quarta-feira, novembro 28, 2007

A S GUERRAS DE JOAQUIM FURTADO VI


6º EPISÓDIO

Está à vista a estratégia utilizada por JF para a apresentação da nossa guerra colonial, projectada cinematográficamente segundo um ponto de vista jornalístico. Após agarrar o espectador com episódios do início do conflito com imagens fortes da guerra, com alguns depoimentos apenas sobre o acontecimento narrado, sem grandes preocupações de enquadramento histórico, tem vindo, em pequenas doses e através de depoimentos dos próprios actores intervenientes no teatro de guerra, apropositadamente no tempo certo a dar as explicações sociais, económicas e políticas que levaram à deflagraçao da guerra nas datas em que aconteceram.
Este 6º episódio tratou, do início ao fim, da explicação por depoimentos e por factos filmados, das sujeições de trabalho, comerciais, políticas e religiosas a que estavam submetidos as várias classes sociais que coabitavam nas "províncias ultramarinas" na altura do fim dos anos 50. E foi nestes anos, então com algumas independências africanas já concretizadas, que tudo se decidiu. Ainda esperaram, os lideres independentistas, pelas eleições de Humberto Delgado na esperança de um governo português com quem pudesse dialogar, contudo a enorme e flagrante falsificação dos resultados gorou toda a hipótese de qulquer futuro entendimento possível.
Os brancos locais já sentiam o estrangulamento do condicionalismo nas culturas da terra, na comercialização dos produtos, na actividade industrial, etc., e não estavam contentes. O aparelho administrativo continuava seguindo e aplicando as velhas receitas ditadas de Lisboa por interesses colonialistas. A Igreja seguia a doutrina religiosa do Cerejeira aplicada à doutrina política e educativa de Salazar. Os nativos estavam sujeitos a várias baixas condições de trabalho e sobrevivência, ocupavam o lugar mais baixo da sociedade, eram criados de servir e pura força de trabalho obrigatório explorado também comercialmente, sem direitos nem ptotecção física ou social.
Neste cadinho social explosivo, deram-se as primeiras revoltas dos indígenas ainda de forma desorganizada, como nos contam os depoimentos deste episódio. Os trabalhdores da casa Gouveia na Guiné, os Macondes em Moçambique, e os padres das Missões protestantes em Angola educam para a insubmissão. Estes movimentos de revolta desobediente são fortemente reprimidos por forças militares de ocupação e deste modo criaram-se os mártires e os exemplos de brutalidade colonialista, necessários aos lideres nacionalistas, para explorar e desenvolver o seu recrutamento para as futuras acções militares de guerrilha.
E passado pouco tempo os movimentos nacionalistas indígenas lançaram-se na sua guerra pela independência e pasmemo-nos, com tanto indício de revolta iminente a nossa pide e governo foram apanhados de surpresa quando a guerra rebentou selvaticamente.
Dos episódios já vistos podemos concluir que, pelo menos duas oportunidades de resolução pacífica da grande questão do ultramar foram torpediadas pelas forças políticas colonialistas interesseiras de Lisboa; a fraude eleitoral da eleição de Humberto Delgado pela qual os nacionalistas alimentaram esperanças, e a outra já relatada de que o presidente Kenedy prometeu ajuda e deu um prazo de dez anos a Salazar para preparar as independêncis. Como não há dus sem três também as esperanças na hipótese Marcelo Caetano não venceu a posição colonialista e tudo se foi inglóriamente.

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