segunda-feira, abril 30, 2007

NOTÍCIAS DO PAU II

1º DE MAIO

No jornal do pau o pessoal comentava o Dia de Maio de amanhã e fazia comparações entre hoje e antigamente.
Os artigos deste jornal oral produzido por uma redacção toda sentada junta sobre o pau, também de apanhar sol além da cavaqueira sobre a actualidade e memórias de trabalho duro e emigração a salto ou carta de chamada, comentavam hoje acerca do Dia de Maio e como se tinha perdido a tradição de festejar o Maio. Os mais velhos contaram como era: O dia começava de manhã cedo com os vizinhos, em jejum, indo a casa uns dos outros para "atacar o Maio". O ataque era efectuado com figos secos, bolos e aguardente de medronho que não se podia recusar. Toda a gente oferecia bolos e aguardente a toda a gente de modo que quando acabava o ataque já havia alegria e cantares na rua.
Após este ataque matinal em jejum, tinha de ser em jejum senão não tinha valia, homens, mulheres, moços e moças, preparavam os almoços da melhor merenda para ir comer para o campo, normalmente junto de algum moinho de vento no alto dum cerro e à sombra de árvores frondosas como pinheiros ou alfarrobeiras. Nesses locais compareciam acordeonistas com o "foles" e após tudo bem comido e bebido soltava-se a alegria do bailarico no terreiro entre pares de namoricos, solteiros e casados, pais mães e avós. Os pequeninos também lá estavam para brincar e vibrar entusiasmados com a alegria reinante de que gostavam imenso e os fazia sentir a vontade de querer perpectuar a tradição.
Contudo, a emigração e a mudança da estrutura familiar baseada no cultivo da terra e apanha dos frutos secos, para uma família baseado no trabalho na construção e no turismo, criou hábitos individualistas com preocupações culturais mais urbanos e a tradição foi perdendo-se gradualmente. Mas a lembrança desse tempo ainda vive e em Bordeira, nos últimos anos, um pouco á semelhança dessas festas do Maio, recriou-se um arraial popular no campo com borrego assado, bebidas e acordeonistas que recordam muito a genuina tradição. A festa rija antiga do Maio era uma recompensa dum ano duro de trabalho, hoje em dia as condições e ritmo de trabalho mudaram e a festa também.


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