terça-feira, junho 12, 2012

A CORRERIA OBSCENA


Neste Lugar há uma correria de mortos
com vivos atrás, velhos curvados tortos
trôpegos, sem os filhos nem os netos
vão aos funerais e vê-se-lhes nos rostos
a tristeza de seus pensamentos concretos
olhando no vazio o amigo, o parente
o familiar encaixotado, exactamente
um homem bom a partir daquela exacta
passagem ao não ser, o que foi diligente
lutador de força e vontade dura, magnata
de força e suor vendidos a preço de caganita
caída como migalhas da mesa circunscrita
à elite que decide da condição e ordena
a escala descendente do pote à marmita,
do palácio à barraca, da justiça e da pena
num teatro de sombras e actores em grita-
ria nesta correria infernal, louca e obscena.

Divina, a correria continua, a vida persegue
o fito da natureza, exige que não vergue
a vontade da espécie para que garanta
primeiro a santa natureza e esta pegue
pelos cornos o direito inicial dado à santa
existência da espécie com qualidades
cognitivas e racionais capaz de vontades
individuais e colectivas, e finas filosofias
do ser e não ser, imaterialidades
guiando o existir para o sonho e utopias.
E qual rio de água atrás de água desagua
perdida na água, tal correria continua
feita de vivos atrás de mortos e, sem cura
todos irão desaguar numa longa rua
sem nome perdida no tempo, casa futura
de toda puta de vida: todas, a minha e a tua.

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