FUTEBOLISMO
ESCOLA, ESPECTÁCULO, MERCANTILISMO, CIRCO?
O desporto em si é um belo ideal, praticado por si é um bom exercício físico, executado com perfeição de movimentos é uma estética, dominado com superior destreza é um gozo, usado para o bem de corpo e mente é uma lição, interpretado como uma disputa leal entre rivais pelo louro da victória é a paz, servido pela inteligência para atingir beleza pode ser uma arte, contemplado como arte em movimento é uma festa. Provávelmente só os gregos estiveram próximos de reunir todas estas qualidades como resultado da interpretação das suas concepções filosóficas. Neste caso, os jogos, eram uma verdadeira escola de formação dirigida aos valores nobres do heroísmo pacífico ao serviço da cidade.
Os romanos que culturalmente copiaram tudo dos gregos, no que diz respeito aos jogos, abastardaram completamente o carácter da concepção grega de jogo como p(ro)arte da formação integral do bom cidadão. Deste modo recrearam e refinaram um costume bárbaro antigo das lutas guerreiras cruéis de algum dos povos primitivos que deram origem a Roma. Criado e estabilizado o imenso império, a disputa pelo grandioso poder de tanta riqueza entre as grandes famílias, levou a uma permanente guerra civil em que cada facção no poder usava e abusava do mais rudimentar populismo para obter o apoio da populaça. O punhal de Brutus quiz repôr a antiga nobreza de princípios e da lei tal como o seu antepassado o fizera para implantar a républica dos patrícios dirigida pelos cônsules. Afinal acabou por acelerar a implantação definitiva dum poder divinizado sob a forma do césarismo. Endeusado este poder, sem ideais nobres por que lutar, dedicou-se à devassidão de palácio, à subversão dos antigos costumes, à degradação extrema da moral pública, à utilização de jogos de matança como arma político-religiosa, ao espectáculo de carnificina para manter a plebe entretida, à delapidação da riqueza usurpada aos povos submetidos. E o império definhou entre césares loucos e povo pedindo pão e circo.
Como herdeiros directos destas culturas clássicas, os nossos jogos oscilam entre o ideal grego e o espectáculo romano. Organizamos o nosso desporto segundo os argumentos nobres da formação dos jovens para serem atletas e homens exemplares mas entregamos a sua organização a instituiçoes autónomas que fácilmente adoptam e enveredam pelo puro césarismo desportivo.
Sobretudo quando o jogo se populariza, arrasta apaixonadamente multidões e envolve um manancial de avultadas riquezas, torna-se altamente apetecível a superintendência deste desporto, ao poder político para efeitos de manipulação política usando-o como escape social, aos pequenos terratenentes das organizações desportivas como os primeiros na fila para a corrida à maior fatia possível das riquezas provenientes. Daí a promiscuidade de círculos que se movem com intimidade entre a política e o desporto de "massa", sob a conivência do Estado.
O futebol desenvolveu-se acompanhando, intimamente interligado, com a face aparente da massificação democrática da liberdade. Os enormes estádios cheios de gente gritando, aplaudindo, vaiando, gesticulando acordos ou desacordos, travestindo-se de roupas, adereços e pinturas de sua criação e gosto, despejando raivas da vida em plena multidão ao ar livre preenche a necessidade libertária de sua natureza. Naquela situação o homem maltratado pela sociedade solta-se dos constrangimentos à sua liberdade natural impostos pelas leis, costumes, moral, trabalho duro penoso e obrigatório contra-vontade e sente em si uma importância que lhe é negada no dia a dia. Os Estados Maiores da organização política e desportiva, conhecendo e tendo em conta a função importante do jogo como aparência de liberdade, promovem-no e orientam-no nesse sentido. Até o termo desporto-rei, recria subconscientemente, a ideia de uma mensagem de devolução do reinado ao povo dos adeptos enquanto multidão observando e julgando o jogo que decorre a seus pés. Deste modo, de evolução em evolução, de amadorismo a profissionalismo, o futebol sempre orientado e submetido aos conceitos de jogo de proveitos políticos e mercantis, chegou-se à actual modernidade do futebolismo.
O futebolismo atingiu a sua expressão acabada com a transformação dos clubes, da Liga, agentes de jogadores, brevemente árbitros, etc., em entidades empresariais. É por ventura o objectivo duma empresa promover o desporto como escola de valores ou administrá-lo como aplicação financeira no fito de uma escalada de valores de activo? E a valorização do activo exige victórias a todo o custo e a criação de ídolos para efeitos de remessas de vendas de subprodutos. O poder económico de cada empresa futebolística estabelece hierarquias entre elas e as mais poderosas estabelecem as hierarquias das organizações dirigentes a todos os níveis, dado que os mecanismos de escolha são previstos exactamente para a produção e reprodução dessas relações hierárquicas.
O futebolismo vê-se nas conversas telefónicas que originaram o apito dourado e viu-se há dias, na sua vertente violenta, nas declarações do guarda redes belga. Mas os sinais são muito antigos; no manobrismo inglês contra a nossa selecção para ser campeão mundial nos anos 60, no uso de droga cujo paradigma é o senhor Maradona a quem deveriam ser retirados, por batotice, todos os títulos tal como se faz nos jogos olímpicos, no senhor Couto que cuspia na cara do adversário e depois atirava-se ao chão simulando ter sido agredido, nos senhores jornalistas e comentadores que desculpavam tal comportamento dizendo que o jogador estava fazendo o seu papel e culpado era o árbitro que não via, nas declarações do senhor Pacheco que questionado sobre a táctica a adoptar dizia que a equipa ia jogar de mangas arregaçadas(pugilismo) pitons altos(pisadelas) e caneleiras altas(caneladas), e foi campeão nacional com tal estratégia sob a complacência evidente do apitador. E tudo isto é pensado e montado como estratégia para ser usada no decurso da refrega tal como o fizeram os acima citados mas tambem como fizeram o pincel sujo italiano ao fazer expulsar o artista Zidane no último campeonato do mundo, e como agora queria fazer o guarda redes belga que, para salvação da contenda, não se conteve e soltou a língua sobre a táctica pré-definida.
Parece que já há gente a perceber que o futebolismo pode matar completamente o futebol e o empresarialismo(Sadismo) puro e duro, o jogo. Platini, novo presidente da UEFA, está nessa linha ao admitir que: «não queremos pessoas no futebol só com objectivos mercantilistas». Para a outra face do jogo olha o comentador Luis Freitas Lobo: «depois de sair da bota mágica de Quaresma, o instrumento de arte ou ciência voa em direcção ao fundo da baliza»
Entre arte e futebolismo o que interessa é que a magia do jogo não esteja apenas na bota mas sobretudo brote limpa do pensamento inteligente.
O desporto em si é um belo ideal, praticado por si é um bom exercício físico, executado com perfeição de movimentos é uma estética, dominado com superior destreza é um gozo, usado para o bem de corpo e mente é uma lição, interpretado como uma disputa leal entre rivais pelo louro da victória é a paz, servido pela inteligência para atingir beleza pode ser uma arte, contemplado como arte em movimento é uma festa. Provávelmente só os gregos estiveram próximos de reunir todas estas qualidades como resultado da interpretação das suas concepções filosóficas. Neste caso, os jogos, eram uma verdadeira escola de formação dirigida aos valores nobres do heroísmo pacífico ao serviço da cidade.
Os romanos que culturalmente copiaram tudo dos gregos, no que diz respeito aos jogos, abastardaram completamente o carácter da concepção grega de jogo como p(ro)arte da formação integral do bom cidadão. Deste modo recrearam e refinaram um costume bárbaro antigo das lutas guerreiras cruéis de algum dos povos primitivos que deram origem a Roma. Criado e estabilizado o imenso império, a disputa pelo grandioso poder de tanta riqueza entre as grandes famílias, levou a uma permanente guerra civil em que cada facção no poder usava e abusava do mais rudimentar populismo para obter o apoio da populaça. O punhal de Brutus quiz repôr a antiga nobreza de princípios e da lei tal como o seu antepassado o fizera para implantar a républica dos patrícios dirigida pelos cônsules. Afinal acabou por acelerar a implantação definitiva dum poder divinizado sob a forma do césarismo. Endeusado este poder, sem ideais nobres por que lutar, dedicou-se à devassidão de palácio, à subversão dos antigos costumes, à degradação extrema da moral pública, à utilização de jogos de matança como arma político-religiosa, ao espectáculo de carnificina para manter a plebe entretida, à delapidação da riqueza usurpada aos povos submetidos. E o império definhou entre césares loucos e povo pedindo pão e circo.
Como herdeiros directos destas culturas clássicas, os nossos jogos oscilam entre o ideal grego e o espectáculo romano. Organizamos o nosso desporto segundo os argumentos nobres da formação dos jovens para serem atletas e homens exemplares mas entregamos a sua organização a instituiçoes autónomas que fácilmente adoptam e enveredam pelo puro césarismo desportivo.
Sobretudo quando o jogo se populariza, arrasta apaixonadamente multidões e envolve um manancial de avultadas riquezas, torna-se altamente apetecível a superintendência deste desporto, ao poder político para efeitos de manipulação política usando-o como escape social, aos pequenos terratenentes das organizações desportivas como os primeiros na fila para a corrida à maior fatia possível das riquezas provenientes. Daí a promiscuidade de círculos que se movem com intimidade entre a política e o desporto de "massa", sob a conivência do Estado.
O futebol desenvolveu-se acompanhando, intimamente interligado, com a face aparente da massificação democrática da liberdade. Os enormes estádios cheios de gente gritando, aplaudindo, vaiando, gesticulando acordos ou desacordos, travestindo-se de roupas, adereços e pinturas de sua criação e gosto, despejando raivas da vida em plena multidão ao ar livre preenche a necessidade libertária de sua natureza. Naquela situação o homem maltratado pela sociedade solta-se dos constrangimentos à sua liberdade natural impostos pelas leis, costumes, moral, trabalho duro penoso e obrigatório contra-vontade e sente em si uma importância que lhe é negada no dia a dia. Os Estados Maiores da organização política e desportiva, conhecendo e tendo em conta a função importante do jogo como aparência de liberdade, promovem-no e orientam-no nesse sentido. Até o termo desporto-rei, recria subconscientemente, a ideia de uma mensagem de devolução do reinado ao povo dos adeptos enquanto multidão observando e julgando o jogo que decorre a seus pés. Deste modo, de evolução em evolução, de amadorismo a profissionalismo, o futebol sempre orientado e submetido aos conceitos de jogo de proveitos políticos e mercantis, chegou-se à actual modernidade do futebolismo.
O futebolismo atingiu a sua expressão acabada com a transformação dos clubes, da Liga, agentes de jogadores, brevemente árbitros, etc., em entidades empresariais. É por ventura o objectivo duma empresa promover o desporto como escola de valores ou administrá-lo como aplicação financeira no fito de uma escalada de valores de activo? E a valorização do activo exige victórias a todo o custo e a criação de ídolos para efeitos de remessas de vendas de subprodutos. O poder económico de cada empresa futebolística estabelece hierarquias entre elas e as mais poderosas estabelecem as hierarquias das organizações dirigentes a todos os níveis, dado que os mecanismos de escolha são previstos exactamente para a produção e reprodução dessas relações hierárquicas.
O futebolismo vê-se nas conversas telefónicas que originaram o apito dourado e viu-se há dias, na sua vertente violenta, nas declarações do guarda redes belga. Mas os sinais são muito antigos; no manobrismo inglês contra a nossa selecção para ser campeão mundial nos anos 60, no uso de droga cujo paradigma é o senhor Maradona a quem deveriam ser retirados, por batotice, todos os títulos tal como se faz nos jogos olímpicos, no senhor Couto que cuspia na cara do adversário e depois atirava-se ao chão simulando ter sido agredido, nos senhores jornalistas e comentadores que desculpavam tal comportamento dizendo que o jogador estava fazendo o seu papel e culpado era o árbitro que não via, nas declarações do senhor Pacheco que questionado sobre a táctica a adoptar dizia que a equipa ia jogar de mangas arregaçadas(pugilismo) pitons altos(pisadelas) e caneleiras altas(caneladas), e foi campeão nacional com tal estratégia sob a complacência evidente do apitador. E tudo isto é pensado e montado como estratégia para ser usada no decurso da refrega tal como o fizeram os acima citados mas tambem como fizeram o pincel sujo italiano ao fazer expulsar o artista Zidane no último campeonato do mundo, e como agora queria fazer o guarda redes belga que, para salvação da contenda, não se conteve e soltou a língua sobre a táctica pré-definida.
Parece que já há gente a perceber que o futebolismo pode matar completamente o futebol e o empresarialismo(Sadismo) puro e duro, o jogo. Platini, novo presidente da UEFA, está nessa linha ao admitir que: «não queremos pessoas no futebol só com objectivos mercantilistas». Para a outra face do jogo olha o comentador Luis Freitas Lobo: «depois de sair da bota mágica de Quaresma, o instrumento de arte ou ciência voa em direcção ao fundo da baliza»
Entre arte e futebolismo o que interessa é que a magia do jogo não esteja apenas na bota mas sobretudo brote limpa do pensamento inteligente.
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