sábado, março 07, 2009

MARAFAÇÕES LXXI


ANTÓNIO BARRETE
O grande António Barreto chamou tudo ao Sócrates por causa da lei anti-tabágica que lhe interditava a sua superior liberdade de atirar fumo para os outros. Agora larga esta pedrada sobre o "magalhães", mais uma nódoa que cai em cima e suja a sua fatiota de privilegiado que pôde fazer-se intelectual pela leitura de livros num tempo de livros proibidos e da promoção oficial salazarenta do analfabetismo. O saudosismo e o receio que uma torrente de concorrentes, jovens intelectuais válidos e actualizados, o atirem para o caixote do lixo, faz que lhe escapem da boca tamanhas disparatações.
Outros velhadas ditaram o assassinato da pintura face à fotografia, do cinema face à televisão, agora o tremendista Barreto informa sobre a chegada da morte súbita da leitura face ao "magalhães". E porquê o "magalhães" e não os "computadores" em geral? Não, o "magalhães" porque esse é que é o tal, o simbólico.
É caso para perguntar ao académico se, ao contrário do pensamento de bom senso generalizado, pensa que a quantidade imensa de gente que aprende com gosto a ler e escrever no "magalhães" não promove uma quantidade maior de gente a interessar-se pela boa leitura do que a escola, só com livros e gramáticas chatas para miúdos, pode promover? Felizmente a capa da mesma revista põe a quetão: "Os intelectuais, podemos acreditar neles? Nem de propósito ou nem tanto?

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2 Comments:

Blogger sergio said...

Não lí a entrevista, nem sei se Barreto foi tremendista, mas preocupa-me este tema.

Publiquei o seguinte artigo de opinião na revista Algarve Mais de Feveiro

Burros diplomados

Francisco Sousa Tavares, que nos idos das décadas de 1970 e 1980 foi deputado quer do PS quer do PSD, afirmou lapidarmente uma vez que: "estamos a formar não um país de analfabetos, como até aqui, mas um país de burros diplomados". Francisco Sousa Tavares foi um polemista, agradando umas vezes e desagradando outras, mas esta foi uma denúncia certeira sobre os cuidados a ter na transição do analfabetismo salazarista para a democratização da escola após o 25 de Abril de 1974. E nos dias de hoje é mais do que actual....

Com a Revolução dos Cravos a escola abriu-se a todas as classes sociais. Demos um salto monumental mas com o passar dos anos tem-se vindo a denotar, entre outras falhas, que o conteúdo do ensino deixa muito a desejar. Temos actualmente diplomados e alunos do ensino secundário e do universitário que, mais do que ocasionalmente, erram clamorosamente na escrita, na fala, na leitura e nas contas.

O mal começa logo na raiz. O Ensino Básico até ao 4º ano deve servir essencialmente para se aprender a falar, ler, escrever, fazer contas e abrir os olhos para o mundo. Estas são as bases para o sucesso escolar, profissional e social, mas de um sucesso real e não meramente de umas estatísticas divorciadas das reais necessidades. No entanto, constata-se que a rapaziada chega ao 5º ano e, em demasiados casos, está bastante mal preparada e não sabe contar, nem escrever, nem ler, nem falar, nem interpretar convenientemente.

Os requisitos mínimos de exigência no ensino praticamente desaparecerem e, bem ou mal preparados, a esmagadora maioria vai passando. É esta a estatística do sucesso escolar.

Vamos ter, talvez daqui a um ano, centenas de milhares de petizes entre os 6 e os 10 anos armados com “Magalhães” portáteis, mas desarmados das competências básicas da aprendizagem.

Até nem considero negativa esta aventura do navegador portátil, apesar de alguma propaganda enganadora que o rodeia, apesar de não ser uma invenção portuguesa mas sim um sucedâneo da Intel americana. Mas está longe de ser a solução final para os males do nosso ensino. Até é preferível ter as crianças em frente a um portátil com utilização útil do que em frente a um videojogo, mas não é o “Magalhães” que vai ensinar a ler, escrever, falar, contar ou interpretar.

O ensino básico, até ao 4º ano, deve servir para isso mesmo: ensinar correctamente a ler, escrever, falar, contar e interpretar. Às vezes até poder ser divertido e tecnológico, mas nem sempre o será e essa é natureza do ensino.

Já referi várias vezes mas nunca é demais relembrar as palavras de João Pina, director da nossa Algarve Mais, na edição de Junho/2008: “os jovens vão crescendo fazendo de conta que vão às aulas, (...) fazendo de conta que vão à universidade e saem de lá sem saber o quanto baste para vencerem no mercado de emprego“. Quanto às causas também apontou que “os novos professores não conseguem ser professores, (...) porque não se sentem motivados, ou não querem, e poucos porque não os deixam” e “os chamados pais modernos à muito que deixaram ter tempo para os filhos”. Nessa edição da Algarve Mais os próprios estudantes afirmaram que os pais “perguntam só pelas notas e faltas, de resto, não chateiam muito”...

Demasiadas vezes a escola é um depósito de crianças para pais muito ocupados e/ou mal preparados, que nada fazem para ajudar à correcção da indisciplina que grassa nas escolas e impede o ensino. Sem uma retaguarda familiar de apoio à escola, competirá essencialmente à escola e obviamente a quem nos governa o esforço maior para se dar um grande salto qualitativo na educação:

 Turmas com o máximo de 15 alunos (básico e secundário) para um acompanhamento mais personalizado.

 Programas escolares exequíveis e apropriados aos dias de hoje e a cada fase do ensino.


 Rigor e disciplina, entendidos como organização, respeito e avaliação real e com consequências.

 Avaliação dos professores justa e exequível com efeitos de meritocracia e sem esquemas burocráticos e enviesados. E valorização da carreira docente.


 Incentivo à participação dos alunos e especialmente dos seus pais de forma a forçar mais alguns a sair do seu alheamento.

Finalmente, lanço um apelo às famílias que nos leiam. Cuidado com a televisão e os canais de desenhos animados, assim como os videojogos. Os ecrãs, em frente horas e dias a fio da rapaziada novinha, fazem concorrência desleal à escola, pondo em contraste horas divertidas, coloridas, explosivas, ruidosas e imediatas com a verdadeira escola maçadora em salas aborrecidas, porque a escola também pode ser divertida mas não o pode ser a toda hora e nem na generalidade do tempo.

O excesso de televisão, sem acompanhamento e diálogo das famílias, promove o facilitismo, o impulso de agir antes de pensar, o favorecimento das projecções instantâneas de imagens sintéticas em lugar do conteúdo. Os ecrãs mal utilizados produzem fobia à escola, aos livros, ao pensamento, à pesquisa e ao esforço, essenciais ao conhecimento.

5:01 da tarde  
Blogger Diogo Sousa said...

A questao que se poe e' esta:-Quem esta mais errado,AB ou quem tenta tapar o sol com uma peneira?
DCS

5:44 da tarde  

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