sábado, junho 28, 2008

JULGAMENTOS E JUSTIÇA

JUS OU A SOLIDÃO DA JUSTIÇA ou
JUS A ARTE DE INJUSTIÇAR ou
JUSTIÇA BRAÇO FORTE E LONGO DO PODER


A companhia de teatro o Te.Atrito, voltou a impressionar-nos muito positivamente com mais uma curta mas bela peça sobre as grandes questões que se pôem ao homem em sociedade. Desta vez coloca-nos perante o problema da justiça pensada, feita e aplicada pelos homens para organizar ordenadamente os homens em sociedade. Primitivamente quandos todos cidadãos da tribo ou pólis participavam na justiça, talvez aí a justiça tivesse algo a ver com a bela idéia filosófica de que " a liberdade entre o forte e o fraco oprime e a lei liberta". Contudo "justiça" e "poder" são irmãos siameses, sempre andaram intimamente ligados, e aquela tem sido sempre um dos braços fortes e longos do poder.
Conhecemos o Código de Hamourabi, leis e justiça do rei poderoso Hamourabi, os Mandamentos das Tábuas de Moisés, chefe e guia dos judeus e ditados por Deus todo poderoso, os códigos de Dracon e Sólon encomendados por reis para adaptar organizadamente a sociedade aos tempos. Todos os códigos de leis e justiça foram ditados pelo poder temporal de reis poderosos e sancionados e aprovados pelos deuses do momento em nome do bem comum. Logo, o que diz o folheto da peça, que a injustiça é o reverso da justiça, sem mais, escamoteia o verdadeiro problema da injustiça que é precisamente o poder. E cita as históricas injustiças reabilitadas pos-mortem como Joana D'Arc, Galileu, G.Bruno, Baudelaire, mas esquece-se do primeiro injustiçado político-religioso que a história ocidental registou e que foi Sócrates, e precisamente por obstinada obediência à lei e justiça da cidade.
O conjunto da peça representada compôe-se de três sentenciadas "justiças" históricas baseadas nos processos de Cristo, Galileu e de Um Padrinho Americano. Em qualquer dos casos é claramente visível o braço do poder por detás das sentenças representado nas pessoas de Caifás, Pilatos e o Império no primeiro caso e do Papa e do Padrinho nos outros que aplicam a sua justiça de coveniência.
A encenação de Rita Neves, a caminho de senhora actriz e encenadora de teatro, não obstante não utilizar cenários própriamente ditos, utiliza o espaço negro da sala-palco e do público para movimentar e colocar os actores de forma muito inteligente definindo e acrescentando força aos diálogos. Por outro lado o modo achado para fazer as mudanças de passagem de um julgamento para outro, mudando os actores de papel mudando de capa, permite as alterações de personagens sem que se perca o ritmo e sentido da acção.
Uma nota para a excelente utilização do video para exemplificar e ilustrar a peça representada através de idéias de justiça actual, por pessoas de senso comum rural que se viram envolvidos em casos reais de julgamentos e justiça dos nossos tribunais. São depoementos tão simples como as próprias pessoas depoentes mas tão claros e certeiros como raios de luz atravessando a obscuridade e sombras da justiça de todos os tempos.



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