quarta-feira, outubro 22, 2008

EXTREMIDADES

A presente crise financeiro-económica trouxe à ribalta, novamente, a eterna discussão do que prevalece (vale mais) sobre a vida corrente das pessoas e dos povos: espírito ou matéria, corpo ou alma, existência ou consciência, a terra ou o céu, a mão invisível do Mercado ou a manápula-pilão-gigante do Estado. Os gregos que inventaram ou racionalizaram os fundamentos de todo o conhecimento actual e também esta questão do físico e metafísico, eles próprios, discutindo racional e dialecticamente sobre a filosofia aplicada à sociedade, inventaram o governo da Cidade pelos cidadãos em oposição ao governo do rei-tirano. Estas concepções antagónicas de poder: o de um e o de todos que foram modelo para as cidades-estado gregas conduziram a uma guerra pela supremacia de um modelo sobre o outro que levou ambos à perda temporária da liberdade e total ruina. Contudo apenas o governo de todos, a democracia, como resultado do livre pensamento e opinião e correspondente discussão racional aberta dos assuntos da Cidade deixou marcas culturais inultrapassáveis. E sobretudo, deixou claro, para os vindouros, que o governo extremo de um só era bem pior que o governo dos cidadãos livres organizados.
Actualmente, liberto do extremo absolutista real, o homem insaciável de progresso e conhecimento (riqueza) e impossibilitado de se despir da ambição libertária de dominar a matéria e o trancendente continua lutando investindo da direcção do imaterial. Tornada a Democracia, sobretudo, uma sociedade mercantilista inventou o Mercado e uma "mão invizível" (transcendental) que o governa. Em oposição, na lógica dos opostos, logo alguém pensou no retorno a um materialismo absolutista temporário convicto de que a "mão bigorna" do Estado obrigaria a criar o homem novo que com a sua "justiça invisível" (transcendental) garantiria, sem qualquer constrangimento, a igualdade e liberdade rasas puras para sempre.
Também liberto deste extremo absoluto basista igualitário, sem perder de vista tal conceito, pendeu e inventou a maneira de proporcionar casas, carros, bens e prosperidade a todos através de operações financeiras imateriais (transcendentais). E saiu, mais uma vez, derrotado de tal ousada experiência que o transcende e por conseguinte se torna indominável. Agora, passado o regime oscilatório provocado pela "marrada invisível" do Mercado no muro intransponível do trancencendental, tudo vai regressar ao meio termo que o bom senso diz ser o termo certo. Contudo não levará muito tempo que se dedique a inventar e caminhar para novo extremo-beco impenetrável onde irá marrar de novo estrondosamente. E assim será sempre, em sistema de moto-contínuo histórico, pois que é da nossa condição a procura incessante de alcançar e tocar o que nos transcende. E assim é porque pressentimos que o transcendental está ali à mão, junto de nós, uma vez que sabemos que a exrema entre ser e não ser é a mesma. O que conseguimos, finalmente por fim e no fim, individualmente, quando o inextinguível e inexpugnável Tempo nos engole e torna todos igualzinhos trancendentalmente.

Etiquetas: