segunda-feira, outubro 28, 2013

TUDO É VERDADEIRO? NÃO HÁ FALSO NEM MENTIRA?

Há muito tempo escrevi aqui sobre a questão de que um indivíduo não pode mentir a si mesmo. Tratou-se, na altura, de uma intuição adquirida pela observação de como as pessoas defendem convictas os seus pontos de vista e posições mentais mesmo quando nos parecem perfeitamente absurdas. Atento a mim mesmo, também constatei que fixado numa posição, mesmo quando altamente indefensável, arranco argumentos da mente feitos pensamento em defesa da minha 'verdade' que me convencem a mim mesmo intelectualmente embora sendo absurdas para quem vê e pensa diferente ou o contrário.

Sabe-se que o sofista Protágoras foi o primeiro a afirmar:
- Que sobre todos os assuntos existem dois argumentos antitéticos entre si.
- De todas as coisas a medida é o homem, das que são enquanto são e das que não são enquanto não são.
- Que tudo é verdadeiro.
Logo destes pensamentos se pode retirar que existem sobre todos os assuntos duas teses antagónicas e que ambas são verdadeiras dado que tudo é verdadeiro. Para Protágoras todas as aparencias e todas as opiniões são verdadeiras e que a verdade é algo relativo, pois tudo o que é aparencia ou opinião para um indivíduo existe desde logo para ele. A sua tese não distingue entre verdadeiro e falso pelo que a cada um a sua verdade.
Deste modo se infere que o pensamento feito de aparencia ou opinião em cada indivíduo é desde a origem do pensar uma verdade para ele e, deste modo, um indivíduo nunca mente a si próprio.

Em Alain Badiou, na sua crítica à Ontologia Fechada de Espinosa afirma que " O problema não é saber que temos ideias verdadeiras, no sentido extrínseco da norma de conveniência, pois sentimos que temos". E que "isso provém apenas de ele (homem) ter uma ideia que convém àquilo de que ela é ideia, por outras palavras, de a verdade ser norma de si mesmo".
Também na sua crítica ao Platonismo e Ontologia Matemática afirma que Platão é filho de Parménides quando diz "O mesmo, esse, é ao mesmo tempo pensar e ser". E conclui que "«Verdade» nunca é senão o nome daquilo através do que se emparelham, num processo único, o ser e o pensamento".
Ora, segundo Badiou, a existência deve ser considerada uma determinação intrínseca do pensamento efectivo, na medida em que envolve o ser. Deste modo, não posso deixar de formar sempre um pensamento nascido de uma ideia que tem forçosamente de convir à minha existência. Portanto não posso mentir a mim mesmo pois, nesse caso estaria a negar o ser da minha própria existência.

No prosseguimento da minha pessoal e específica metafísica da percepção prática já me tinha apercebido que quando expresso um pensamento de uma ideia concebida em mim, tal ideia está submetida à verdade do meu ser e conformidade de minha existência.

Etiquetas: