quinta-feira, dezembro 23, 2010

EM QUALQUER DOS CASOS ...

Pelo que se entende das notícias dos jornais, o senhor Assange da WikiLeaks entregou o baú de cables apanhados de assalto, a cinco jornais tidos de referência mundial. Também pela leitura de tais cables se sabe que uns tratam de análise psicanalítica de políticos sobre políticos tal como acontece entre pessoas que se conhecem e comunicam entre sí, nada de novidade. Outros desvendam os motivos reais das decisões dos políticos, escondidas do público, face aos motivos invocados publicamente o que prenunciam meias-mentiras e, também aqui nada de novo pois os comentadores e críticos não fazem outra coisa senão analizar em público e voz alta o que são disfarces dos vários possíveis reais fundamentos que estão por detrás e são mola que determinam os políticos.
E diga-se, para avivar branqueamentos, que tal sucede apenas e só nas democracias que respeitam, quanto pode os assuntos de Estado, a liberdade individual incluindo a liberdade de falar e publicar o pensamento. A coragem do senhor Assange não ultrapassa a fronteira da democracia e liberdade de imprensa, muito pouca valentia é actuar onde previamente sabe ter garantida a proteção legal e, sobretudo, prevê como certo tirar elevado lucro pessoal imediato pela "entrega" do material agora e no futuro pela exploração comercial da notoriedade perseguida e alcançada. Coragem mesmo era conseguir obter dados sobre regimes obscuros cuja política interna e externa é oculta sob um verdadeiro mistério de quais são as verddeiras intenções face ao mundo actual.
Dito isto, quando se fala de jornalismo e em liberdade de imprensa, neste caso, está-se a falar de quê? Assange não publicou, ele próprio directamente na net ou no papel com sua assinatura, o material que tinha em mão exercendo o seu direito de publicar como jornalista livre. Nada disso, foi "entregar" o material a cinco ricos e famosos jornais do mundo democrático e estes criaram uma câmara especial no "El País" para manipular, à sucapa da redacção, o tratamento jornalístico do material "posto" à sua disposição. A "notícia" saída, filtrada, tratada, contextualizada e montada segundo o primado do interesse do jornal como meio económico e orgão financeiro para gerar lucro, que só por acaso coincide com o interesse do jornalismo, tem a ver com liberdade de imprensa ou com comércio-negócio puro e duro?
O mundo dos interesses, politico-económicos, pouco muda e quando algo é obrigado a mudar é para que tudo fique na mesma. O que Assange quer mostrar sobre a batotice dos políticos no mundo da política é precisamente a mesma batotice que ele faz usando a "sua política pessoal" no mundo jornalístico. Os políticos mascaram interesses de Estado, partidários ou pessoais com o interesse geral, o jornalista mascara o interesse pessoal com a liberdade de expressão e o direito de informar o público em geral. Em qualquer dos casos invoca-se o interesse geral mas, no fundo, quem é sempre verdadeiramente enganado é precisamente o público e o interesse geral.

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3 Comments:

Blogger Diogo Sousa said...

Adolfo,meu amigo,
concordo com tudo no post, só acrescentaria que o "material" publicado e que Assange via um miúdo gay( 23 anos) que está detido na base de Marines de Quantico só serve para alimentar as páginas mais ou menos côr de rosa de uns jornais...Por outras palavras "circo"
A informaçao que tenho é que para os "gringos", o secretismo de uma mensagem só começa quando ela é timbrada com "top secret"...tudo o resto não tem valôr algum ou muito pouco...e a esse nível "eles" não tiveram qualquer acesso...
Abraço

Diogo

8:30 da manhã  
Blogger josé neves said...

Amigo Diogo,
Exacto, o caso inclui o velho conceito romano de "circo" mas, neste caso, ultrapassa-o. Aqui somam-se "circo" + baixa-política + negócios + batota jornalística + contra-informação + falsa invocação de liberdade de imprensa.

Um abraço, e sendo Natal, saúde a todos aí nos states para festas e felicidades natalícias e ano 2001.

10:25 da manhã  
Blogger josé neves said...

Obviamente, Queria escrever 2011.

10:27 da manhã  

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