quarta-feira, setembro 11, 2013

FUNCIONAMENTO E COMPORTAMENTO


Passos, coelho pensador e portanto irracional, preencheu o seu vazio total com as geniais ideias matemáticas-teórico-económico-sociais do Gaspar. Eram tempos felizes esses pois, embora Passos não percebesse patavina do fundamento da doutrina acreditava embevecido na sabedoria académica do Rabaça, por sua vez apoiado nos cálculos de sábios "lá de fora" logo bons, científicos e infalíveis mesmo a calhar para experimentação laboratorial nos ratos portugueses. Era uma felicidade de sorrisos cumplices no rosto de ambos nos primeiros tempos na AR: Passos já se via o grande e o maior PM da futura História de Portugal e Gaspar o génio fundador da nova e mais revolucionária teoria económica de todos os tempos.
Eram os tempos da proclamação impante da aplicação de: 
- austeridade em massa para regeneração expontanea da economia
- do empobrecimento a mata-cavalos para a regeneração da competitividade 
- de exorcisar a alma má dos portugueses que só sabem viver acima das possibilidades 
- de fazer pagar com língua de palmo a ousadia dos portugueses, esses calaceiros compulsivos, quererem viver como os do norte, os que só vivem do trabalho próprio e pagam os nossos vícios de malandros.
Esqueceram-se de um pequeno detalhe mas determinante: que estavam lidando com "pessoas" e não com números de cálculos matemáticos ou "máquinas" .
Ninguém os avisou disso e muito menos lhes lembrou que as máquinas têm um "funcionamento" e as pessoas um "comportamento". Que uma máquina faz "operações" programadas e sempre repetidas igual e as pessoas fazem "programações" racionais face ao meio que as coage e mudam incessantemente na leva da corrente do pensamento.  Que as máquinas são coisas inanimadas desprovidas de querer e inteligibilidade e as pessoas são seres capacitados de jogos de raciocínios lógicos movidos por desejos e vontades.
A uma máquina que deixa de funcionar de repente quando mais preciso dela eu posso usar de máxima violência e jogá-la pela janela fora contudo, se alguém me quer mandar pela janela fora reajo com uma vontade de violência simétrica. E é assim quer se trate de um indivíduo quer de uma colectividade.
Um governo que mal toma posse, proclama querer o empobrecimento de um povo em nome de uma culpa moral que tem de expiar, não pode esperar que o mesmo povo reaja como máquina e não como pessoa colectiva. Nunca algum povo quererá trabalhar para enriquecer quem trabalha para o empobrecer: são comportamentos opostos que se repudiam.
Gaspar, o mestre inteligente, já se demitiu e expiou o seu erro. Quando terá Passos, o aprendiz burro, a mesma honestidade de expiar o erro colossal de ambos?

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