sábado, junho 27, 2009

ADAMASTOR



Para trás os velhadas do Restelo, avançaram façanhudos e só depois de várias arremetidas os navegadores portugueses venceram finalmente o Adamastor e lograram dobrar o estreito "Cabo das Tormentas". Também agora um Adamastor se interpôe à frente do pequeno e estreito rectangulo na tentativa, contra o tempo, de impedir que se transformre em terra de boa esperança.

Toda intenção criativa de vencer e ultrapassar o cabo da mediocridade colectiva pela restauração do valor à entrega do esforço e trabalho comum ao novo, à inovação, à imaginação, ao sonho, esbarrará no gigantesco e horrendo Adamastor, velho mostrengo guardião dos valores tradicionais e intocáveis do passado feito a cálculos de "pé-de-meia". O Adamastor é o que invoca todos os medos passados, o que mete medo pela forma não pelo conteúdo, o que tenta o caminheiro a arrepiar caminho, o que impõe o regresso à casinha de cantos conhecidos, o que inculca comportamentos e hábitos de cego: aquele que tem horror ao desconhecido e um medo terrível do futuro.

O antigo Adamastor queria "riscar" as caravelas da superfície do mar, o novo Adamastor quer:
- riscar o TGV de sobre os carris à superfície da Terra.

- alternar a Democracia com a ditadura para bem poder impôr leis e governar.
- ditar o que a comunicação social deve publicar para evitar maus pensamentos e maus-olhados.
- arrasar toda a política (todas as medidas) anteriores; regressar às mezinhas do contentamento universal.

A luta dos navegadores com o velho Adamastor não passou de um episódio épico, contudo único. Quantos episódios e réplicas, Portugal ainda terá de viver e suportar até se desenvencilhar e vencer definitivamente todos os Adamastores pais, filhos e netos. E finalmente poder continuar a singrar afoitamente, descobrir descobrindo-se a sí mesmo no mundo sem complexos.

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