quarta-feira, abril 01, 2009

O POSTE

TRÁGICO-CÓMICO-REVOLUCIONÁRIO
Teatro. O julgamento do poste. Personagens:

Poste Iluminação (PI)
Poste da Morte (PM)
Poste da Ira Revolucionária (PIR)
Morador (M)

PI - Sou um poste de iluminação que aqui puseram, sem a minha opinião conhecimento ou consentimento. A minha missão é permanecer aqui, dar luz e iluminar a estrada a todos que passam sem olhar a quem.

PM - És o poste da morte. Aqui fica dito para memória futura que és o poste que pode matar e, como tal, desde já és culpado e réu sem desculpa. Se alguém em ti vier bater, morrer ou ficar ferido, serás o responsável e quem aqui te implantou condenado sem defesa.

PIR - O implantador culpado e condenado será enforcado pendurado, revolucionáriamente, no dito poste e este será retirado, exilado e desterrado sem piedade.

PI - Sou apenas um poste de iluminação sem alma, sem más intenções, irracional. Estou aqui simplesmente, sem ofender ninguém, antes pelo contrário, ilumino o caminho aos transeuntes e isso é um bem, porque me hão-de querer mal?

PIR - Representas um acto repulsivo, um perigo incrível e inimaginável que desencadeia iras e raivas revolucionárias de correr com essa gente miserável que te manobra e manipula só para fazer mal à humanidade.

PM - Já disse, vai causar mortes. Deve ser removido, preso e condenado a apodrecer num deserto ou estaleiro abandonado, assim tal como os autores de tal atentado.

PIR - Corridos para o exílio ou levados a julgamento revolucionário, tal como os seus mentores.

PI - Sou apenas um poste de iluminação. Não fui ouvido nem achado mas quando aqui me puseram pensei que ia fazer o bem iluminando quem passa, evitando medo da escuridão, tornando mais visíveis as faixas de rodagem e deste modo evitar acidentes. E vós dizeis que sou promotor de acidentes?

PM - De acidentes mortais, estúpido. Estás em cima da estrada, se de repente alguém de carro precisar desviar-se para a berma enfia-se em ti e provocas-lhe a morte, meu camelo, ou tu não vês isso?

PI - Sou apenas um poste de iluminação. Não falo, não conto, não questiono. Não estou atravessado na estrada como as lombas de betão que aqui fazem, propositadamente, para evitar acidentes. Se não me fizerem mal eu também não faço mal a ninguém.

PIR - Meu fascista, não vês que podes interromper a carreira de um génio dedicado a implantar revolucionária e exemplarmente postes de iluminação? Que, embora sendo a velocidade permitida de 50 Km/h, alguem vindo de uma noitada bem passada pode vir acelerado, ver-te mal apesar da tua luz, ou simplesmente confundir-te com uma gaja e zás. E deste modo pode perder-se um futuro implantador genial de postes de iluminação como deve ser.

PI - Sou apenas um poste de iluminação. Estou aqui, talvez, porque alguém indicado pensou que, entre males e bens, este era o melhor local. Afinal como eu, rente à faixa de rodagem, existem valados, muros, paredes, casas, árvores, carros estacionados, ribanceiras íngremes, separadores de betão, bandas metálicas laterais, bandas sonoras, etc., e até a alguns vós exigis que existam e chamais de "protecção". Porquê tanta inimizade e sanha contra mim? Só eu é que faço mal?.

PM - Que dizes, meu malvado, estás a desculpar-te com terceiros? Não é para aqui chamado quem não está metido no caso, esses não estão às portas da cidade nem à mão do olho das máquinas fotográficas, nem à mão da necessidade de informar e divulgar tamanha ameaça de morte.

PIR - Tamanha falta de educação pró-vida tu tens, meu poste idiota, és um estorvo à vista do bom cidadão cumpridor exemplar e uma grave ameaça à condução "agressiva" (no bom sentido como no futebol, claro) dos que andam a trabalhar ( no bom sentido como o dizem os taxistas, claro). O povo irado não contem a raiva e é capaz de actos inimagináveis contra ti. Pôe-te a pau.

PI - Por favor, sou apenas um poste de iluminação. Matem os culpados, tirem-me daqui, não posso mais.

M - Escutai, ouvi um estrondo enorme!

PM - Pronto foi um acidente. O poste da morte entrou em acção.

PIR - Não, é a revolução, é a revolução, a revolução começou, viva a revolução.

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