quarta-feira, agosto 21, 2013

E, "É TUDO O MESMO" CONTINUA


O slogan "é tudo o mesmo" navega de vento em popa soprado de mil goelas por mil bocas de políticos empenhados e jornalistas emprenhados e comentadores empregados e opinadores empapados e pensadores embalsamados.
Ainda face aos swaps, toda a cambada emparelhada aos acima citados empoleirados na comunicação dos media, todos regorjitam sorridentes manhosos:
a direita,
- ninguém sai bem deste caso
- todos saem mal vistos disto
- estão todos metidos nisto
- fizeram todos o mesmo, ou
- tão culpados uns como outros, ou
- são o mesmo, uns fizeram e outros deixaram fazer.
a esquerda séria,
- é o bloco central de interesses
- é o centrão dos interesses
- no centrão não há diferença, ou prosaicamente
- no centrão é tudo farinha do mesmo saco
E esta miserável ideia curta vai correndo e penetrando nos ouvidos martelada até ocupar o pensamento do povo ingénuo que não consegue discernir e separar o que parece do que é.
Com Anaximandro surge a ideia dos contrários que Heraclito teoriza, ainda no interior de um mesmo (kosmos):"o caminho - para cima e para baixo - é o mesmo" ou "tudo flui e nada permanece" como no rio onde "não se pode banhar duas vezes na mesma água" embora o leito e o rio sejam o mesmo. Segundo interpretação de Aristóteles a mensagem de fundo de Heraclito está em, "Afirmam alguns, não que algumas coisas se movem, mas que tudo sensível se move, embora isso escape à nossa percepção". Platão para alargar o conhecimento para além do mundo transcendente (inteligível) das Formas, inútil para compreensão do mundo da vida (sensível) estabelece posteriormente a comunicação entre o ser, o mesmo, o outro, o movimento e o repouso. O mundo deixa de ser Uno para ser uma multiplicidade de Formas. Houve ainda a teoria atomista tão cara ao marxismo que tenta conciliar os princípios (Parménideanos do Uno e Imóvel) com os dados dos sentidos que de modo inequívoco nos manifestam que as coisas se geram e corrompem, se movem, se transformam e são plurais.
O conhecimento caminhou sempre no sentido de que não basta conhecer as partes para conhecer o  todo e o conhecimento do Todo não se pode isolar das Partes. Desde estes antigos gregos que os filósofos debatem entre o Uno e Imóvel e o Plural e Móvel, o Todo e as Partes e a tendência actual continua na procura da conciliação entre os dois extremos. Já não haverá Uno e Imóvel mas um mundo inundado de complexidades. Até a ideia de que existe um "programa genético" contido no código  imutável dos genes é hoje em dia posto em causa pela crítica. 
As contradições não findaram e surgem sempre novas quer nas ciências quer no próprio pensamento lógico. Como na afirmação do cretense que diz que todos os cretenses são mentirosos: logo, se diz a verdade, mente e, se mente diz a verdade.
Nesta situação estão os portugueses pensantes de que é tudo o mesmo: se diz a verdade ele próprio também faz parte do mesmo, se se põe de parte, mente.
A nossa classe política que vive empoleirada  nas extremidades e tenta voar apenas com uma asa em permanente equilíbrio instável, vive de artifícios quer de comportamento quer de linguagem, toma uma parte pelo todo, segmenta essa parte que lhe convém para a simplificar e encerrar sobre um assunto afim de o poder manipular. Para eles o bandido que comete o crime é o mesmo que o guarda que não o evitou. E neste caso dos swaps vão mais longe: defendem o assaltante na sua tentativa de roubo para poderem acusar o guarda por não detectar o bandido ainda antes de o ser.
E assim, os extremistas que frequentam os cursos e os lugares do culto do igual e do mesmo, pela ideologia e pela moral de boca imaginam-se a parte pura do mesmo e enviados à terra para a salvação dos humanos que são a parte maligna desse mesmo mesmo. Quem se põe de fora do seu culto fundamentalista do igual e do mesmo, logo é considerado de ser o mesmo da parte infectada. Paradoxo dos paradoxos, são considerados de ser o mesmo precisamente os que não se resignam e lutam contra os ideólogos da universalidade do mesmo e igual.
Mas a História recente tem bastos exemplos práticos e ainda vivos do embuste que foi a tentativa de uns e outros, sob ferozes ditaduras, de fazer de todos o mesmo: o mesmo servo.
É do conhecimento histórico e a experiência provou que onde são todos ditos o mesmo há uns que são mais o mesmo que outros.

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