terça-feira, outubro 28, 2008

O ELITISMO DE LFM

Do discurso crítico nortista que Luis Filipe Meneses há anos lançou sobre os "sulistas e elitistas", sobra actualmente apenas a questão dos elitismo. No "Público" de Domingo 26, LFM diz que o país "tem muito do seu futuro condicionado por esse pequeno grupo que vive das mordomias do poder e que define quem tem ou não qualidades para ser líder". Segundo o jornal, esse pequeno grupo seria uma "pseudo-elite" na qual coloca de fora "Sócrates que não pertence a essa classe".
A questão colocada é altamente pertinente e, pese embora a diarreia verbal diária de LFM enquanto líder do PSD que o desacreditou, olhando o caso Sócrates sob a barragem de fogo cerrado que sobre ele fizeram as elites doutorais, académicas, opinativas e escrevinhadoras, há matéria de sobra que dá que pensar e perceber o juizo proferido. A forma, o estilo e o tom depreciativo dos ataques ao PM pelo seu modesto canudo de "Engenheiro Técnico" em contraponto aos seus luzentes coroados canudos de "Engenheiro", "Doutor" ou "Professor", denotava um indisfarçável elitismo académico que é cultural no nosso país.
Não é por acaso que, no antigamente, se falava reverencialmente dos "Professores de Coimbra", como "dos Professores da Faculdade de Direito", que ainda hoje se fala do "eixo político da linha" com os seus profes, políticos, candidatos, ministeriáveis, alta finança, tudo misturado. Também Cavaco Silva teve enorme dificuldade em vencer essa barreira cultural de provinciano, que tais doutores da linha e outras linhas lhe atravessavam no caminho. Só o poder e o exercício do poder, o tal que pode distribuir as mordomias, acabou por impor a aceitação por tais elites. E mais, repartidas as mordomias, de tais elites vieram rápidamente, não só a submissa aceitação plena como o apoio elogioso e até a apologia ditirâmbica.
Repare-se que em Portugal os artigos de opinião, são quase invariavelmente, assinados por baixo pelo quase infalível; "Professor Universitário", ou nos debates de TV à primeira oportunidade lá escapa a frasezinha; "eu que sou Professor Universitário ...", ou; "eu que dou aulas na Universidade...". Igualmente no Parlamento não há ninguém que seja apenas ele: tem, sob pena de ser elitistamente menorizado, de ser ele mais o seu titulozinho académico. Nem que para isso tenha de ir à pressa tirar o canudo certo à Universidade certa como fez o nosso PM. E afinal ele governa com a ciência teórica das sebentas do canudo ou com o uso equilibrado do bom senso alicerçado no conhecimento adquirido pelo exercício da leitura e da acção prática?
Contudo, mau, muito mau para o país era se os portugueses deixassem, acrítica e carneiramente, que uma qualquer elite, mesmo sábia que seja, pudesse condicionar de forma determinativa quem devem ser os nossos líderes.

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