quarta-feira, junho 10, 2009

ASPECTOS DAS ELEIÇÕES II


RANGEL
Já me tinha aflorado o pensamento antes mas, a acampanha eleitoral recente, voltou a insinuar-me que passou a existir na política portuguesa uma moeda de duas faces: Paulo & Paulo. Numa face um Paulo, mais antigo e conhecido, em alto-relevo de perfil bem definido e identificado por obra própria, na outra o Paulo recém-chegado, que já havia sido posto em relevo por invento de facto-político, e de repente se quer seja elevado ao alto-relevo, embora de perfil e identificação indefinidos, de colorido indecifrável e actitude imprevista, tipo gato desconhecido à noite no beiral.

Este novo Paulo parece ser uma imitação perfeita dos truques que não dos tiques do outro e gasto Paulo: e aqui reside a sua força de actor comediante que convence desprevenidos. Ainda não foi confrontado entre a retórica da crítica ao estilo vasto e abstracto sobre suspeições ficcionadas, ou ao fait-divers fulanizado que, como bom actor fingidor, explora demagogicamente com o ar mais inocente deste mundo, com obra própria feita. Paulo Rangel vive ainda no limbo dos talentos parasitários que, na falta de realizações próprias, fundam a sua reputação sobre a crítica que fazem de outros. Com este artifício, repetido e ampliado pelos media interessados, cada esperteza proclamada cresce por inchaço mal-são: um dia será detectada a infecção. Nesse dia, penso, a moeda terá faces planas indistintas.

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