terça-feira, março 03, 2009

GORJÕES, CARNAVAL 2009



Neste Lugar, lugarejo de trezentas famílias dispersas, desde sempre se brincou ao Carnaval. Quando era miúdo, os grandes juntavam-se no Alto e travavam uma luta viril de astúcia guerrilheira de "bate e foje" à repolhada uns com os outros, numa refrega contínua plena de vivacidade e sã convivência, que era uma alegria enorme para os miúdos que, por sua vez, imitavam os grandes com os restos dos repolhos usados. Vendedores das "hortas de Faro" vinham aqui de propósito vender carradas de carroças carregadas de repolhos menos vendáveis na praça.
Outra brindaceira divertida consistia em arrancar os chapéus da cabeça dos velhotes, ou de jovens desprevenidos, por meio de uma mola de estendal presa na ponta de um fio de guita que alguém segurava, pela outra ponta, do alto duma açoteia para onde puxava os chapéus de repente, imediatamente após um outro cá em o baixo, indo pelas costas do distraido, o ter prendido pela aba com a mola.
Ao longo do tempo, o tipo e estilo de brincadeira foi evoluindo e, a certa altura, as antigas lutas inofensivas à "rapolhada", deram lugar a lutas travadas corpo a corpo, com pedaços de pneus velhos de bicicleta que deixavam marcas na carne. Nos fins dos anos oitenta a juventude, jogava ao carnaval com lutas de ovos e sacos de plástico cheios de água. Progressivamente, este tipo de lutas rudes mas genuínas e brincalhonas, à maneira do campo, que reforçavam as relações comunitárias e ligações de amizade e vizinhança, foram desaparecendo à medida que a televisão se tornava o altar dos lares das famílias locais.
E como desde sempre estivemos próximos e tivemos fácil acesso à "batalha de flôres" de Loulé que era nossa referência máxima de carnaval, e como também esta entrou nos roteiros mediáticos televisivos, tais contágios foram determinantes para a criação, nos pequenos lugares, de um imaginário carnavalesco único ligado a desfiles de carros e grupos alegóricos. Deste modo, actualmente e desde há seis anos, que também aqui nos Gorjões se organizam cortejos carnavalescos ao estilo e forma do desfile standardizado.
Ainda assim, quando a alegoria foge à crítica mimética do assunto mediático do dia, o que se vai tornando raridade, para assentar na crítica burlesca de costumes de trabalho ou histórias da moral picante locais, o carnaval destes pequenos lugares surpreende o forasteiro pelo toque da sua originalidade genuina que marca a individualidade de cada Lugar.

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