domingo, fevereiro 15, 2009

O NOSSO ALGARVE PERDIDO




Antigos pomares das milenárias amendoeiras algarvias, entregues a sí próprios e ao abandono da terra abandonada, suatentadas por raizes sem alimento e troncos seculares ressequidos, desesperadamente agarradas à terra-mãe, resistem à decadência total e à atróz morte lenta. Dando sinal da sua ainda evidente memória biológica, as pequenas copas desgrenhadas presas pelos últimos esganiçados rebentos, ainda se cobrem de ralas florações que são amostra da antiga beleza do tapete branco e rosa que antigamente cobria e espelhava o Barrocal algarvio. Com os olhos e a barriga obcecadamente virados para o advento do maná do turismo, inventaram-se, propaganderam-se e venderam-se belezas artificiais para gozos de falsas felicidades, que mais não foram que tapumes de betão para esconder tapumes mentais para escamotear a verdadeira beleza algarvia da inigualável floresta nativa rodeada e coberta de mar e céu azul aberto e límpido. A corrida ao brilho do ouro do turismo, encandeou poderes locais e nacionais e provocou uma indiferênça densa e opaca, sobre as riquezas nativas regionais que foram sustento de vida e económico dos algarvios durante séculos.
Daqui, do lugar privilegiado desta "vinha" de amendoeiras avistam-se quilómetros de costa de praias e mar e o contrário também já foi verdadeiro. Foi, mas essa reciprocidade perdeu-se.








Os seculares troncos carcomidos de copas ralas desgrenhadas caminham, a passos largos, para a estilização depurada de troncos nus e secos, erguidos ao ar como que pedindo socorro. Dotadas de incrível e inabalável força mental biológica, resistem alevantadas da terra, como fantasmas da sua antiga beleza e figura, mesmo quando a terra-mãe já lhes negou o peito. Antes da morte certa anunciada e de ser apenas um cepo espetado na terra, erguem-se no ar em "V", anunciando victória após a queda, um sinal da renovação contínua e invencibidade da Natureza.
Carregado de simbologia está o "V" do esqueleto de amendoeira, que avisa de sua morte e victória póstuma, quer o viandante próximo quer o distraido que deixa rasto no céu.

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2 Comments:

Blogger Diogo Sousa said...

Muito bem conseguido o testo.Parabens.
Mas existe outro lado da mesma estoria....A razao do abandono do barrocal foi uma:-economica.
Por detraz da beleza da chamada 'neve algarvia' escondia-se um monstro .
Falaremos sobre isso
abraco .
diogo

7:46 da manhã  
Blogger João Brito de Sousa said...

PARABENS AO APC

Bom o texto mas creio que as imagens são mais esclarecedoras da quebra de uma exploração agrícola que não há muitos anos atrás teve o seu tempo aúreo e foi lucrativa.

Parabens ao blogue pelo seu bom desempenho civico.

ab.
JBS

10:08 da manhã  

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