terça-feira, fevereiro 26, 2008

MARAFAÇÕES XLVI


FINGIR A DÔR ALHEIA É UM REACCIONARISMO


NÃO FOI ESTE O PAÍS QUE ME PROMETERAM

(Baptista Bastos)

Uma tal frase conclusiva remete para um antecedente objectivado sobre um pressuposto, um subentendimento de promessas acordadas anteriormente. É como o remate de um silogismo, de que se conhecem subentendidamente as premissas da qual tal frase é a conclusão. O truque está, como é habitual, nos rebuscados e experientes fingidores de dôres alheias, de proclamar conclusões definitivas sobre a realidade a partir duma sua criação mental. De sua imaginação criam o "seu país" inventado a preceito dos seus desejos transpostos para desejos e interesses dos cidadãos. Criado em sua cabeça pelo pensamento um país ideal, para si passa a ter existência real e sendo de sua criação, necessária e obrigatóriamente é o país perfeito devido e prometido ao povo e para o povo social. É uma extracção e conversão do mental ao real, uma metamorfose divina do pensamento em país paraíso prometido. É uma simplificação do velho trocadilho de palavras ao estilo do "Argumento Ontológico" que Santo Anselmo desenvolveu no seu "Proslogion" para demosntrar a existência de Deus. Aqui, ainda mais subtilizado dado que não necessita de enunciar as permissas, ficando estas à imaginação de cada um o que lhe dá ares de maior universalidade.

A verdade é que ninguém lúcido de juizo promete, ou jamais prometeu, ou pode prometer um país a alguém, pronto e feito à medida de milhões de humanos. Basta pensar que o próprio Deus, que é Deus omnipotente, para católicos do verbo fez o mundo e para os judeus criou a terra prometida, contudo na realidade o que existe é esta grande confusão em que vivemos todos, tão longe de paraísos ou perfeições divinas. Nas suas permanentes cogitações para a escrita diária, os pensadores à força pagos à peça, procuram sintetizar em curtas frases a expressão do sentimento dos leitores fregueses descontentes, desgraçados, coitadinhos, de que se auto-constituem líderes defensores através da palavra e escrita carregada de fingimento moral pela dôr alheia.

Mas, decodificado analiticamente esse palavreado de fingída moral piedosa, subjaz um verdadeiro reaccionarismo. A actitude de tais sujeitos é totalmente passiva, eles não lutam, nem têm de lutar, não sujam as mãos na lama da actividade política ou social para obter o tal país perfeito auto-imaginado intelectualmente. Eles que têm esse país maravilha na cabeça não se dão ao trabalho mínimo de descrever e dar a receita de como obter esse imaculado país que só eles conhecem. Eles que, com tal palavreado, dão a entender que a riqueza, a qualidade e felicidade do país e do seu povo se pode obter de repente por magia do poder outorgado ao governante, e não da vontade e trabalho organizado longo e duro de todos, perante a comunidade a sua actitude é a do herdeiro de pai rico. Eles esperam que alguém, outrem, lhes ofereça de bandeja o tal país rico pronto a desfrutar. A eles, tal qual os filhos família, não lhes compete participar nos duros trabalhos da conquista da riqueza familiar, a eles só compete compartilhar e exigir ter à sua disposição a riqueza obtida pelo esforço de terceiros. Como aqueles filhos que respondem aos pais: puseram-me no mundo, os culpados disso são vocês, logo têm de me garantir o meu bem estar. Assim são tais moralistas fingidores de dôres alheias. Eles exigem dos outros, à borla, o país que falaciosamente insinuam que lhes prometeram.
Estes fingidores de dôres alheias pululam, auto-convencidos saltitantes e sorridentes, por tudo o que é jornais, rádios, televisão, associações de toda a espécie, fóruns de tudo e acerca de tudo, comentadores e opinadores de tudo o que existe e não existe, do ser e do não-ser. É preciso saber ler a sua fala ou escrita do outro lado das palavras bonitas, para não nos deixar-mos apanhar na teia de baba que tecem perseverantemente.

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2 Comments:

Blogger João Brito Sousa said...

PORTO, 2008.02.26

MEU CARO ADOLFO,

PROMETESTE E ESCREVESTE.
DENTRO DE UMA DETERMINADA LÓGICA O TEU RACIOCÍNIO ESTÁ CORRECTO.

MAS O MEU RACIOCÍNIO NÃO VAI POR ESSE LADO.

VOU COMENTAR O TEU TEXTO QUE TEM HONRA, MAS NÃO TEM O MEU AVAL. IREI DIZER OPORTUNAMENTE O QUE PENSO SOBRE O ASSUNTO.

ATÉ LÁ,ACEITA UMA ABRAÇO DO

JOÃO BRITO SOUSA

4:13 da tarde  
Blogger João Brito de Sousa said...

O MEU PONTO DE VISTA
O Adolfo Contreiras deu a sua opinião sobre o pretenso significado da frase acima.
Não gostei do texto.
Ao escrevê-lo, o ADOLFO, trouxe a análise da frase para o seu campo, ou seja, para o seu entendimento. . Ora, o que se pretende aqui, é saber o que é que o autor na origem quis dizer ao escrevê-la,. e não o que entendemos nós acerca dela.
Sabe-se que BB é um homem de esquerda e como tal deverá ser sob essa a luz que a frase foi certamente proferida. Não há outra hipótese de saber o que é que a frase quer dizer.
Assim, diremos que a frase é, perfeitamente pertinente, justa e lógica.
É que o processo político passa por eleições e estas, como registo de manifestações de vontade que são, passam por uma ou outra promessa surgida em campanha, que, nem sempre é cumprida.
E é aqui que está o cerne da questão. A incoerência dos políticos que em certas vezes prometem isto e mais aquilo, com o objectivo de serem eleitos, leva-os a excesso de “embalagem” que depois não é cumprido nada fazem ou, pelo menos não fazem aquilo que prometeram..
Mas este comportamento é vulgar como vulgar é a reivindicação para que o prometido seja cumprido. Não se trata, como diz o ADOLFO, de promessas acordadas anteriormente.(linha dois). E também não se trata de silogismo de que se conhecem subentendidamente as premissas da qual a frase é a conclusão.
Não há premissas há promessas... não cumpridas.
Muito menos há truque... (não é justo utilizar esta expressão)
Daqui para a frente, são utilizados termos... quase diria, ofensivos, pelo qual aqui me fico.
João Brito Sousa

1:07 da manhã  

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