A UTOPIA DE JOSÉ PINTO CONTREIRAS 2
A PRIMEIRA CASA; A IDEIA EXISTIA INCONSCIENTE
Com a mesma
têmpera dos seus antepassados, com 20 anos, numa esquina do cruzamento
dos caminhos para Faro com o dos Poços Públicos,
demarca por meio de um alto muro de pedra uma parcela grande de terreno do sogro e contra a vontade deste, inicia a construção de uma casa própia dedicada a instalar um negócio de “venda” de taberna, que conclui em 1915.
Regressado, via Marrocos, da debandada militar na frente de La Lys em França,
após ataque brutal de gás, fogo e aço pelos alemães em 9Abril1918, dá início à
construção de casas para “venda de mercearia” e “forno de padaria” que conclui
em 1925.
Com três portas abertas ao público, taberna, mercearia e padaria,
continua trabalhando com o pai nas estradas como Mestre Capataz Geral encarregado dos
traçados e nivelamentos e, com os rendimentos do seu trabalho e dos negócios
das “vendas”, no mesmo local constrói mais casas para instalar o Mestre barbeiro,
o Mestre sapateiro e o Mestre mecânico de “casa das bicicletas”. O Mestre ferreiro-ferrador,
amigo de escola, foi buscá-lo a Bordeira e convidou-o a instalar-se no local
em casa vizinha. Mais tarde faria também um armazém para instalar o Mestre
carpinteiro.
A IDEIA DESPERTA; O SONHO NASCE
A sua
incorporação como recrutado no CEP, Corpo Expedicionário Português, com guia de
marcha para "A Grande Guerra” em La
Lys na Flandres francesa, via desembarque na Bretanha e comboio até à frente de
combate, permitiu o contacto directo com as populações das aldeias francesas
locais e mostrou-lhe uma realidade bem diferente daquela que conhecia na sua
terra.
Nesse contacto
vivido junto das aldeias ao redor do acampamento do CEP em Air-sur-la-Lys,
entre Armentiére a la Bassée e Merville a Bethune, constatou que as populações
dessas aldeias viviam associadas e
organizadas à volta de colectividades que organizavam os eventos festivos
tradicionais ou domingueiros como os bailes, teatro, jogos, etc. Além disso as
aldeias eram auto-suficientes de oficinas de artes e ofícios para apoio dos trabalhos
rurais assim como de casas de porta aberta ao público para comércio de abastecimento e convívio
do povo à volta duma mesa de jogar às cartas, tomar uma bebida e conversar acerca dos
trabalhos diários da terra, da guerra, da família, dos amigos, da vida e da
morte.
A observação
atenta de tal modo de convivência social ordeira e harmoniosa nestas pequenas
comunidades francesas, fez revelar e nascer em sua mente futurista irrequieta a ideia
visionária de transpor para a sua terra natal este modelo civilizacional
avançado que permitiria acabar com hábitos ainda reminiscências de rudezas
medievais.
Ficara convicto que no pós-guerra o estilo de vida das pequenas
comunidades que vira em França, mais tarde ou mais cedo, haveria inevitavelmente
de chegar à sua aldeia e aldeias de Portugal. Então pensou firmemente que o
ideal era apressar o cumprimento do futuro.
O ideal tornou-se sonho e este começou a ser pensado e ter formas.
(continua)
Etiquetas: a utopia, jose pinto contreiras
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