sábado, setembro 19, 2009

A PROPÓSITO DO TGV


1. A PONTE DO GUADIANA
A polémica actual sobre o tgv faz-me lembrar a história da acesa discussão, transfronteiriça e não muito antiga, entre os comerciantes locais acerca da ponte sobre o Rio Guadiana em Vila Real de Santo António.
Anunciavam, especialmente os logistas que faziam opinião junto da população, que a ponte nova era a morte da Vila. Quem, vindo de Espanha pela ponte, se deslocaria a VRSA uma vez que a ponte passava ao lado e longe do centro da Vila, repetiam aflitos, arrepiados, desorientados, quase enlouquecidos, os donos de "portas abertas" ao público, especialmente ao público espanhol que naquele tempo comprava às sacadas os atoalhados portugueses. Para aquela visão estática da vida em sociedade, ou incompreensão nula do futuro, ou olhar tradicionalista arcaico, à ponte fora e longe da Vila preferiam manter os barcos "ferry". Nem sequer viam o estrangulamento de passageiros que os barcos representavam com filas e esperas desesperantes e desanimadoras capazes de fazer desistir um santo.

Que aconteceu? Após a ponte feita e respectivos acessos o número de espanhóis na Vila cresceu de forma exponencial. Os comercientes passaram a dizer: nunca pensei tal coisa, nunca me passou pela cabeça este resultado, afinal os espanhóis, agora, são muito mais e a todo o tempo e até à noite. Antes era só nas horas de barco e estes não chegavam para todas as pessoas que queriam vir cá.
Pois é, é preciso um mínimo de saber ver para além do umbigo para entender uma sociedade dinâmica, num tempo a evoluir para o futuro e não para o passado


2. A FROTA DE TAVIRA
Ainda a propósito do tgv, que a candidata MFL quer parar por considerar que tal obra é apenas do interesse dos espanhóis, será que, hoje, também pararia o vai-vem a Ayamonte, da frota camarária de Tavira para abastecer-se de combustível em nome de uma poupança mais que duvidosa? Macário Correia decidiu tal manobra em nome do interesse camarário mas, à luz do conceito MFL, estaria a servir interesses espanhóis.
Também milhares de portugueses lá iam abastecer o carro assim como fazer compras de muitas mercearias mais baratas, em nome do interesse próprio e em desfavor dos comercientes portugueses. Até já havia quem, no tempo do barato, fosse lá comprar casa para viver e trabalhásse cá.
Nestes casos, como tantos outros iguais noutras fronteiras, a ordem seria para parar? Ou acabava de vez com o interesse espanhol, encerrando as fronteiras pura e simplesmente? Ou, chateados acabariam os espanhóis a fechar fronteiras e deixarem-nos a falar sozinhos?


3. A LINHA DE METRO PARA A EXPO'98
O opinador-mor nacional, mas tão invidente do futuro como qualquer mortal, tal como os comeciantes de VRSA, o inteligente e sábio VPValente, escreveu que a linha do Metro para a Expo'98 era um absurdo e um deitar dinheiro à rua. Dizia o adivinho que no dia seguinte ao fecho da Expo não havia ninguém para andar naquela linha: os prejuizos seriam tais que melhor seria fechá-la e tamponá-la.
Que aconteceu? Acabou a Expo e a linha não só se manteve como cresceu mais que as outras. Hoje é das mais rentáveis face ao crescimento comercial e habitacional daquela zona. Tal como os comerciantes de VRSA, o gigante pensador-mor, mas invidente como qualquer mortal, só pensava no passado: não admira, é historiador.

Etiquetas: