segunda-feira, janeiro 03, 2011

A "VERDADE" TAPA BURACOS


O senhor Presidente Cavaco diz que "não quer faltar à verdade" e que a "verdade, a pura verdade" está plantada no seu site presidencial, é só lá ir buscá-la.
O senhor Miguel Macedo diz que o Presidente apelou à "verdade" para se resolverem os problemas do país.
O senhor Miguel Sengo da Costa diz que "se o ano de 2011 fôr o ano da verdade" sem subterfúgios o ano estará salvo.
O senhor Bispo do Algarve, que deu a missa de hoje, domingo, aqui na capela de Santa Catarina dos Gorjões, também falou de que é preciso falar "verdade, explicar a verdade" abertamente afim de mobilizar os portugueses para resolver a crise.

Ocuparia linhas e linhas sem conta com opiniões de pessoas ilustres com profundos conhecimentos e elevada inteligência que, por quase tudo e nada, invocam e acenam com a "verdade" como se fôra um poder mágico. Tal como o senhor Bispo, parece que de repente todos são sacerdotes de uma verdade revelada.

Essa "verdade" que têm sempre pronta a usar, basta sacá-la da boca ou pena e, como pozinho perlim pim pim, todo problema em questão fica resolvido. É o outro lado da maior invenção portuguesa neste tempo proclamada, que diz: "é preciso aumentar a produtividade, a competetividade, os bens transaccionáveis", só que ninguém explica como fazer isso. E no como fazer é que a porca torce o rabo.
Ou então dizem, virando de novo a face da mesma retórica: "com a verdade, falando verdade", e disto não saem. Quando para resolver uma situação crítica há, tão somente, um buraco vazio de ideias na inteligência, disfarça-se o buraco com uma tampa e um lustre de "verdade" por cima.

E a cada um a sua "verdade" do momento, conforme a hora, o local e o lado oculto do interesse próprio. Acabei de ouvir no telejornal o ex-estadista e pequeno grande autarca de Gaia, Marco António, outro adepto fanático da "verdade", dizer acerca do novo carro-taxi eléctrico e respectivo posto de abastecimento na sua paróquia e 1º do país, que "é um passo de gigante naquilo que é de modernidade e vanguarda", enquanto se deslocava babado de moderno entusiasmo no dito taxi camarário.

Ainda recentemente, quando o PM Sócrates, fez essa mesma inauguração ou se deslocou à cimeira Nato num carro semelhante, ou ainda antes, quando colocou a 1ª pedra da fábrica de baterias para carros elécticos, tais factos foram analizados, comentados, tomados e criticados como puros actos de propaganda por todos os adeptos da "verdade" de algibeira.
Está na cara que, logo que mude o governo, tudo o que antes fôra propaganda passa automaticamente a modernidade e vanguarda. Mais que mudança de governo vai haver mudança de "verdade".

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