sexta-feira, agosto 29, 2008

GORJEIOS NEXENSES


A CIDADE E O CAMPO

Das reuniões camarárias que a CM FARO decidiu fazer rotativamente pelas Juntas de Freguesia do Concelho, coube ontem ser anfitriã a nossa Junta de Santa Bárbara de Nexe. A reunião contemplava um período de intervenção para os munícipes agendada para a abertura dos trabalhos após as protocolares boas vindas e agradecimentos, o que foi aproveitado por um pequeno número de moradores locais. E mais reduzido se tornou dado que alguns, sendo vizinhos colocaram o mesmo problema do mesmo caminho que serve as suas casas, uma forma inteligente de ampliar a preocupação social do problema.
Duas intervenções, uma de política geral acerca da cidade e outra acentuando a tónica na política de apoio social da edilidade aos mais pobres, deram a entender facilmente, pela extensão de assuntos falados e sobretudo pela forma e estilo da exposição, atirando para todos os lados e contradizendo-se, que são pessoas habituais neste tipo de reuniões. Isso ficou claramente identificado quando o Presidente nas respostas aos munícipes afirmou que as respostas a estes ficavam para outra ocasião dado que tais questões já haviam sido postas e certamente ainda iriam ser postas muitas mais vezes. São pessoas que, ou por boa vontade de ajudar ou por que se julgam políticos de olho vivo espoliados pelos partidos de um lugar político de relevo para que se julgam altamente capacitados, vão para as reuniões públicas de luta política partidária demonstrar a torto e a direito, orgulhosamente, os seus méritos atentos de provedores da causa pública e extremes defensores dos coitadinhos desprotegidos. São a versão portuguesa na política, dos habitués que enchem os treinos das equipas de futebol e nas/das bancadas ditam a táctica ao treinador.
Os munícipes locais levantaram o problema da má estrada municipal 520 e péssimo piso dela em todo o percurso entre o Patacão e os Gorjões e, inevitavelmente a questão das águas e esgotos em falta em metade da Freguesia com incidência nos Gorjões e à volta, o local inscrito como "fim do mundo" no bloco de notas de todas as passantes edilidades. A resposta para esta última questão vai ser posta, novamente, à prova da luta político-partidária em próxima reunião camarária onde a presidência porá à aprovação ou recusa o seu modelo de financiamento já uma vez proposto e vencido. Ficam, deste modo, os cidadãos moradores rurais afastados mental e quilometricamente da cidade, sujeitos aos humores da conjuntura politico-partidária do momento. Esperemos que seja um momento-luz.
Quanto à espécie de azinhaga em que se transformou a actual estrada municipal 520, foi dito pelo Presidente que está o projecto feito e vai ser posto a concurso a renovação/reconstrução do troço até Mata Lobos. Era mais que previsível, era inevitável face ao anúncio governamental da construção do novo Hospital Distrital no Parque das Cidades. Já aquando do Europeu 2004, com a construção do Estádio do Algarve, se alisou a buracaria e alindou com marcações o troço até à Falfosa dado que a 520 funcionava como estrada de reserva e de serviço à porta trazeira do novo estádio. Face ao tremendo falhanço que foi e continua sendo aquele formoso, largo, caro e custoso espaço apenas para uso futebolístico, até se tornaram excessivos os acessos à porta principal quanto mais os acessos das trazeiras, pelo que a pobre e mal-amada 520 foi novamente abandonada.
Tratando-se agora de uma infra-estrutura governamental da saúde com sucesso assegurado de corropio de utentes, familiares e empregados, tudo faz prever que desta vez, pelo menos até à Falfosa, a estrada será tida em consieração, creio eu. Como até à sede da freguesia são apenas 3000 passos e esta será procurada por muita gente do novo hospital, certamente os nexenses do centro serão também contemplados. Nós os gorjonenses vamos rezar para que se dê um importante achado arqueológico na cova do Estanco, assim, deste modo, a nossa importância coincidiria com a maneira como nos vêem a partir da cidade.
A questão da nossa principal estrada é a prova evidente de que, embora se encham bocas da palavra cidadania, esta não tem conteúdo no coração dos poderes políticos. Como se vê não são as famílias dos cidadãos existentes há séculos nesta terra que obrigam à contrução duma nova ou renovada estrada como merecem. Pelo contrário, são os futuros deslocados para esta zona por via do novo hospital, os tomados em consideração como factor decisivo para que uma boa estrada seja possível. Uma questão moral levanta esta posição dos detentores dos poderes, a saber, a sua mentalidade de embasbacamento subserviente face às perspectivas de brilhantes grandezas futuras em contraponto com o menosprezo indigno que dedicam aos seculares rurais que humilde e abdicadamente suportam todas as inconveniências impostas pela cidade e corajosamente evitam a total desertificação do interior.

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