terça-feira, março 04, 2008

A GUERRA DOS PROFESSORES

1. OS PROFESSORES REVOLTADOS
Foi visível na televisão o estilo dos "professores revoltados". Fardados ao jeito de claques de futebol (mentalidade de pessoal do futebolismo), ou ao jeito de clube de fans de artistas pimba (mentalidade pimba), os ditos professores ainda revelavam, ao nível do traje, outra imagem eloquente de sua hierarquia de grupo: O chefe, homem, (dono da palavra) vestia de camisola branca com legendas pretas e os adeptos (só ou quase mulhreres?) vestiam camisolas pretas com legendas a branco o que deixa entender que naquela quinta, tal como no "Triunfo dos Porcos" de Orwell, embora todos iguais uns são mais iguais do que outros.
A fala do chefe quiz deixar duas mensagem pré-fabricadas que gaguejou assim: a) um director quiz obrigá-lo a passar alunos com reprovação por causa das estatísticas; b) a reforma em curso é apenas um jogo de estatísticas que a ministra quer manipular.

2. O DIRECTOR DITADOR
Instado a dizer o nome do director ditador que lhe quiz impôr a passagem de alunos por força da estatística para se averiguar tal criatura, ficou calado. Até hoje, passados oito dias, na televisão, rádio, jornais, blogs ou outro meio escrito qualquer, ouvimos, vimos ou foi dado a conhecer quem foi esse director mandão.
Acusou a ministra de mentirosa mas ao que tudo indica a mentira estava do outro lado, o seu.

PS: tinha terminado esta observação e fui ver o "prós e contras" de hoje quando foi dada a informação que o dito professor revoltado já tinha confessado a mentira da acusação. Só confirma o que já tinha dito num comentário a um blog: aquela gente não presta como professores-educadores.

3. AS ESTATÍSTICAS
Este argumento repetido e repetido em modo e contornos de estilo depreciativo é a maior mistificação deste debate sobre a reforma da educação. Faz-se crer que o objectivo da reforma é melhorar as estatísticas só por si, que se prtende tão somente atingir um resultado estatístico à custa de um qualquer fraudulento ensino. É evidente que tal nunca pode acontecer porque isso só seria possível com a conivência dos professores, com a sua colaboração num processo de facilitismo do passar por passar sem mais. Ora tal caso, por ser tão terrivelmente violentador da consciência e honestidade da maioria dos professores jamais a classe aceitaria enveredar por tal caminho.
Mas a dose maior de mistificação está em depreciar o valor das estatísticas no caso do ensino. Na economia, no PIB, no desemprego, no rendimento mínimo, no rendimento médio, no rendimento per capita, na inflação, nas esperas da saúde, no custo de vida, na mortalidade infantil, em todas as comparações com os restantes países da UE se exige que Portugal tenha boas estatísticas e esteja "à frente" mas parece que na educação tentar obter boas estatísticas é tão só uma artimanha dos malandros dos ministros. Se se trata de escolaridade obrigatória porque razão não se há-de lutar para que todos a consigam alcançar? Esse deve ser mesmo uma obrigação da escola e tão fundamental como as demais. O desenvolvimento intelectual dum adolescente não se processa no tempo igualmente para todos. Alunos liceais muito bons foram maus estudantes universitários e vice versa. Eu próprio senti e vivi o tratamento de 2ª e abandono, face aos alunos da cidade já familiarizados com leituras e livros, dos alunos apelidados "montanheiros" oriundos das classes rurais que falavam, pensavam e agiam à maneira do campo e desconheciam livros, cinema, teatro, jornais, desenho, arte, etc., e como tal partiam da meta já com atraso ao qual se juntava o menosprezo dos professores. Einstein é o exemplo universal típico mais conhecido mas eu conheci, e certamente quase todos conhecem alguns, que sossobraram na universidade ou na vida prática após serem alunos brilhantes na adolescência, e o contrário.
É, portanto, preciso não abandonar à rua os adolescentes que numa fase crítica do seu desenvolvimento ainda não descirnem convenientemente as suas aptidões, suas capacidades intelectuais, inclinações e interesses próprios. Todos deverão ter uma base de partida, e se todos conseguirem chegar a doutores tanto melhor, depois na vida real prevalecerão as faculdades intrínsecas e qualidades de adaptação e formação contínua de cada um.
A conciliação de programas e vontadades para atingir este objectivo faria que as estatísticas melhorassem substantivamente e cairia por terra o sentido depreciativo, que no caso da educação, se pretende colar aos ministros insinuando que todos são mal intencionados.

4. UMA GUERRA PERDIDA
Dá uma impressão confrangedora ver professores em multidão pelas ruas acenando com lenços brancos, á maneira das claques futebolísticas, ou pela noite a desfilar empunhando velas, à maneira de procissão religiosa. Num caso querem despedir o treinador ainda antes de jogar e de conhecer os resultados, no outro já rezam e pedem pela alma do morto. Em qualquer dos casos já se despiram da sua individualidade para actuar em grupo encarreirado, já não pensam no que querem mas no que o grupo quer ver de si. A partir deste ponto a disponibilidade para se ser manipulado avivaça a vontade e o objectivo do manipulador que não a deixa cair em saco roto.
De qualquer das formas, podem os professores ganhar as batalhas todas que se seguem a breve trecho, que no final de todas as lutas perderão a guerra. A maioria do povo, com outras dificuldades muito mais comezinhas e terra a terra na sua vida diária, não compreenderá tal obstinação de uma classe que acha privilegiada do seu ponto de vista, e mesmo a grande maioria de outras classes mais desafogadas concluirão que não faz sentido que os professores não queiram experimentar um estudado tipo de avaliação que possa ser melhorado com a experiência no decurso da sua aplicação.
Mais tarde ou mais cedo, com este ou com outro ministro, com este ou com outro governo, o povo estará contra eles e a guerra será inevitavelmente perdida.

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