terça-feira, março 10, 2009

FOI VIÇOSA VALENTE VISTOSA, É VELHA FRACA FALIDA


MAS AMENDOEIRA SEMPRE
A velha centenária amendoeira resiste, do interior do tronco carcomido e ressequido arranjou força uterina de parir um rebento que lembra aos viandantes que ainda está viva e tem memória de sua original natureza. Foi menina bonita do Tio Cebola e bem cuidada, arranjada e tratada para produzir, e produziu, bons e belos frutos que a todos agradava. Mas, ao contrário da Àrvore que vive e morre, sossegada e impassível, agarrada à Terra, o Homem vive nesta, inquieto, instável e louco, aos saltos e sobressaltos até ao infindável grande salto. Desprotegida do amparo, tratamento e rumo do amo-dono protector, a velha amendoeira sentiu-se só e abandonada entregue a sí própria e suas memórias das grandezas dos bons velhos tempos.
Como normalmente, tudo o que é velho se torna ultrapassado, as árvores, recicláveis, ficam lenha cinzas estrume, os homens, irrecicláveis, ficam rabujentos, saudosos amargos e revoltados. Ambos, antes da fatalidade irregressável, reagem com novos e desesperados desassossegos, no homem filhos de velhos sonhos nunca conseguidos, na árvore filhos de um carácter ctónico imutável e indestrutível. Na árvore soltam-se, como gritos surdos, rebentos novos mas raquíticos, que já não são farta copa frondosa nem sombra de Sol escaldante ou esconderijo de ninho de pássaro, nem espanto de beleza florida, nem fartura de frutos; são agora, sobretudo, uma míngua triste de tudo isso que foram, um último galho de raminhos e ralas folhas em desesperado esforço de imagem para mostrarem que ainda existem. No homem, culturalmente imbuído de um sentimento desligado da terra, salteador e pisador dela, tende a ter uma variedade de carácteres tantos como o ambiente climático e social proporcionam, tornando-o um ser volúvel adaptável à situação do instante, levando-o a agir desnorteadamente nesse sentido camaleónico.
À velha amendoeira de um tronco seco afundado na terra e um ramo de vaso ao alto, basta-lhe a ligação ao seio materno para ilustrar que já foi árvore e alí está, debruçada sobre a estrada e junto dos fios de energia e comunicações, mas sempre impassível e indiferente ao tempo e ao futuro. Ao contrário, o homem, no seu lugar, logo inventaria arte e manha de pintar um cartaz gigante e ligar-se aos fios de telecomunicações para avisar e acusar o mundo de caminhar para a loucura se não escutar e respeitar a sua palavra de salvação de sábio antigo, aristocrata-divino, tão acima dos miseráveis mortais à maneira de Empédocles.
Porque raio de critério racional, esta associação de ideias nasceu, quando passava junto desta velha amendoeira depois de ter lido no jornal as últinas variações do poeta maior dos poetas menores.


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