domingo, outubro 06, 2013

GAIOLA DOURADA? OU DOURO DOURADO?


Depois de ser muito aconselhado a ir ver o filme "Gaiola Dourada" achei que, passado o alarido da crítica cinéfila sofisticada e entregue o filme às opiniões e impressões de falatório de café e ao sorriso amarelo dos próprios emigrantes, era altura de ir ver o que diz o dito.
A mim, talvez porque sempre estive longe de viver a situação de emigrante diz-me directamente pouco e, ao mesmo tempo diz-me muito como português e porque, aqui na terra, sou familiar, amigo, converso e lido muito com emigrantes e até tenho contado aqui no blog várias histórias da emigração vividas e contadas por eles.
O realizador e guionista, ele próprio filho de um maçon e uma consiérge emigrantes cria e filma uma espécie de colagem de clichés com barbas sob a ideia conceptual de "revista à portuguesa" à qual lhe dá um fio condutor mais ou menos bem ligado cinematograficamente com uma intenção: ao mesmo tempo que ridiculariza o rude emigrante português vai desmascarando e gozando a pretensa, hipócrita e falsa superioridade cultural da classe média francesa armada ao fino. 
Para representar o grosso do anedotário insultuoso e ridicularizador dos nossos emigrantes em França nada melhor que a vedeta de revista Maria Vieira, o nosso Fernando Mendes de saias. Só faltou ao cardápio revisteito filmado a representação grotesca de um português numa boucherie imitando com as mãos as orelhas a abanar e grunhindo para fazer-se entender que queria carne de porco.
Nenhum assunto sobre emigração em geral ou sobre a emigração em França é tratado pelo humor inteligente de forma séria. A única novidade do filme, contudo também tratada superficialmente sob o burlesco e a risota, é a desmontagem da falsa superioridade cultural da classe média francesa cultivada sob a capa de uma pretenciosa riqueza e uma hipócrita finesse de forma e modos encenada  ostensivamente para menorizar e rebaixar os pobres necessitados empregados-criados ignorantes portugueses.
Tanbém cinematograficamente o filme não tem nenhuma surpresa ou achado além de acentuar alguma brutalidade na imagem ou linguagem para realçar igual brutalidade no cliché filmado. E a banda sonora  mais parece um bailarico de aldeia no Verão onde é costume, ao longo da noite, tocar-se todos os êxitos pimba de que o povo gosta. Igualmente aqui a grande variedade de música pimba aplicada sobre cada sketch filmado só vem reforçar ainda mais o carácter anedótico do episódio. Parece que o realizador quiz deliberadamente realçar mesmo esse aspecto sobrepondo música pimba ao momento pimba. Não terá contribuido para ser considerado que tenha feito bom cinema.     
No final também nada faltou, como na boa tradição à portuguesa, tudo acaba bem e até a filha do emigrante empregado casa com o filho do patrão. E quando antes, em França, tudo era uma tragédia cómica na labuta pelo emprego e trabalho de sobrevivência, em Portugal tudo se transformou em festa face à herança, caída do céu para um emigrante, de uma magnífica enorme quinta vinhateira sobre o Douro. Agora, ao contrário do que acontecia em França diariamente, faz crer o filme no final em grande farra que, aqui em Portugal não haverá mais necessidade de pensar no trabalho e muito menos na vida do dia a dia.
Afinal o sonho e tesouro do emigrante não estava em ser como os franceses em França mas sim ser aquele genuíno português feito rico por lhe cair a sorte grande de uma valiosa quinta do Douro onde, certamente, agora o antigo emigrante e os agora familiares franceses, seriam todos senhores servidos pela nova classe de imigrantes miseráveis imposta pelo empobrecimento.
Com este filme insulto à imensa massa de laboriosos, educados e honestos emigrantes portugueses em França e no mundo em geral, não sei de quê, grande parte da assistência, se ria e batia palmas no fim do filme.

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1 Comments:

Blogger Ze Didi said...

Completamente de acordo.

2:28 da tarde  

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