terça-feira, julho 20, 2010

MARAFAÇÕES LXXIX


JORNAIS E NINHOS DE ANDORINHA, A MESMA CACA
Os jornais são, hoje em dia, cada vez mais parecidos com os ninhos de andorinha em minha casa. E os jornalistas desses jornais cada vez mais fazem para dar razão sobre o entendimento que a minha mulher tem hoje sobre ninhos de andorinhas nos beirais da casa. Os jornais, os jornalistas dão notícias, informam, comunicam a actualidade que em princípio é uma coisa boa, mas se distorcem as notícias, a informação e comunicação segundo pré-determinações fixas, então o que resta é subproduto de esgoto.
Os jornais e jornalistas deles cada vez mais se comprazem em dar sempre o lado mau da notícia: se não há lado mau deturpam ou omitem. Os títulos, legendas, notas, caixas, são retirados do corpo da notícia para realçar e interpretar, por manipulação, o assunto como mais uma malfeitoria do governo, quando muitas vezes não contradizem a própria notícia. Salta à vista que a estratégia é mesmo essa de fazer o povo, cultural e politicamente analfabeto, interiorizar a ideia de um governo malfeitor. Para tal gente, empregados domésticos mui "independentes" de igualmente mui "independentes" grandes patrões de media, só vale falar do governo como sujidade e merda, mesmo que isso seja o estrume de uma futura seara fértil.
A posição da minha mulher a respeito dos ninhos de andorinha cá em casa, é parecida. Elas fazem a Primavera na rua da casa, fazem ninhos laboriosamente com mestria, criam os filhos com desvelo, dão alegria ao ambiente e mantêm a espécie: isto é, são mães e pais bons e diligentes, são obreiras incansáveis, são mestras competentes, são determinadas e sábias pois nunca desistem de cumprir e fazer o que a sua biológica tarefa lhes destinou.
Contudo, cá em casa o magnífico e requintado trabalho da andorinha não é benquisto. Só é referido, apontado e rejeitado a sujidade, a porcaria, as cagadelas em voo sobre o terraço e o pópó, o monte de excrementos dos filhos até se soltaren do ninho, a multiplicação de ninhos de ano para ano e por conseguinte de nova e maior porcaria.
A minha mulher, com a sua determinação em não aceitar a merda das andorinhas conseguiu, à força de desfazer os ninhos nos locais habituais, obrigá-las a ir fazer os ninhos no beiral dum velho armazem próximo onde estão a salvo, em total àvontade e liberdade para fazer merda sem incomodar. Começo a pensar que faz sentido o entendimento dela e que, igualmente, consumir e levar jornais para casa corresponde a caca e lixo intelectual mais perigoso que caca de pássaro. E a pensar que melhor é deixá-los nas bancas para serem devolvidos à procedência remetendo a merda e mau cheiro a quem os expeliu.

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