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GORJÕES ANTIGO, OS BAILES
Segundo o Tio Cascalheira, que já conta 86 anos e que em rapaz corria os bailes todos das redondezas porque era bom dançarino e namoradeiro, houve aqui no nosso lugar muitas casas "que traziam balho" no seu tempo, princípios dos anos 30 do século passado.
Era já rapazote, entre 12-15 anos, e diz que o primeiro baile de que se lembra e frequentou foi o do "Tio João Apolo Cigano no armazém da Isabelinha", hoje chamado "armazem do Zé Caiado", no desvio para a Goldra de Cima, e que era propriedade de António de Jesus.
Depois começou a frequentar o baile no armazém do meu tio João Pinto, mais tarde do meu tio Adelino Pinto após a morte do irmão, aqui no cruzamento do lugar do Alto, corria o ano de 1935-36. Nesta altura, também trazia baile o "Dólas" (Joaquim de Jesus) no seu armazém novo no lugar do Poço Arranhado. Nos finais da década de 30 traziam baile o Tio Sebastião, no lugar de Santa Catarina, e o seu genro Tio António Veneranda aqui próximo do Alto. Lembra-se o Tio Cascalheira que ainda foi ao baile no armazém do Zé Bento, no desvio para a Goldra de Baixo e Loulé, e que quem trazia o baile era o Tio Manel Sobrado e Xico Pedro "o Bravo", grandes ases do "jogo do teso".
No princípio dos anos 40, juntaram-se aqui no lugar do Alto, que já se tornara a centralidade do sítio, alguns Mestres pedreiros, ferreiros, capatazes de estradas, barbeiros, carpinteiros, proprietários de sequeiro, acordeonistas, etc., que tinham em comum ter frequentado a escola e sabiam ler e escrever escorreitamente, alguns com a 4ª classe de 6 anos tirada na 1ª república, outros tinham estado em França para combater nas trincheiras da Flandres em La Lys, os quais pertenciam não só a uma nova geração como a uma geração de novos conhecimentos, novos costumes e modernidades. Estes homens juntaram muito tempo e esforços a reunir e organizar todos papéis necessários para requerer oficialmente e abrir legalmente uma Sociedade Recreativa Gorjonense em 1943, em plena 2ª guerra mundial.
Com a abertura pública, a sócios e não sócios, da SRG terminaram os bailes à moda antiga, em armazéns sem regras, onde se ia "balhar", "beber à homem" e no final jogar ao "jogo do teso" para acabar tudo à bordoada depois de mandarem as mulheres e as moças para casa. Foi um grande passo civilizacional e social para o sítio, embora tenham ficado para trás os bailes de roda e bailes mandados primeiro e os bailes de concertina depois. Nascera os bailes abrilhantados por famosos acordeonistas locais, onde todos deviam apresentar-se e comportar-se com "preceito", não era permitida a entrada a bebados, cuspir no chão ou ter o chapéu na cabeça na sala de baile. As moças começaram a fazer permanentes, os moços a fazer ondas e usar brilhantina e eram motivo de chacota se vestiam peúgas ou sapatos rotos. Os pares podiam dançar mais apertados e as pernas peludas das moças deixaram de ser sexualmente atractivas.
Hoje o Grupo Folclórico e Etnográfico Gorjonense ao representar os bailes de roda e mandados de antigamente, dá-nos uma idéia acéptica dessas danças, jamais lhes restituirá o seu ambiente próprio à luz do petróleo, ao cheiro do vinho e aguardente e do suor dos corpos sujos de terra.
Era já rapazote, entre 12-15 anos, e diz que o primeiro baile de que se lembra e frequentou foi o do "Tio João Apolo Cigano no armazém da Isabelinha", hoje chamado "armazem do Zé Caiado", no desvio para a Goldra de Cima, e que era propriedade de António de Jesus.
Depois começou a frequentar o baile no armazém do meu tio João Pinto, mais tarde do meu tio Adelino Pinto após a morte do irmão, aqui no cruzamento do lugar do Alto, corria o ano de 1935-36. Nesta altura, também trazia baile o "Dólas" (Joaquim de Jesus) no seu armazém novo no lugar do Poço Arranhado. Nos finais da década de 30 traziam baile o Tio Sebastião, no lugar de Santa Catarina, e o seu genro Tio António Veneranda aqui próximo do Alto. Lembra-se o Tio Cascalheira que ainda foi ao baile no armazém do Zé Bento, no desvio para a Goldra de Baixo e Loulé, e que quem trazia o baile era o Tio Manel Sobrado e Xico Pedro "o Bravo", grandes ases do "jogo do teso".
No princípio dos anos 40, juntaram-se aqui no lugar do Alto, que já se tornara a centralidade do sítio, alguns Mestres pedreiros, ferreiros, capatazes de estradas, barbeiros, carpinteiros, proprietários de sequeiro, acordeonistas, etc., que tinham em comum ter frequentado a escola e sabiam ler e escrever escorreitamente, alguns com a 4ª classe de 6 anos tirada na 1ª república, outros tinham estado em França para combater nas trincheiras da Flandres em La Lys, os quais pertenciam não só a uma nova geração como a uma geração de novos conhecimentos, novos costumes e modernidades. Estes homens juntaram muito tempo e esforços a reunir e organizar todos papéis necessários para requerer oficialmente e abrir legalmente uma Sociedade Recreativa Gorjonense em 1943, em plena 2ª guerra mundial.
Com a abertura pública, a sócios e não sócios, da SRG terminaram os bailes à moda antiga, em armazéns sem regras, onde se ia "balhar", "beber à homem" e no final jogar ao "jogo do teso" para acabar tudo à bordoada depois de mandarem as mulheres e as moças para casa. Foi um grande passo civilizacional e social para o sítio, embora tenham ficado para trás os bailes de roda e bailes mandados primeiro e os bailes de concertina depois. Nascera os bailes abrilhantados por famosos acordeonistas locais, onde todos deviam apresentar-se e comportar-se com "preceito", não era permitida a entrada a bebados, cuspir no chão ou ter o chapéu na cabeça na sala de baile. As moças começaram a fazer permanentes, os moços a fazer ondas e usar brilhantina e eram motivo de chacota se vestiam peúgas ou sapatos rotos. Os pares podiam dançar mais apertados e as pernas peludas das moças deixaram de ser sexualmente atractivas.
Hoje o Grupo Folclórico e Etnográfico Gorjonense ao representar os bailes de roda e mandados de antigamente, dá-nos uma idéia acéptica dessas danças, jamais lhes restituirá o seu ambiente próprio à luz do petróleo, ao cheiro do vinho e aguardente e do suor dos corpos sujos de terra.
Etiquetas: jornal do pau
2 Comments:
PORTO, 2007.12.13
Caro amigo,
Bom dia. Como sabes o teu apcgorjeios é um dos meus favorios. A história que contas hoje encanta-me e fascina-me, não só pelo rigor da escrita mas também pela beleza do conteúdo.
E de tal maneira é assim que esse texto tem de correr mundo e com ess eobjectivo peço-te licença para o colocar no meu espaço e propagande-á-lo.
E vou igualmente pedir-te que autorizes a colcocação do texto no FAROANOS60 onde queria que desses também a tua mãozinha, escrevendo para lá um poema de vez em quando.
Valé!...
Duas notas
1) Será "jogo do teso" ou "baile do Teso". Há aí além de 80 e tais anos que explique como era isto, como se jogava?...
2) na primeira república a quartat classe era de seis anos?
E como não há duas sem três, aí vai a
3ª - Quando é há baile no TI JOÃO APOLO? Lá estarei e no fim ... baile do teso...
Um grande abraço de parabéns e continua... com o tal rigor.
Um abraço do
João Brito Sousa.
Contaram-me em tempos os meus falecidos avós, que frequentaram possivelmente todos esses balhos, que anteriormente a esses balhos haviam espalhados pela zona muitos bordéis mais ou menos secretos...Segundo me contaram havia no Cerro, por baixo dos moinhos da Fonte da Murta, onde actualmente está a ser edificada uma grande construção, um muito famoso conhecido como o bordel da Brita....Seria verdade????
Um abraço
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