terça-feira, março 22, 2011

IMPRENSA À PORTUGUESA



OU O JORNALISMO ESPECTÁCULO

Um enviado à pressa para cobrir o monstruoso e doloroso desastre japonês, estava há dias a perorar, à maneira de relato futebolístico, que lhe é característico, a sua impotência de fazer o seu trabalho de jornalista espectacular.
Aquando do sismo do Haiti, nas cheias da Madeira ou noutros casos semelhantes de catástrofes naturais, os nossos repórteres enviados especiais, disputam entre si quem ganha o prémio de maior berraria ao microfone e outro de quem dramatiza mais o sofrimento das pessoas sujeitas à perda total de bens e morte de familiares.

Vão para cima dos montes de ruinas, locais de mortos desenterrados e magotes de gente faminta nas pilhagens, mostrar os choros, as lamentaçõesas, as lágrimas os gritos de dor pelos familiares perdidos, e mais nada fazem que dramatizar a desgraça cruel mostrada ao vivo. A maneira despudorada como apenas pretendem fazer espectáculo com a dor dos que foram castigados brutalmente, faz de tais reportagens verdadeiros actos pornográficos.

O enviado especial especialista em relato futebolista e discussão de fintas, faltas, jogadas, lances, tácticas, visão de jogo e ultimamente também discute política caseira nos mesmos termos do que faz com o futebolismo, ainda tentou subir ao alto das ruinas e destroços e entrevistar o drama dos cidadãos japoneses.
Mas os imperturbáveis cidadãos japoneses, assumiam a sua dor sem exteriorização, com uma serenidade solene, procurando pacientemente os familiares desaparecidos sem angústias, lamentos, choros lancinantes, imprecações ou ameaças aos governantes. Aceitavam, sem lamúrias dramáticas, os acontecimentos na maior e melhor ordem cívica, sem correrias nem pilhagens desordeiras. Passavam serenamente pelo enviado especialista e sem ligarem à câmara na sua frente, guardavam para sí próprios e suportavam sem partilhas de espectáculo mundano, a dor imensa que sentiam na alma, mas não a vendiam.

O reporter enviado especialista em jornalismo tele-espectáculo de sangue, choros e lágrimas, sem o quadro entrevisto nem leit motif para futebolizar o drama do povo japonês, enfiou a viola no saco e regressou a casa.
Para nos continuar a lixar o juizo com os quotidianos pequenos grandes dramas caseiros tratados como relatos de jogo de bola com pancadaria em grande.

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