domingo, setembro 12, 2010

A CONFISSÃO DE FIDEL


A espera da morte é o tempo oportuno para uma reflexão retrospectiva fecunda acerca da vida conduzida e feita segundo a interpretação de uma esperança ideológica assimilada à pressa, imposta à força, dirigida tiranicamente na tentativa de moldar o homem à ideologia e não a ideologia ao homem.
O revolucionário inflamado, o chefe inflexível em suas certezas livresco-científicas, o herói popular que, em nome da liberdade, se fez poder vitalício ditaturialmente, o libertador aclamado que transformou Cuba num país concentracionário, agora no fim da vida está com problemas de consciência.
Como bom religioso crente e alto dignitário de uma igreja confecional de índole sócio-ideológica centrada na sagração de um sistema histórico determinista inexorável, ao ver falhar e ruir todos os altares construidos sob a crença durante uma vida inteira, ainda assim não perdendo a fé, vai ao confessionário e torna-se num arrependido confesso.

O homem que brincou às ogivas nucleares, disposto a sacrificar o seu povo em holocausto de uma orgia ideológica.
O homem que perseguiu prendeu e torturou pessoas por homosexualidade em nome da selecção da pureza do homem novo parido pelo socialismo científico.
O homem que perseguiu, prendeu, torturou, e até liquidou todo e qualquer adversário político sem dó nem piedade em nome de uma verdade inquestionável por decreto.
O homem que através de polícia política, bufaria partidária, brutalidade militar, livre-arbítrio de justiça subserviente, proibição total de qualquer mínima liberdade individual, vigia, controlo e censura total do pensamento escrito e falado, criou um país em regime de tipo concentracionário sob o terror do medo.
O homem que tentou exportar o seu modelo visionário pela ideologia e pela força militar aos continentes americano e africano sem a mínima consulta aos povos directamente interessados.

Esse mesmo homem vem agora confessar cândidamente que afinal o seu modelo não serve para exportar porque nem sequer serviu internamente para Cuba.

As últimas notícias vindas da Ilha já davam o sinal indicativo de qual era o actual entendimento da chefia totalitária: de falhanço total a ordem para criar juntas de bois em substituição de tratores que não havia nem havia recursos financeiros para comprar; de tentativa desesperada para recuperar um mínimo de economia social a ordem de privatização de barbearias e quiosques de gelados e depois outros pequenos negócios com abolição de empregos fictícios e respectivos despedimentos.
Após estas medidas capitalistas de emergência era notório o sufoco do falhanço total da economia planificada. Contudo, o que ninguém esperava era que o grande teórico e cioso defensor do socialismo cubano, fosse ele próprio a denunciar o seu falhanço e derrocada inevitável tal como já sucedera com o socialismo soviético, seu progenitor e mentor.

Fidel, é agora uma figura trágica à imagem de Rei-Édipo: de início salvador da cidade, desconhecendo as suas limitações, nem sequer as limitações dos homens, acaba por conduzir a cidade à catástrofe e futura queda. À confissão tardia, a Historia não lhe dará a remissão da culpa.

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