quarta-feira, junho 14, 2023

ACERCA DA DEMOCRACIA

    A Luta pelas armas de Aquiles (Séc.v a.C.)

Sabe-se que o "feito célebre", segundo Aristóteles, que foi o assassinato do tirano de Atenas Hiparco por Harmódio e Aristogíton desencadeou uma agitação que originou uma série de acontecimentos tumultuosos que conduziram à queda da tirania e ao estabelecimento da Democracia.

Na disputa entre partidos e fações, particularmente entre aristocratas chefiados por Hípias, irmão de Hiparco e democratas chefiados por Clístenes da poderosa família dos Alcmeónidas este, habilmente, com o apoio do povo ateniense acabou por tomar a rédea do poder em Atenas. Clístenes, de imediato, tomou medidas tal como a criação das Dez Tribos com os seus 50 representantes no Conselho, orgão que fora criado por Sólon, o qual diminuiu consideravelmente o poder dos aristocratas promovendo, deste modo, um sistema de representatividade local por oposição à oligarquia hereditária anterior. Tal, faz que Hípias se alie aos espartanos que, coaligados, tentam derrubar Clístenes mas acabam por ser derrotados em 506 (a.C.). A Liga do Peloponeso, após a derrota, reunida em Assembleia em Esparta decide, apesar dos apelos de Hípias, deixar em paz a jovem Democracia ateniense que acabara de revelar a sua unidade e inesperada força militar. Tal ficou comprovado com bravura, depois, em Maratona (490 a.C.) onde também os Persas quiseram impor Hípias em Atenas e foram derrotados mesmo, apesar, da disparidade proporcional de homens. E, depois, novamente em Salamina (480 a. C.) e Plateias (479 a. C.) a Democracia ateniense levou de vencida a numerosa avalanche de persas e, por fim se pôde consolidar e fazer de Atenas um farol político e cultural da humanidade.

Modernamente aponta-se a Clístenes que, na estratégia da implantação da Democracia Ateniense usou, de alguma forma, de instrumentos de propaganda quando mandou erigir uma estátua na Ágora a Harmódio e Aristogíton, os assassinos do "feito célebre" na qual fora inscrito o verso de Simónides "Uma grande luz maravilhosa brilhou sobre Atenas quando Harmódio e Aristogíton mataram Hiparco" transformando este local num lugar sagrado para o povo que pagara, por subscrição, o monumento. Deste modo, os assassinos do tirano, passaram a ser local e objeto de culto de personalidade semelhante ao de um Che Guevara na atualidade.

A Democracia ateniense durou de 506 (a.C.) até à batalha de Queroneia de 338 (a.C.) quando os gregos foram definitivamente derrotados e perderam, finalmente, a democracia e a liberdade perante Filipe rei da Macedódia e pai de Alexandre, o Grande. Contudo foi a Guerra do Peloponeso entre Esparta e Atenas que envolveu toda a Grécia com as Cidades-Estado gregas incorporadas em Ligas militares dirigidas e capitaneada, cada uma, por aquelas duas principais cidades gregas que foi tão devastadora e ruinosa que os vencedores espartanos acabaram por ficar em igualdade de desgraça e pobreza com os vencidos atenienses e, ambos, nunca mais recuperaram até à submissão a Filipe e Alexandre da Macedónica. 

Perderam a independência e liberdade de tratarem política e socialmente da pólis mas, ainda assim, não perderam a sua indomável capacidade de pensar livremente. E, desse modo, perdida a liberdade de movimentos e de agir no mundo circundante, logo, pensaram e desenvolveram filosofias de resistência do mundo humano interior como foram o Epicurismo e o Estoicismo. Esta haveria de ser a filosofia de vida adotada pelos romanos os quais seriam os seus futuros conquistadores das terras e assimiladores da inigualável grandeza da cultura clássica grega.

Os dois deuses gregos desse tempo clássico pós-arcaico, Apolo e Dionísio, partilharam o local sagrado de Delfos, complementando-se. Depois de Nieztzsche têm sido estudados como símbolos da divisão da psique humana entre a ordem racional (Apolo) e o caos irracional (Dionísio). A sua relação complexa assinala o caos e a ordem como presenças constantes e intemporais na experiência humana.

Sentimos, ainda hoje, que esta batalha pela Democracia iniciada por Pisístrato, Sólon e Clístenes está ainda a decorrer e é preciso deixar claro que está a acontecer sempre em qualquer lado e a qualquer altura. Pois a história de Democracia não é uma História do passado, mas um combate constante e quotidiano.

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