terça-feira, setembro 24, 2013

INTELECTUAL, PRECISA-SE.


Uma sentida constatação da política actual é o desaparecimento da figura do intelectual, o conceituado e respeitado pela sua própria actividade de pensador, o da livre discussão das ideologias e consequente combate político-filosófico sobre o percurso civilizacional presente e sua projecção sobre o futuro.
Na era clássica, com a invenção e preservação da democracia em Atenas estiveram os grandes filósofos como Sócrates, Platão e Aristóteles e depois em Roma Cícero e Séneca, no Renascimento Erasmos, Montaigne e Maquiavel, no Iluminismo Rousseau, Voltaire e Diderot. Já no Séc.XX, ainda tivemos grandes intelectuais intervenientes na discussão da política face à causa pública como Bertrand Russel, Sartre, Camus, Ortega y Gasset entre outros.
Nos nossos dias o intelectual praticamente desapareceu do debate público, alheando-se da sua condição de cientista, escritor e pensador e consequente responsabilidade cívica e moral perante a sociedade.
Claro que não incluímos na categoria de intelectuais pensadores sérios e válidos os que por via dos media nos entram diariamente pelos olhos e ouvidos sobretudo para o exercício dissimulado de sua auto-promoção e para o exibicionismo e nunca para a defesa de um princípio ou valor civilizacional. Estes são os "intelectuais" do espectáculo que, como charlatães espertos exibem saber tudo sobre um pequeno nada ou saber pequenos nadas sobre um pouco de tudo. Esta espécie de pensadores-pimba são consentidos pelos senhores dos media para entretenimento do povão sugerindo-lhe que lhe dá conhecimento quando, sob a forma espectacular da imagem que arregala o olho e o ouvido de modo que este fique à mercê da manhosa mensagem, apenas pretende impôr uma ideia dominante conveniente aos negócios ou à ideologia editorial do media em causa.
É opinião de pensadores que o desaparecimento actual dos intelectuais da cena social se deve ao descrédito em que várias gerações deles caíram devido a terem sido apologistas de totalitarismos como o nazi, soviético e maoista e respectico silêncio sobre as carnificinas do Holocausto, o Gulag e Revolução Cultural. Realmente como acreditar novamente em intelectuais quando vimos aqueles que se julgavam ser as mentes mais brilhantes do seu tempo defenderem e fazerem causa comum com regimes responsáveis por genocídios e crimes contra a humanidade.
Outra causa importante para a deserção dos intelectuais na discussão sobre a polis é consequência directa da perda de interesse do conjunto da sociedade pelo pensamento face à mediatização global e permanente da civilização do espectáculo. O que antes era revolucionário tornou-se moda, jogo, passatempo, espectáculo.
E o que se passa no mundo em Portugal, dado sermos um povo iletrado onde vigora e prospera não o pensamento fundado no conhecimento mas o espertismo prático-desenrascado, passa-se em dose dupla. Aqui, conseguem passar-se e vender-se como intelectuais qualquer medíocre ou idiota que ostente um qualquer titulo académico mesmo que totalmente desconhecida a matéria e qualidade de seu conhecimento produzido. 
Leitores e imitadores do intelectualismo desacreditado lá de fora, tornaram-se como eles e pelas mesmas causas, igualmente desacreditados. E pior, muitos deles trocaram de campo sem trocar de ideologia: de defensores acérrimos de um totalitarismo igualitário de esquerda passaram a defensores de um totalitarismo igualitário de direita. Os extremos igualam-se.
O intelectual, na sociedade moderna do espectáculo, ou integra a elite obedecendo-lhe servilmente ou será empurrado para a classe de servo-proletário: afinal ele também não come liberdade.

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