sábado, fevereiro 26, 2011

DESDE SEMPRE QUE...


Desde sempre que a terra é Terra e o homem
é Homem sabe-se que estes comem
e cagam necessáriamente. Nos intervalos
cobrem fêmeas usam pensamentos
cogitam criam artes produzem inventos
erguem maravilhas a pedra e calos
unem-se no sangue defendem a Cidade
gloriosa de grandeza de imortalidade
dos heróis e do belo erguido como hino
merecido dos valores da sabedoria da razão
sobre os medos os mistérios a opinião
caduca de quem dita e fixa o destino.
Desvendam a Natureza descobrem a Ciência
despem feitiços totems augúres dão falência
de deuses de Deus da História criam utopias
novas novos desastres novas lutas novos
regressos avanços recuos saltos dos povos
rumo à civilização da felicidade a dias.
É quase um Deus está em toda a parte
paira em órbita foi à Lua quer ir a Marte
ao interior da mente do livre-arbítrio do
metafísico conhecer o futuro criar pérolas
em tubos de ensaio por fusão de células
quer ser tudo saber tudo pôr tudo a nu.
É já mesmo o Rei supremo da Natureza
qual deus bicho no poleiro de sua grandeza
rasteira de Ícaro de asas falsas remetido
contra vontade à condição de rastejante
animal de serviço à existência servil perante
carnadura que para estar de pé e ter sentido
não dispensa essa necessidade de vida rasca
inerente de comer e cagar onde se atasca
até à morte apoteose da grande cagada
final deste deus menor zero à esquerda
sujeito à servidão da sombra sem apelo
nem escape que reproduz o eterno modelo
inicial em moto-contínuo a desgraçada
máquina humana produtora de merda
e alimento fonte de uma relação produtiva
saída de entre sua luta de classes força-viva
da massa-crítica do trabalho criativo prémio
único dado em géneros, pensamento e génio.

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