domingo, junho 22, 2008

O ALTO GRAU DO FUTEBOLISMO


O SISTEMA DE QUE NINGUEM OUSA FALAR

Acabado o folclore eufórico do Euro 2008 para Portugal, logo os portugueses sentados em cadeirões de redacções e estúdios de ar e ideias condicionadas, dão imediato início à caça às bruxas dos culpados do insucesso. Inventam, desenrascam, descascam mil e uma ninharia ridícula para justificar a derrota que eles haviam inculcado na cabeça dos portugueses como improvável, ou quase impossível, dada a grandeza dos nossos jogadores e da nossa selecção: sempre dos melhores do mundo (não é por acaso que as nossas pontes, túneis e outras obras são sempre comparados com o mundo). Agora é o tempo da lamúria, dos porquês, dos incidentes negativos, do se e se e se.
Estas águias sem asas que dos seus rasteiros tronozecos de pluma, sabem tudo e escondem tudo acerca dos "apito dourado" caseiros, quer o nortenho actual quer o lisboeta do tempo antigo, mais uma vez falam de tudo e do todo acessório mas jamais se atrevem a escarafunchar no mal cheiroso "apito diamante" soprado pelo futebolismo europeu. Da política, da sociedade, da igualdade, da liberdade também sonhamos ser iguais na UE e barafustamos e escandalizamo-nos quando os grandes empunham a batuta, impôem a partitura e comandam a orquestra, quer nós queiramos quer não. Por mais fraternidade que apregoe e respeite, o grande nunca deixará, à primeira oportunidade, de reclamar a sua grandeza e poder face ao pequeno e fraco. É da natureza humana e os países são a expressão da soma da natureza humana dos seus habitantes, não pode mentir ou fugir à sua natureza. O grande face ao pequeno nem sequer necessita de fazer uso ou ostentar a sua grandeza, basta sê-lo e mostrá-lo para, necessáriamente, se dar ao respeitinho de bola baixa.
Neste europeu 2008 isso foi nitidamenre visível, quer no jogo com a Suiça, país rico e organizador, quer no mata-mata com a Alemanha. No jogo com a Suiça até Scolari entendeu rápidamente (notava-se claramente a sua impotência face à maneira caseira como o árbitro dirigia o encontro), que só por milagre ganharia o jogo e deixou correr o resultado. Percebeu, olha ele, que a Suiça não podia despedir-se do euro 2008 sem a sua festazinha de consolação. No jogo a doer com a Alemanha era geográfica e financeiramente evidente que o vento sopraria sempre de norte. Os patrões do negócio que vivem milionáriamente do futebolismo, que não por acaso já haviam escolhido a Suiça+Austria para anfitriões do evento, não iam deixar correr o mel sem olhar pelos possíveis e melhores ocorrências dentro do mesmo espírito interesseiro que norteia qualquer negócio. Atentos aos pormenores que podem decidir os jogos, e dado que os golos são decididos por momentâneos instantes de livre-interpretação de pormenores, não deixam nada ao acaso tudo o que pode conduzir o jogo ao resultado desejado. Assim, o árbitro deve ser vizinho e de cultura e mentalidade próxima do desejado vencedor. Assim o árbitro, estando Portugal a perder mas lutando denodadamente para recuperar, atento não ligou ao pormenor do alemão empurrar o nosso defesa para poder marcar contra-corrente e matar o jogo logo ali. E caso o pequeno não vergasse e fosse necessário, outros pormenores favoráveis ao subrepticiamente pretendido aconteceriam certamente. Assim tudo se encaminha para um estrondoso sucesso financeiro e as poderosas instituições estatais europeias do futebolismo, nada democráticas, serem cada vez mais poderosas e calar as bocas servis e servidas dos opinadores e comentaristas de todas as partes e côres do tentacular negócio do futebolismo.

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