segunda-feira, março 31, 2008

VAMPIRISMO


Na mesma última "quadratura do círculo", concordo inteiramente com Pacheco Pereira quando falou acerca da banalização do caso "Carolina Micaelis". Disse, concretamente, que a passagem repetida e repetida repetidamente, das imagens tiradas ao vivo da cena de luta travada na sala de aula, transformava o caso que é "sério" numa "banalização", desvalorizando assunto e suas causas e consequências.
PP tem toda a razão. A tentativa de alimentar mediática e artificialmente as imagens injectando-lhe ondas de choque emocionais, gasta o assunto e desfoca-o racionalmente pelo rápido enfastiamento do olhar, levando a uma irritação da vista como a irritação do ouvido no caso do disco estragado que não sai da mesma espira. A tv, causa não menor das actitudes anti-sociais da adolescência actual, quer em casa, na rua ou nas escolas, escudada na idéia piedosa de que escalpelizar o mal é exorcizante curativo adequado, escalpeliza o mal até à repulsa, não segundo um ponto de vista médico mas pura e simplesmente como vendedor de fármacos e drogas anesteziantes para manter o paciente em estado comatoso o mais tempo possível. Logo que a tv pimbalóide "agarra" um assunto, ou porque o quer impôr voluntáriamente como "facto de falatório"" pela força da imagem ou porque já se tornou "falatório" pela força do assunto, transforma, mesmo qualquer facto fortuito, em espectáculo circense para exploração de audiências com bilheteira comercial publicitária montada à porta de entrada.
À tv pimbalóide, finjindo querer discutir tudo sobre tal caso do dia, pretende tão só, para efeitos comerciais, manter e elevar as emoções e paixões primárias suscitadas, para criar dependências no tele-espectador afim de o manipular e formatar ideológicamente pelo conteúdo do discurso, tornando-o amorfo receptador tanto da opinião veiculada como da publicidade. Lançado o caso na discussão do grande público, à tv e imprensa pimbalóide não lhe interessa mais o conteúdo do assunto mas o seu tratamento pirotécnico-cénico-mediático, concentrando-se em manter no ar, para o pagode apreciar, o falso brilho do fogo de artifício.
Os meios pimbaloíde, sob o disfarçe de fingidos sofredores dos males sociais, são na verdade bocarras de afiados caninos vampirescos sempre à procura de sangue que sorvido e tratado em suas entranhas, voltam a derramar pela cloaca como novo alimento dos já mordidos e infectados. Praticam um vampirismo em moto-contínuo. E este tipo de vampiro nunca esquece a sua vítima, passados anos voltam a atacar o "herói desse dia" para lhes sacar sangue novo sob a forma dum telefilme ou telenovela educativa. Felizmente que a Natureza criou a razão e o entendimento ao Homem, e este ainda não abdicou totalmente de utilizar tais faculdades para julgar.

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