quinta-feira, outubro 27, 2011

A BANHADA


Quarteira sábado, uma semana e um dia antes das eleições legislativas, num jantar de aniversário de familiar estavam vários professores e ainda mais professoras.
Na inevitável discussão sobre eleições, sobressaiu a posição ferrenha dos professores contra Sócrates. Quase todos diziam, e parece que com verdade, que sempre foram habituais votantes PS mas naquelas eleições não seriam: tirem de lá o Sócrates e votarei no PS, diziam acaloradas duas colegas amigas.
No resto do pessoal presente, quase tudo era de opinião semelhante com nuances menos primárias e mais elaboradas para justificarem a sua tomada de posição. Assim como uma espécie dos inumeros licenciados, mestrados e doutorados da "linha" que votam e elegem o Isaltino, mas neste caso com o argumento ao contrário.
Tinham sido levados, o Manuel de Oliveira diria que tinham sido apanhados, pela propaganda e portanto não tinham dúvidas que o mal estava na natureza malévola do Sócrates.

Sexta-feira, ante-véspera das eleições, no court de ténis chega o amigo professor reformado para o jogo habitual comigo, mas de rompante dispara: queres apostar que o Sócrates, domingo, leva uma banhada? Queres apostar?
Fiquei surpreso, embora tivesse havido antes, entre nós, conversas soltas sobre eleições, o PS, o PM, o PSD e outros, e delas tenha entendido que também ele teria sido um habitual votante no PS.
Surpreso pela proposta de uma aposta em tal facto, pois nunca fui adepto de jogos de sorte e azar nem nunca entrei num casino para jogar nem nunca na vida fiz apostas sobre nada, fiquei ainda mais surpreso pela veemência, confiança e certezas subjacentes na afirmação e na convicção postas nas palavras e termos proferidos.

Entalado entre o meu estado de pensamento à velocidade ultraluz e a ansiedade de responder calmamente, acabei por dizer : apostar? Fazer uma aposta? Não, nunca aposto nem jamais apostei sobre nada também não faço agora uma aposta dessas. Quanto à banhada, vamos ver se é Sócrates ou Portugal que apanha uma banhada.

Passei a hora a jogar "fora do jogo" e quase exclusivamente com o pensamento dedicado ao que teria levado o meu amigo professor a tal convicta conclusão. Foi fácil chegar à percepção de que sendo ele professor casado com professora, pai de professora, irmão de professor e cunhado de professora além de amigo de muitos outros professores seus colegas de várias Escolas por onde passou, o seu circulo de convívio normal seriam professores e familiares, além de amigos de amigos também professores e quadros médios ao nível de professores.
E percebi que, a notícia do meu amigo e parceiro de ténis, era precisamente a transmissão do estado de espírito de toda esta massa de classe média que estava mesmo decidida a votar contra Sócrates e até com raiva e vontade de humilhar o PM.

Estavam todos apanhados e resolutos a embarcar nas palavras enganosas e falsas promessas da oposição conferidas, marteladas e ampliadas diariamente pelos media vendidos, e convencidos que comandados pela luta e propaganda oportunista dos sindicatos levasse, de novo, a classe a obter novas "gordurinhas" a juntar às obtidas há anos atrás e consecutivamente.
Tinham finalmente, sido levados a concluir que de Sócrates já não havia nada a esperar de "gordurinhas" e que do novo governo tudo era de esperar para melhor dada a conversa mansa favorável da oposição e do futuro PM.

Bem, nesta data tudo está esclarecido, às claras agora é conhecida e está à vista a brutal desonestidade e consciente falsidade do novo pm e sua trupe.
A esperança de mais "gordurinhas" tornou-se num pesadelo diário de cortes sistemáticos de gordurinhas, de gorduras, de carne e já ameaça a pele.
Quem levou a banhada, quem foi?

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quarta-feira, outubro 05, 2011

DESISTIR OU NÃO DESISTIR, EIS A QUESTÃO


Cavaco falou agora aos portugueses para que "não desistam nesta fase em que a tentação de desistir pode ser grande" e antes, quando da sua recente entrevista, afirmou que teria sido muito melhor para o país ter pedido ajuda externa com grande e boa antecedência.
O facto é que nunca ninguém o viu ou ouviu informar o país clara e directamente sobre essa sua visão e opinião do pedido antecipado de ajuda externa. A sua tacanhez de alma e habitual falta de coragem fez que tivesse medo de ser claro a propor e a enfrentar os portugueses pela decisão de, imediatamente e sem lutar, atirar a toalha ao chão e submeter os portugueses, sem mais, ao diktat duma qualquer troika.

Este homem sem chama que explica as coisas por banalidades e encara os problemas sempre por soluções de meias tintas, serve-se de tais atributos para, manhosamente, sempre que achar conveniente vir à posteriori dizer "que já tinha dito", "já tinha alertado", "está escrito à muito", etc, e vamos ver o que disse e constatamos que estão lá todas as tintas misturadas num tom pardacento donde não salta à vista qualquer cor nítida. Uma verdadeira arte de saber "ler a sina" pelo método das generalidades para acertar sempre ao de leve em alguma delas.

Com o anterior PM a desistência à primeira dificuldade era benéfica e aconselhável mas agora, com o actual pm, o aconselhável e bom para o país é não desistir. Quando ainda era possível lutar por menores sacrifícios propôs a desistência, agora que tudo caminha de pior em pior a única coisa que tem a propor aos portugueses é que não desistam de sacrificar-se.
Tal estado de espírito de contradição vem de longe e já é famoso desde o caso dos sacrifícios que antes tinham limites e agora podem ir até onde o actual governo quiser; tal como a crise era apenas da responsabilidade do anterior governo e agora é exclusivamente um problema que a Europa nos cria; tal como os "mercados" eram intocáveis e agora ele próprio os belisca e questiona; e tal como a TSU era uma espécie de "deus ex-machina" para resolver a economia do país e agora é o diabo aplica-la.

Ó meu não-presidente, muito melhor era o meu não-presidente ter tido a coragem de se bater ao lado do anterior PM pela não-vinda de uma qualquer troika de fora mandar no país e nos portugueses impondo sacrifícios de arrepiar e provavelmente para nada.
Muito melhor para o país e os portugueses todos (todos?) era que se portasse como um Presidente com a grandeza de alma, a coragem de enfrentar tempestades, a dignidade de se bater patrioticamente por um desígnio, a ousadia de comandar e vencer a batalha pela melhor independência ou menor dependência possível, ter a grandeza dos grandes Homens nos grandes momentos, ser Homem capaz de perder lutando e não de desistir implorando à primeira investida do inimigo.
Muito melhor para o país e os portugueses teria sido que se portasse como um estadista a sério com visão do mundo e de futuro, para se ter apercebido que pior nunca seria ao bater-se pela solução já negociada e concertada com os poderosos e mandantes chefes europeus. Se tivesse sido corajoso, como o então PM o foi, o nosso destino ficava e estaria hoje, provavelmente, muito mais em nossas mãos e menos ao sabor de estranhas troikas.

Um estadista a sério, experiente e arguto, teria imediatamente visto e concluído sem tibiezas que a desistência era a alternativa do desespero e por conseguinte a última a encarar, além de que essa era a que estava sempre à mão para uso pronto. Mas a sua visão tacanha era de desistência e, em vez de ser um comandante-chefe à frente da luta pelo país, preferiu ser o estado-maior e o comandante-chefe na luta pelo derrube do governo legítimo: preferiu cair de joelhos a cair de pé resistindo.
O meu não-presidente tem preferido sempre usar de manhosice e não de argúcia, ou será de sua natureza não possuir faculdades políticas acima do senso comum vulgar, tornando-se um carácter desconfiado que o faz actuar na base da sonsice e manhosice.
É que a argúcia provém da posse e uso de inteligência enquanto a manhosice provém e alimenta-se da ignorância.

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