quinta-feira, julho 02, 2009

A MORTE DO HERÓI MODERNO


MICHAEL JACKSON

A pergunta do mundo é: que mal matou Michael Jackson? E a pergunta que se devia fazer é: que males levaram à morte MicKael Jackson?

Desde os gregos que se sabe que a perseguição da imortalidade tem um preço: todos os que buscam sair para além do circunscrito à inescapável condição humana, são portadores de um qualquer "calcanhar de Aquiles" que os fazem tombar de repente, precisamente, no momento que julgam prestes a atingir o Sol. Ícaro é o modelo mitológico desse herói que, entrado no caminho da ascenção, impregnam-se da sensação da leveza do divino, pressentem-o e farejam-o o que os faz perder a racionalidade e, desde então não há mais retorno possível. À procura incessante da imortalidade batem com a cabeça na irracionalidade: o muro da loucura. E, paradoxo da trágico-comédia humana, essa via de vida individual que leva à loucura que leva à morte materializa, com a passagem à leveza imaterial, o momento de partida para a imortalidade: porque esta não está em nós, está na nossa história.


MJ é a história típica do herói dos tempos modernos. No tempo arcaico, os heróis sobreviviam pela aptidão física, destreza e bravura até à queda prematura sem apelo, hoje os nossos heróis sobrevivem pela química e pela técnica: estas dispôem de um arsenal de drogas e maquinaria que permitem viver e sobreviver ao sabor dos desejos, pretensões e objectivos de cada carreira individual. Envereda-se pela carreira de artista e desde cedo, para elevar tal modo de vida ao topo, recorre-se às drogas para "criar" e aguentar o palco; se se pretende mudar de côr ou fisionomia envereda-se por experimentais e delicadas operações plásticas; estas, para efeitos de manutenção em estado apresentável, por sua vez exigem mais e mais sofisticadas drogas; a manutenção do estilo e aparência de vida em público exige doses cada vez mais fortes e sofisticadas. Por fim, a dependência de drogas legais e ilegais é total para estar vivo: para dormir e para acordar, para estar no palco e em casa, para apanhar sol ou chuva, para dançar e para estar sentado, para pensar ou estar amnésico, isto é, precisa de uma droga qualquer preparatória para realizar um determinado acto qualquer.


Para MJ tudo que tomava já era, simultâneamente, medicamento e droga. Ele não morreu de tomar esta ou aquela droga ou medicamento, morreu sim, de tudo que foi tomando para manter vivo um desafio permanente com a sua natureza e condição humana: e nunca ninguém ainda ganhou tal contenda. Está na cara que foi assim e todos sabem que assim foi, mas o que interessa é enrrolar o assunto num nebuloso mistério que faça crescer e engordar o mito. E a bolsa de muita e muito carpideira gente deste mundo.

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