e Tradições quer de Romanos quer de Judeus passa, neste tomo, à reconstituição do que terá sido e como teria sido o verdadeiro, ou mais verosímil, Processo Judicial de Jesus.  
Inicia esta fase da sua obra, sempre sob critérios minuciosos de pesquisa e selecção, na procura do verdadeiro ou mais logicamente passível de terem sido os factos acerca da Captura de Jesus e  consequente prisão seguida da tomada de decisão pelos "principais judeus" incluindo o Sumo-Sacerdote em exercício, Caifás.
Seguidamente faz uma incursão pelo estudo do Direito Romano, suas Leis e penas salientando os delitos que levavam à pena de crucificação.
Concluída a decisão de culpa de jesus pelos "principais judeus" no Sinédrio chefiado por Caifáz com o argumento deste de que "é preferível que um só homem morra pelo Povo, a que seja a Nação inteira a morrer" é decidida a entrega do culpado ao poder e Direito Romano na pessoa do Prefeito Pôncio Pilatos.
Este regia-se e actuava segundo o Direito Romano e vigiava sobretudo as questões de desordens ou rebelião-sublevação ou quaisquer intenções de cariz político dos judeus sob o jugo do Império, pois que as questões religiosas eram de cargo do Sinédrio e do Sumo-Sacerdote. Deste modo Pilatos subestimou a questão religiosa e procedeu essencialmente ao julgamento da faceta política de Jesus implícita no conceito do título assumido de Messias, rei dos judeus.           
Neste sentido pergunta, durante o julgamento e repetidamente, a Jesus: Tu és o rei dos judeus? Ao qual Jesus respondeu: Tu o dizes.
Esta era a questão axial do julgamento o qual, perante a resposta dúbia mas percebida como "se tu o dizes é porque é verdade" ademais de que os Romanos conheciam a pregação de Jesus e aclamação popular dos seus discípulos e correligionários como Messias, rei dos judeus, Pilatos condenou Jesus ao gólgota e na cruz foi colocada a inscrição, "este é o rei dos judeus" que é prova concludente acerca da motivação e causa da condenação de Jesus. 
Uma condenação fundamentada na Lex Iúlia Seditionae para casos de alteração da Ordem sócio-política.

Embora o autor imprima na sua obra que "Nenhum processo judicial teve tanto impacto e tamanha notoriedade como o de jesus Nazareno e nenhum registado processo judicial da História se apresenta tão indistinto" e que "A acta do julgamento de Jesus pode não ter sido feita, então, e não é factível agora" não se eximiu contudo, face ao seu estudo tão criteriosamente esmiuçado, de se atrever a aventar uma previsão do teor que seria impresso numa sentença escrita, assim:
Segundo Bertrand Russell, na sua "História da Filosofia Ocidental" para os judeus o Messias traria prosperidade temporal e vitória sobre os seus inimigos na terra.
Edward Gibbon (1737-1794) na sua obra "Declínio e Queda do Império Romano) diz sobre os cristãos originais que "O seu apego à fé era assim permanentemente consolidado; e, paralelamente ao acréscimo de zelo, eles lutavam com maior ardor e sucesso na guerra santa que haviam desencadeado contra o império dos demónios (Roma).  
E ainda, "Mas a Igreja primitiva, cuja fé era de consistência muito mais firme, votava sem hesitar, aos suplícios eternos a maior parte da espécie humana. Talvez se pudesse acalentar uma esperança caritativa dos sábios da Antiguidade  que haviam consultado a luz da razão antes de brilhar a do Evangelho." 
Karen Armstrong na sua obra "Uma Ideia de Deus" diz que; "Jesus pode ter sido discípulo de  um tal João Baptista que considerava Jerusalém numa situação irremediavelmente corrupta e pregava contra ela sermões fulminantes." 
"Que Jesus fizera a longa viagem de Nazaré à Judeia para ser baptizado por João e este o reconheceu como Messias" e o "facto seguinte de que temos conhecimento sobre Jesus é que ele começou a pregar em todas as cidades e aldeias da Galileia, anunciando, 'O Reio de Deus chegou!'". 
"Os Profetas salmistas haviam predito estes acontecimentos; assim, «toda a casta de Israel» podia ter a certeza de que Jesus era o há muito esperado Messias. Aparentemente, esta era a mensagem (Kerygma) do discurso dos cristãos primitivos" 

Robert Wight em "A Evolução de Deus" afirma que " Os deuses falam através dos seus seguidores, portanto, quando mudam as interpretações maioritárias de um deus, o próprio carácter do deus muda"
Tanto na obra "Uma Ideia de Deus" como em "A Evolução de Deus" a mensagem geral que se retira é essa de que a ideia de deus e seus atributos variam em função das circunstâncias sociais ao tempo dos respectivos povos adoptivos de novos deuses.
E também desde os materialista da idade clásica que há filósofos que se opõem à existência de deuses. Os filósofos do iluminismo uns encontravam Deus na natureza e outros viam Deus como um mal e Voltaire disse que se Deus não existisse tinha-mos que inventar um.
Muitos filósofos modernos são anti-crentes e anti-Deus e alguns até já decretaram a morte de Deus.
Contudo, tal como desde sempre, motivos religiosos provocaram guerras e quanto mais sangrentas elas são mais crescem os motivos de ódios religiosos para novas e futuras guerras cada vez sempre mais desumanas e horríveis.
Afinal estará Deus a mais ou a menos? Deus é um estorvo ou um imprescindível? 

Esta obra tão grandiosa como importante da autoria de Valério Bexiga é fundamental para percebermos de que modo e sentimentos os homens produzem ideais éticos e morais sublimados sob a forma de atributos de deuses mudos que precisam de intérpretes para falarem aos homens,  afinal criaturas seus filhos.
Quanto à aventada "sentença" talvez se possa dizer que apenas falta estar redigida em latim para ser cópia fiel da eventual comunicação que Pilatos enviou ao Imperador a dar relato do caso.

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