segunda-feira, maio 07, 2012

A FISGA MERCEEIRAL


Os grandes merceeiros santos e belmiros passo a passo já são senhores absolutos da distribuição em Portugal e consequentemente senhores de destruir, espezinhar e humilhar quem ouse opor-se-lhes. Com a chegada ao poder dos que financiaram e apoiaram comicieiramente na rua e tv os quais lhes dão agora total liberdade e àvontade, podem finalmente fazer demonstrações de força junto do povo arruinado pela austeridade.

O primeiro mal e o pior para o país foi a destruição total do tecido social de Lugares, Aldeias, Vilas e Cidades, secando o país das suas forças-vivas e mais activas na defesa, construção e progresso dos patrimónios vivos e culturais desses locais. Ao deixarem semear Portugal de shopingues secaram e desertificaram as raizes e mais fecundas fontes de forma de vida em comunidade social.

Sob o pretexto de criação de postos de trabalho, que autarcas pouco sérios ajudaram a tornar-se discurso dominante, onde havia pequenos negócios e empresas familiares que constituiram o tecido de forças-vivas que davam vida e harmonia social aos Lugares, Sítios, Aldeias e Cidades, tornaram-se dormitórios de empregados de caixa mal pagos, com horários de trabalho forçado, de baixa qualificação escolar, gente sobrecarregada obrigada a viver "à parte" ou "apartada" num individualismo de vida de "apartamento", que mal convive com a própria família, quanto mais...

Provavelmente, por cada posto de trabalho desumanizado criado num shopingue, fechou uma pequena unidade familiar de pais para filhos, casas centenárias ou com dezenas de anos a prestar serviço social local e a ajudar à sobrevivência de muitos sem pão. Nos shopingues não há "livro de apontar", paga logo ou não leva, não consegue amizade e ligação pessoal para obter o estatuto de confiança de mandar "apontar no livro" para pagar mais tarde ou quando puder.
Imagine-se o país em caso de catástrofe ou guerra como em 1939-45 e respectivo tempo de "racionamento" de bens essenciais, quando as "vendas" espalhadas, das cidades aos lugares mais recôndidos, tomaram o papel de autentica assistência social local.

O resultado de tal "progresso", está cada vez mais à vista e agora com a demonstração de força e poder levado a cabo pelo merceeiro, imagine-se a ironia, dito pingodoce ficou a nu que tal poder se tornou uma arma de assalto apontada à bolsa do necessitado.
Mas o que aconteceu mostrou também toda a potencialidade de igualmente se poder tornar uma arma de ripostar sobre o grande merceeiro grande inventor de grandes e falsos eventos: o brutal constante aumento de povo em elevado ou total estado de necessidade, pode fazer lembrar a esse mesmo povo que tal assalto para-ordeiro às prateleiras de agora, que tal caso prefigure um ensaio para assaltos mais ousados e violentos, com ou sem polícia.

O segundo mal, que deriva da posição dominante dos ditos merceeiros é o espezinhar e esmagamento da população que trabalha a terra e produz os bens em Portugal.
Se podem vender 50% mais barato e apenas é damping em um ou outro produto, isso significa que vendem normalmente com margens acima desse desconto praticado num dia. E fica evidente que se tratou de uma armadilha para obter mais consumidores que vão pagar com língua de palmo nos restantes dias do ano, pois caso contrário, punham os preços algo mais baixos todos os dias do ano e não apenas um dia alvo.

Os produtores, submetidos à tirania do mercado dominado quase em absoluto pelos grandes merceeiros a quem vendem a totalidade da produção, não têm saída que sujeitar-se aos preços e outras sujeições como pagamento dilatado, borlas para exposições e promoções, etc., que contribuem sempre para baixar preços ao produtor e aumentar margens do merceeiro.
Enfim, uns trabalham para a sua própria ruína enquanto outros estudam e planeiam como viver à grande e à custa dessa ruína dos trabalhadores da terra; talvez o trabalho mais digno sob o céu.

Aliás o grande merceeiro, o patrão belmiral, também arranjou a sua armadilha para enganar o povo inocente: faz frequentes descontos iguais em vários cabazes de produtos seleccionados à lupa, sobre a maioria dos quais aumentou o preço no valor do desconto propagandeado que fica "em carteira" na caixa do merceeiro.
Na prática o povo não só não tem desconto como paga à priori o que só mais tarde tem de ir buscar ou perde o direito ao desconto. A manigância é obra de uma dupla assaltadela ao consumidor: paga de avanço financiando o merceeiro; fica obrigado a voltar, uma fidelização total; e se não volta ou se esquece, ou não vai porque foi uma pequena compra, perde o desconto em carteira, pelo que só esta receita de "perdidos" dá para baixar preços a um ou dois produtos do tal cabaz para simular a ilusão enganosa de que há baixa generalizada de preços naquelas compras "encabazadas" ao centimo.

Para combater esta ilusória manobra enganosa do belmiral o santos inventou o dia do desconto à bruta e depois pagar à bruta todo o ano. Duas manigâncias distintas para obter o mesmo objectivo: enganar o cliente com ilusões de cigano.

O terceiro mal com fonte no domínio dos donos dos shopingues e distribuição de bens de primeira necessidade, é o poder de poder humilhar os próprios trabalhadores e demais povo necessitado quando lhes apetece, por sadismo ou por vingança ideológica de classe.

Sabe-se pela leitura da História que o domínio do poder absoluto levou sempre a abusos semelhantes, mas sabe-se igualmente que tais abusos são perigosos e alguns deles ficaram registados como momentos de ruptura que fizeram pagar caro tais abusos e abusadores.

Etiquetas: