sexta-feira, dezembro 28, 2007

ANO NOVO


ESPERANÇAS

Se o Natal é uma troca de prendas miúdas e de palavras de circunstância, o Ano Novo surge, anualmente, como a prenda sempre ressuscitada sob a forma de um cabaz de esperanças. Os governantes do mundo contam histórias de sucesso e futuros risonhos que nos enchem a alma de esperanças. Os bem instalados transmitem-nos pelos média dados e estatísticas que provam que o novo ano vai ser bem melhor e enchem-nos a cabeça de esperanças. Os vizinhos e conhecidos dezejam-nos grossas prosperidades e enchem-nos o corpo de esperanças. Os amigos afiançam estar sempre ao nosso lado para o que der e vier e transmitem-nos amizade imorredoira que nos enchem o coração de esperanças. Os familiares que estão próximos fazem connosco projectos em comum que são estímulos à esperança de boa vida. Depois a vida vem, o tempo passa, não damos por nada além de mais um período de envelhecimento que veio e um período de esperanças que se foram minguando até caberem num sopro.
Contudo, quando se olha para trás, vimos que a vida mudou substancialmente e o mundo da nossa juventude já só existe na memória de, "no meu tempo". O nosso tempo é curto, limitado e uniforme e a imaginação racional é ilimitada de formas e conteúdos. Pelo imperativo moral gostaríamos de comandar o mundo sob o impulso do bem mas a nossa condição de bicho da natureza impõe-nos uma sujeição corporal às forças naturais. Somos inescapáveis tal qual todos os seres vivos. Bem vimos no tsunami da Indonésia como gordos e ricos turistas que se julgavam poderosos senhores a desfrutar a doce vida, boiando desesperadamente à procura de uma tábua de salvação, tão pequenos e impotentes como os pobres criados locais, perante a revolta da natureza.
Pensamos que podemos moldar o mundo e as pessoas segundo o nosso entendimento de bem e que o devemos fazer a todo o custo enquanto estamos activos. Alguns já o tentaram mas passados anos tudo regressa ao andamento a compasso com a mãe-natureza, pela força impositiva da sobrevivência e renovação dentro do tempo. Tudo o que é cometido fora de tempo e sai fora do tempo acaba por ser engolido, circunscrito e obrigado a colocar-se nos carris da história.
À semelhança do conceito grego apolíneo de que o homem é a medida de todas as coisas, o homem técnico moderno pensa que a sua vida é a medida da história. O homem moral acha que durante o seu período de vida a história deve atingir a meta da felicidade universal sobre a terra e deste modo terminaria a história da barbárie humana e regressávamos ao paraíso da idade de ouro. Este mito é a mãe de todas as esperanças e tão forte que já houve quem filosoficamente propusesse o fim da história com a criação dum paraíso social terreno. Todas as experiências têm levado a inomináveis tragédias, contudo a esperança sobrevive e alimenta sempre a vontade e tentação de conseguir realizar o pensamento.
Lembremo-nos que na caixa de Pandora só constavam males e esperança, os males soltaram-se e foram à vida para maltratar a nossa e a esperança ficou presa entalada a espernear impedida de realizar a sua missão.