sexta-feira, julho 04, 2008

DA TRETA


"TRETA" E "CONVERSA DA TRETA"

Nestes dias em Lisboa, nas habituais horas que passo frente às estantes das livrarias, descobri este pequeno ensaio sobre "a treta" de um Professor de filosofia jubilado da Universidade de Princeton. Diz o Professor que "a treta" é parte intrínseca do discurso da "conversa da treta" mas a essência de cada tem algo de próprio. A essência da "treta" está na falta de uma preocupação com a verdade, na indiferença pela forma como as coisas realmente são. As "conversas da treta", caracterizam-se por as afirmações das pessoas estarem desligadas daquilo em que realmente acreditam, é uma conversa que apesar de poder ser intensa e com significado, a discussão não é, de um certo modo, para ser levada a sério, nesta conversa os participantes não entendem o que cada um diz como sendo o que realmente acredita ou sente, logo a finalidade da conversa não é transmitir convicções. Contudo os dois conceitos se assemelham porque em ambos existe uma dissociação de uma preocupação com a verdade.
O autor compara "a treta" (bullshit) ao "gastar saliva" dado que este gasto é característico de um discurso esvaziado de todo o conteúdo informativo tal como o excremento é uma matéria da qual todos os nutrientes foram removidos. Também o tetreiro não é própriamente um mentiroso, dado que a treta não necessita de ser falsa, difere da mentira no seu projecto de distorção. Para poder mentir é pressuposto que o mentiroso conhece a verdade, é-lhe indispensável conceber o que diz como falso. Para o tetreiro nada disso interessa; não está nem do lado do verdadeiro nem do lado do falso, não quer saber se o que diz descreve a realidade de forma correcta, apenas as usa , ou as inventa, para satisfazer o seu propósito. O tetreiro não rejeita a autoridade da verdade como o mentiroso, opondo-se a ela, ignora-a pura e simplesmente, e é por isso que "a treta", como inimiga da verdade é muito mais poderosa do que a mentira.
Remata o autor que a "treta" é inevitável sempre que as circunstâncias permitam que alguém fale sem saber do que está a falar. Assim a produção de "treta" é estimulada sempre que as obrigações ou as oportunidades de alguém falar sobre um determinado assunto excedem o seu conhecimento dos factos relevantes para esse assunto. Esta discrepância é comum na "vida pública", na qual as pessoas são frequentemente impelidas - quer pelas suas próprias inclinações, quer pelas exigências alheias - a falar extensamente sobre matérias das quais são, em variados graus, ignorantes.

De certeza o Professor Harry G. Frankfurt não acompanha, nem de perto nem de longe o ambiente opinativo e comentarista português, a coincidência está, certamente, em que a globalização também tornou a "bullshit" um fenómeno universal dos media.

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