quinta-feira, dezembro 03, 2009

OS DESISTENTES


E O DESAPARECIMENTO DO PAÍS

Os idealistas vivem num permanente mal-estar. Não porque o idealismo seja uma coisa má em si como desígnio, como meta, mas porque não vêem o seu idealismo cumprido no seu tempo de vida. Vivem desajustados entre o que é e o que idealizam dever ser: são novos desistentes vencidos da vida. A. Barreto anda a querer passar a idéia aos portugueses de que " Portugal está à beira de ser uma irrelevância e poder desaparecer". Baptista-Bastos costuma dizer que "Este não é o país que me prometeram". Duas típicas figuras de proa do idealista vencido da vida.

Viveram a vida barafustando sempre contra o que existe e a favor do seu imaginário país ideal. E mesmo que se registem ganhos substânciais no plano democrático e social, para tais idealistas enferrujados, nunca chega, nunca é suficiente, nunca atinge o seu desejo de máximo, de tudo, de absoluto. A vida em sociedade, desde as "gens" primitivas, tal como tem sido estudado pelos rastos históricos deixados, tem centenas de milhares de anos, depois a organização social dominante determinada pela "Cidade", tem alguns milhares de anos. A História ensina claramente, que ambas as estruturas e todas desde então até à organização social do "Estado" actual moderno, são a consequencia de necessidades de subsistência dos povos em cada época, de acordo com o desenvolvimento técnico e cultural dessa época. Em suma, que cada estádio de desenvolvimento e organização das sociedades são corespondentes a um processo histórico de necessidades e possibilidades na altura.

Tal como ensina o leninismo e é táctica dos revolucionários todos do mundo, a revolução só pode desencader-se se as condições objectivas e subjectivas estiverem prontas e maduras. As objectivas são a criação de um estado de desagregação social, a criação de conflitos socias sucessivos onde ninguém já se entenda, a criação de grupos radicais provocatórios para agudizar os conflitos e extremar posições, tudo conjugado no sentido de forçar a criação de uma tensão social explosiva. As condições subjectivas tratam de antes e durante os conflitos, fazer a justificação filosófico-ideológica dos conflitos através da acção e mensagem cultural no sentido de fazer interiorizar no pensamento das massas do povo da necessidade de mudança à força. Neste caso, que trata da acção revolucionária, interiorizar racionalmente a necessidade da revolução para acabar com o caos criado determinada e propositadamente.


Também na evolução histórica, quer do homem rudimentar primitivo caçador isolado, quer do homem racinal já organizado em sociedades, as grandes alterações sociais, ou novos paradigmas de ordem social, dão-se quando as condições objectivas e subjectivas estão maduras para que sejam possíveis e aceitáveis, pelos povos sujeitos ao processo de mudança.
A caminhada do homem pelo tempo é um processo de conflito permanente entre o homem e a natureza por um lado e os homens entre sí, por outro lado. Quando as tensões sociais são resolvidas por reformas adequadas aos problemas, com mais ou menos perturbações e oscilações conflituosas, o perigo de convulsão explosiva é contida e caso resulte os povos acabam, não só por aceitá-las como apoiá-las e bem-dizê-las.
Quando elas, as tensões sociais, são exacerbadas com propósito revolucionário, algum grupo ou grupos interessados, está ao comando para obter o poder e exercê-lo tirânica e discricionáriamente em nome de, primeiro controlar a força bruta do movimento, depois conter o caos e orientar as forças desencadeadas em prol dos seus desígnios de controle do poder. No caso revolucionário, um grupo social interessado, age como catalizador do processo que pôs ao fogo, para depois do processo sob controle, o imergir sob banhos de água gelada até o apagar e sufocar total e brutalmente.

Ganha a batalha revolucionária e depois de opressões e tiranias ainda maiores do que existiam antes, mais tarde ou mais cedo, tudo retorna ao ponto de partida inicial, normalmente com mais perdas que ganhos sociaias. A espada e os canhões, assim como a forca e a guilhotina, não são as ferramentas adequadas para apaziguar almas humanas. Nem os sonhos e utopias jamais se relizarão por meios manuais, artificiais ou mentais impostos à força bruta, contra a vontade dos indivíduos que fomam os povos.

Estes homens desistentes de hoje, tais como os "Velhos do Restelo" do passado e os "vencidos da vida" mais recentes, são estudiosos de literatura, jornalismo, história, filosofia e sociologia e por conseguinte sabem e conhecem, ou tinham o dever de conhecer a caminhada histórica humana. Certamente conhecem, mas o seu percurso de vida encaminha-os para estas posições pessimistas, derrotistas, decadentes.
Eram jovens ideológicamente avançados e fujiram à guerra colonial em nome do tal ideal imaginário; feitos mais ou menos estrangeirados, bateram-se intelectualmente, e pontualmente na acção, pela queda da ditadura; ganharam prestígio intelectual lá fora, não por obra feita mas por serem mencionados como oposicionistas do regime ditaturial; obtida a democracia, foram regreassados aceites como heróis e chamados a dirigir o povo ignorante.
Andaram anos pelo poder efectivo ou gabinetes e corredores do poder. Tiveranm de enfrentar as circunstâncias e fizeram o que lhes foi possível na altura sem sequer terem tempo de pensar nos ideais juvenis lidos e apreendidos nos livros da ortodoxia dominante. Resolveram os assuntos do povo tal qual qualquer pessoa bem formada e de bom senso o faria: talvez pior até, dado o seu afastamento e desconhecimento dos problemas reais do povo e apenas conhecimento livresco sem experiência e enraizamento no tecido social.
Fracassados no envolvimento e na acção dos seus planos teóricos, afastados dos comandos da governação, foram paulatinamente retornando aos ideais de sua antiga imaginação, agora refugiados nas universidades a granel, muitas delas criadas ou ajudadas a criar por sí próprios.


Sentindo-se fracassados na demanda dos seus ideais, perdidos pelo fracasso do próprio ideal que acalentaram décadas a fio, afastados dos meios do poder ou de influência do poder, não consultados nem chamados, nem tidos ou achados para opinar ou julgar sobre a governação do país, eles que continuam considerando-se os melhores, os isentos, os puros, os únicos, agarram-se novamente aos ideais absoletos resssucitando-os na sua teórica justeja moral utópica. E deste modo vivem um retorno à velha crítica do existente com os fundamentos dum futuro que só é possível no pensamento, no trancendental.

Nunca se darão conta de que o seu regresso ao passado é o sinal claro de desistentes, de resignados face ao futuro, de que a falta de coragem hoje para enfrentar o futuro é reflexo de falta de coragem ontem, de que a sua vontade, dissimuladamente repetida, de que o país sossobre com o seu, deles, envelhecimento e desapareça com o seu, deles, desaparecimento é uma fanfarronice mastodontica e insuportável para as novas gerações.

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