quarta-feira, dezembro 12, 2007

AS GUERRAS DE JOAQUIM FURTADO VIII


8º EPISÓDIO

Mais ou menos explicadas as causas e motivações que conduziram os movimentos independentistas à guerra em Angola e Guiné por um lado, e o respectivo desenvolvimento no teatro de operações e consequentes jogos políticos de Lisboa e sua diplomacia, por outro lado, a narrativa fílmica de JF neste episódio dedica-se a mostrar-nos o interior dos movimentos de libertação e suas relações internas e externas. Depois da total reocupação do norte de Angola pelas tropas portuguesas entrara-se numa fase de ocupação pela tropa organizada e instalada de forma a cobrir em quadrícula toda a chamada Zona de Intervenção Norte(ZIN) que incluia o Caxito onde estava o comando operacinal da zona e Luanda onde estavam sediados os Altos Comandos. Agora a função prioritária era de limpeza das áreas sob controle de cada unidade militar, protecção às grandes fazendas, protecção à Engenharia que limpava e alargava picadas e refazia pontes, vigilância de fronteiras e iniciara-se as operações de assistência médica e acção psicológica junto das populações nativas.
Os movimentos independentistas estavam em dificuldade e tiveram de repensar estratégias, discutir internamente os aliados políticos, definir-se ideológicamente. A necessidade de escolher ideológicamente os aliados levou a lutas internas, no MPLA entre maoistas e soviéticos, no PAIGC entre os países vizinhos, na UPA entre mais negritude tribalista e menos. Neste episódio é-nos mostrado muito ao de leve essas lutas pela obtenção da hegemonia, afastamento e destino das partes vencidas no interior dos movimentos nacionalistas.
Por alguns depoimentos ficámos a saber que houve escaramuças entre os movimentos MPLA e UPA no Norte onde esta última dominava fortemente desde o brutal massacre de 15 de Março de 1961. Igualmente ficámos a saber que dentro do MPLA, movimento de maior preponderância intelectual e pendor mais interracista, houve sérios problemas com utilização de meios humanos não puramente negros.
Nas lutas pela definição ideológica interna dos movimentos fica claro que essa definição passava pelo alinhamento ou não com as duas visões do mundo da altura, a pró-ocidental e a pró-soviética. A luta pela independência das colónias tornava-se uma trincheira quente da luta fria mais universal. E vê-se como Cunhal, muito afastado do mato, já se intrometia na contenda a favor da sua querida União Soviética, enquanto Salazar, julgando estar a ganhar a guerra, organizava gigantesca manifestação de apoio no Terreiro do Paço. Contudo, ao mesmo tempo, os nacionalistas já dispunham de armamento igual ou superio ao nosso para mal dos nossos soldados.

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