sábado, junho 27, 2009

ADAMASTOR



Para trás os velhadas do Restelo, avançaram façanhudos e só depois de várias arremetidas os navegadores portugueses venceram finalmente o Adamastor e lograram dobrar o estreito "Cabo das Tormentas". Também agora um Adamastor se interpôe à frente do pequeno e estreito rectangulo na tentativa, contra o tempo, de impedir que se transformre em terra de boa esperança.

Toda intenção criativa de vencer e ultrapassar o cabo da mediocridade colectiva pela restauração do valor à entrega do esforço e trabalho comum ao novo, à inovação, à imaginação, ao sonho, esbarrará no gigantesco e horrendo Adamastor, velho mostrengo guardião dos valores tradicionais e intocáveis do passado feito a cálculos de "pé-de-meia". O Adamastor é o que invoca todos os medos passados, o que mete medo pela forma não pelo conteúdo, o que tenta o caminheiro a arrepiar caminho, o que impõe o regresso à casinha de cantos conhecidos, o que inculca comportamentos e hábitos de cego: aquele que tem horror ao desconhecido e um medo terrível do futuro.

O antigo Adamastor queria "riscar" as caravelas da superfície do mar, o novo Adamastor quer:
- riscar o TGV de sobre os carris à superfície da Terra.

- alternar a Democracia com a ditadura para bem poder impôr leis e governar.
- ditar o que a comunicação social deve publicar para evitar maus pensamentos e maus-olhados.
- arrasar toda a política (todas as medidas) anteriores; regressar às mezinhas do contentamento universal.

A luta dos navegadores com o velho Adamastor não passou de um episódio épico, contudo único. Quantos episódios e réplicas, Portugal ainda terá de viver e suportar até se desenvencilhar e vencer definitivamente todos os Adamastores pais, filhos e netos. E finalmente poder continuar a singrar afoitamente, descobrir descobrindo-se a sí mesmo no mundo sem complexos.

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quinta-feira, junho 25, 2009

MFL, A ENTREVISTA

1. Quando a Prisa comprou a TVI e colocou lá o "Cardeal" como administrador-delegado, a conversa da eminente "ordem ministerial" para mudar a linha editorial a favor do governo foi a mesma de agora. E viu-se, vê-se, a mudança: a linha editorial virou, e é, tão somente, guerrilha contra o governo.
Quem foi que disse qualquer coisa como: «não pode ser a comunicação social a seleccionar aquilo que diz»?
Quem correu com MRS da tvi? E para onde foi predicar o professor com total liberdade?
2. Uma pessoa nunca mente a sí próprio, é contra-natura porque seria desmentir o próprio pensamento: uma impossibilidade. Ora se essa pessoa pensa que, colocada na posição de PM nunca permitiria que um negócio da PT pudesse ser feito sem o seu conhecimento e seu aval, logo vê que outro PM qualquer também tem de conhecer o negócio e seus pormenores: vê-se a si na pele do outro e proclama a sua "verdade". Contudo esta "verdade" absoluta, refexo dum carácter desconfiado, pode e tende a esconder uma absoluta mentira.
3. O discurso de MFL, tal como das 28 oraculares pitonisas da economia caseira, é o de meter medo aos portugueses, fazer estes arrear as calças, castrar qualquer sonho de suplantar a mediocridade, de colocar os portugueses não "maluquinhos dos combóios" a ver passar combóios.

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quarta-feira, junho 24, 2009

UMA HISTÓRIA GORJONENSE V


DA EMIGRAÇÃO, A "SALTO"
Para fugir à pancada de marca grossa do pai, recém-regressado a casa, deixou a escola, mal entrara, e aos oito anos foi trabalhar prás hortas como "moço de servir". Aos catorze anos voltou a casa, já sem pai, e foi trabalhar prá "Casa Pinta" dos Agostos, como rapaz para todo o serviço de masculina dureza às parelhas de lavrar, à rabiça do arado, à enxada e machado ou à vara comprida do varejo de frutos secos. Ao serviço desta casa esteve dezoito anos ininterruptos, tal a fidelidade, entrega e sobretudo a dedicação posta no seu rude trabalho de sol a sol. Já homem de calos altos e gretas fundas em mãos pretas e rijas como ferro, olhava para a leva de amigos que davam o "salto" para França, e que o faziam matutar à hora do descanso e lhe soltavam o sonho à noite na tarimba.

Precisava de arranjar o dinheiro para pagar o bilhete de passagem ao "passador". Tinha de trabalhar ainda mais no duro: ingressar nos grupos do trabalho para a élite dos rijos e tesos a quem eram dados trabalhos à tarefa e pagos conforme a quantidade produzida. Assim, foi trabalhar para as comionetes de carga dos empreiteiros de estradas que carregavam brita nas pedreiras, paga à camionete: grupos de dois ou três homens lado a lado, em plena forma e força física carregavam à mão e força de perna e braço, sem parar, camionetes de brita ao desafio uns com os outros. Dias, meses e anos neste repetitivo fatigante trabalho que só os duros "como um moiro" aguentavam, levava-os a uma destreza de movimentos e manipulação da forquilha, que faziam destes homens verdadeiras máquinas de alto rendimento sem falhas ou avarias. Deste modo árduo e altamente esforçoso, conseguiam aumentar em cinquenta por cento o número de carradas diárias e o salário de modo correspondente

Três anos três, andou o Virgílio, nesta labuta de moer ossos e secar carne, para poupar o necessário custo do "salto" e ainda ficar com algumas sobras para despezas de viagem, e provisão de adaptação e imprevistos na nova situação. Dez contos era o preço de mercado naquela altura: estava desconfiado, o Zé Apolo, um ano antes, abalara por sete, contudo sabia que tinha corrido tudo bem, quer o "salto" que fora fácil, quer o arranjar trabalho e papéis em França, e isso animava-o. Já tinham ido tantos e estavam bem: ele não era menos que os outros e isso determinou-o. Havia ainda um pormenor importante a tratar: tinha de saber fazer o nome para assinar os papéis em França e provar que sabia ler e escrever. Também para resolver essa situação já havia negócio próprio e adequado e, com um mês de frequência bem pago na "escola" certa, aprendeu a rabiscar o nome, soletrar e ler uma carta e assim obter o apto de emigrante a "salto".

Ele, o Florival, o "Joquenito" e mais dois dos arredores, meteram-se no combóio e desembarcaram na Guarda à noite onde um taxista avisado aguardava e os levou para uma casa de campo isolada. Aqui fez-se a conferência administrativa: verificação de identidades, pagamentos, plano da passagem de fronteira, plano de operações para a caminhada e travessia de Espanha, aprovisionamentos de comida, água, tabaco, etc. Pela calada da noite seguinte, com o saco da roupa e despensa às costas, guiados por um "passador de fronteira" e a pé por veredas florestais, atravessaram a raia até à "casa branca", uma enorme casa de grande lavoura e muito gado que servia de apoio e ponto de reunião ao negócio do "salto". Ao contrário do prometido, foi-lhes dito que alí teriam de aguardar a chegada de mais grupos contratados vindos de diversas regiões.

Aguardaram dois dias e assistiram à chagada de vários grupos até um total de sessente e duas pessoas. Algum receio e mal estar acarretou esta espera e sobretudo o inesperado número de gente que aumentava as dificuldades de tão longa viagem clandestina: para mais de entre o grupo constavam duas raparigas jovens que suscitavam risos e conversa só para homens. Contudo era animador ver que tudo decorria com ordem e boa organização e, na hora da arrancada, o passador informou todos: «as raparigas serão respeitadas e tratadas entre todos tal qual os homens entre sí e quem se meter com elas leva um tiro nos cornos e é atirado a uma ravina com rio lá no fundo, enquanto sacava um pistolão do bolso». «Ó porra, aquilo meteu respeito e cagaço que ninguém abriu bico», diz o Virgílio, e «daí em diante o passador era como um pai: mandava e a gente obedecia sem piar».

Foram dezoito noites por caminhos e veredas de vales e cerros, planuras e montanhas, para atravessar Espanha entre a Guarda e os Pirinéus. Durante o dia estavam escondidos em casas agricolas de aldeias isoladas, escolhidas e preparadas para o apoio ao pessoal da longa marcha da emigração clandestina: a paragem de dia servia de descanso e para reabastecimento de comida e tabaco ou tratar da higiene. Pelo sossego da noite o grupo arrancava sempre guiado por um passador que em muitos percursos era substituido duas e até três vezes por noite. Não podiam falar alto nem fumar à vontade durante a caminhada da noite: só com o lado aceso do cigarro bem fechado na mão para evitar que brilhassem luzes denunciadoras na escuridão total. Num dos percursos um dos homens caiu numa ravina e foi parar ao rio onde se salvou segurando-se aos arbustos da margem e onde o passador, avisado do acidente, interrompeu a marcha e chefiou um grupo de homens para procura e salvamento do acidentado. Desde então a confiança nos passadores foi total e o grupo de desamparados clandestinos passou a acreditar que ia ter sucesso, chegar ao destino e que o dinheiro fora bem entregue.

Ao fim dos dezoito dias chegaram a um alto dos Pirinéus espanhois e na noite seguinte fizeram a travessia para França sem dificuldade. Do lado de França foram colocados em carrinhas e levados no mesmo dia para Paris junto do bairro do bidonville onde residiam já centenas de portugueses. Como o Virgílio ia dirigido a Lyon, onde tinha o cunhado, e sem saber palavra de francês e para não ser apanhado, apanhou um taxi no qual gastou o resto do dinheiro que levara e já trocara, com perdas, em francos junto dum emigrante, ususário banqueiro de bidonville. Em Lyon esteve trinta dias em casa, com saídas às escapadelas, até obter o contracto de trabalho que lhe permitisse trabalhar e requerer os "papéis" de residência e a condição de emigrante oficializado. Foi trabalhar para o "bâtiment" como servente a ganhar dois francos e meio à hora, menos um franco do que era o normal. Contudo, dada a vontade e disponibilidade para os trabalhos duros e sobretudo face à quantidade de trabalho produzido o patrão, ao fim de pouco tempo, tratou de o legalizar: «fui fazer o lugar de dois franceses sem problema» diz o Virgílio. Mais tarde arranjou trabalho como servente no serviço de manutenção da refinaria de Lyon onde permaneceu dezoito anos ininterruptos, até regressar a Portugal com a mulher doente de doença incurável.

Ainda capaz e a trabalar no duro e sem mulher à noite para companhia a vida ainda se tornava mais custosa de passar. Não faltaram madrinhas e escolheu um arranjinho: juntou-se e, sete anos serviu Virgílio uma mulher viúva e mais três serviu outra, sempre da única forma que aprendera e usara toda a vida, trabalhar no duro para a casa comum. Ao menor surgimento de leve dúvida sobre tentativa de caça ao património próprio, que lhe custara o pão amassado pelo diabo, crescia-lhe de imediato o sentimento de exploração e desconfiança que o fez romper todas as parcerias. Ainda se gaba que as viuvas lhe rondam a porta mas prefere viver só, com as suas cabras, borregos, coelhos, cão e gato na sua casa e é o meu vizinho e companheito de mesa para a bica, onde me conta os passos da sua vida. E confessa-me que pior que as mulheres, que envenenam mas não matam, são as ouriças prenhas que mijam na erva que as cabras e as ovelhas comem e depois morrem envenenadas.

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domingo, junho 21, 2009

OS ECONOMISTAS DO RESTELO

Um grupo de economistas, quase todos ex-ministros responsáveis por áreas da economia e finanças de Portugal resolveram botar avisos sobre o perigo do fim do país se as grande obras não pararem e forem reavaliadas, claro, segundo os seus pontos de vista de ilustres e doutos economistas. Os mesmos doutos economistas que ainda há um ano não só não tinham dúvidas sobre o sistema financeiro em vigor, como achavam que era o melhor do mundo e tudo girava livre, natural e magnificientemente sob o controlo automático da "mão invisível" e da douta supervisão de reputados e doutos economistas inquestionáveis. Mas, tal como na Wall Street os doutos economistas e impolutos supervisores já se haviam passado para o lado dos bandidos assaltantes de bancos, também por cá se passava coisa semelhante há anos, contudo nenhuma destas eminências deu por nada ou viu coisa alguma. Alguns andavam lá por dentro e muitos pelas bordas, contudo tão preocupados e farejantes do futuro não lhes cheirou nunca nada o presente em que viviam.
Chefia este grupo de economistas o ex-ministro Cunha que, sem ir a votos, ainda mal sentado na cadeira ministerial quiz logo, a partir das finanças, ditar o programa do governo substituindo-se ao PM eleito. Como bom portuguesinho que é, deve ter pensado do alto da sua cátedra: mas quem é este analfabeto engenheito técnico para quem eu, catedrático, tenho de trabalhar e prestar contas do que faço? Não foi caso único, já vira na televisão um, igualmente esperto, advogado de província tentar gozar o novato Secretário de Estado do ambiente a quem julgava e tratava como aprendiz de sapateito: pouco depois, devidamente alertado e admoestado, já estava respeitosamente dialogando. O ministro Cunha foi despedido e ficou calado, ou fez oposição surda, enquanto a governação cuidava do déficit e fazia render a economia de forma estrutural: desde o rebentar da crise farta-se de ser oposição e traçar planos de governo, marcando o seu espaço de economista ministeriável de grande gabarito.
Todos foram responsáveis de governação do nosso país: alguém se lembra de uma ideia económica ou de gestão inovadora, de uma tomada de posição que marcasse o seu tempo, de um feito ou acto social, técnico, financeiro, económico ou outro que ficasse inscrito na nossa memória ou História recente? A pequenez e mediocridade desta gente, mais velhos e retrógrados que os célebres "Velhos do Restelo", só sabem puchar dos galões bolorentos para retardar, parar e por fim tentar inverter qualquer tentativa e ousadia de se criar uma ambição, um desígnio que nos inscreva no mundo. Como economistas, não saberão eles que os portugueses têm mais que dinheiro para fazer as obras do TGV e as outras que se impôem para modernizar o país? Não sabem eles que um país galvanizado pode agigantar-se e deixar marcas maiores que o seu tamanho? Não sabem eles que um povo disposto a fazer sacrifícios em prol do seu país pode vencer todos os obstáculos para estar ao lado ou à frente dos outros países? Sabem, certamente, contudo o que fazem? Metem medo aos portugueses, amedrontam os portugueses, arreiam as calças aos portugues, castram os portugueses.
Terá esta gente medo que Portugal pereça ou terá, antes, medo que os sacrfícios necessários lhes belisque o bem estar de actuais bonzos bem instalados na suas condições de ex-ministros, ex-banqueiros, ex-administradores do Estado ou grupos económicos, reformados e conselheiros altamente pagos pelo conhecimento e conhecimentos que adquiriram à custa do Estado? Filhos da educação salazarista do "pobrete mas alegrete", não conseguem libertar-se da visão paroquiana, da limitação da sebenta onde não cabe o sonho, do pavor ao futuro que se borram de medo ter de o enfrentar, do seu arranjinho e consolo familiar que o que mais desejam é que o tempo pare, da sua xoxa importância adquirida à custa do nosso obscurecimento que, em detrimento do país, o que mais lhes fere a alma é o facto de poder surgir o dia de ninguém mais lhes ligar e serem apeados do seu pedestal de videntes feitos pitonisas. Infelizmente parece que ainda não é a geração de Sócrates que se verá livre deste pensamento virado para o pessimismo, para o desânimo e para a desgraça. O beato e misterioso exemplo histórico de D. Sebastião matou até hoje, qualquer veleidade de Portugal voltar a sonhar.

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BOM SENSO PRESIDENCIAL

O Presidente Cavaco Silva não se coibiu de classificar de "bom senso" a medida do governo de adiar por uns dias a adjudicação dum troço do TGV de forma a permitir que o faça o governo saído das próximas eleições.

O Presidente é Doutor Professor, logo será senhor de maior e mais elevado bom senso de escola Superior e académico, do que o PM que não irá além de uma bagatela de bom senso de segunda categoria adquirido em escola não Superior. E eu acredito piamente no apurado bom senso presidencial: basta reparar na precisão do inato bom senso e faro institivo que lhe ocorreu quando decidiu vender e desenvencilhar-se das acções do BPN, ou quotas da SLN, ou lá o que era que eu não sei bem nem sou economista.

Eu acredito no Presidente como acreditava no meu avô: quando lhe perguntava porque tinha a certeza respondia que tinha um dedo miminho que adivinhava tudo.

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sexta-feira, junho 19, 2009

POLÍTICA DO DIA

1. Os media deram guita ao deputado Nuno Melo, apelidando-o de fazer um bom trabalho na comissão de inquérito ao BPN, aconpanhados pelos deputados colegas do Bloco mais, e outros menos, porque simultâneamente lhes servia de auto-elogio em ricochete, e agora ninguém pára nem verga o jovem deputado direitista.
Até já declarou que brevemente vai ser governo e bom governo. Na próxima legislatura vamos ter dois "heróis da esperteza política" armados de retórica sofística de embrulhar a cabeça e arregalar o olho aos que julgam a política pela abundância de palavrosidade e construção de factos políticos xoxos: Nuno Melo e Rangel. Os outros, com obra feita, são arrogantes e não falam verdade mas ele ainda não foi a votos e já se sente governo e até sabe que será bom governo. Antes de ser verdade que é governo e governar já caga a sentença da veracidade do seu bom governo. Bem, se nesta altura já fala de sí assim, se um dia fôr ministro bem pode o seu PM pôr-se a pau.

2. É realmente inconcebível que Oliveira e Costa tenha sido escutado com a deferência de quem é convidado e recebido num convívio de amigos. Ver os mesmos deputados interpelando o Governo no Parlamento e vendo-os na amena cavaqueira e risota, estilo amigos à mesa dum bar bebendo uns copos, contando anedotas e escutando histórias burlescas, dá para pensar no que pensam os deputados quando inquirem.
Quase todo o mundo diz que a comissão tem prestado um bom serviço: a quem?

3. A candidatura do Moniz ao Benfica ficou-se por uma ópera bufa. Chega, faz um arrasoado de herói destemido, sem medo de nada nem de ninguém, capaz e sem dúvidas de devolver o Benfica aos píncaros antigos, mas depois remata que não se candidata por falta de tempo e falta de boas condições reunidas. Quer dizer, Moniz só se candidataria na condição de estarem reunidas as condições de vitória assegurada, sem espinhas: uma grande tirada de bosta seca à parede, foi o que foi.
Juntos, o comerciante de jogadores Veiga e o comerciante de pornografia disfarçada de notícias e telenovelas Moniz, certamente não seria o melhor par para governo do Benfica, mas de certeza não seria bom como exemplo desportivo para o país: mal por mal antes tudo na mesma como está.

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segunda-feira, junho 15, 2009

O NOSSO LUGAR COMUM



TERRA ÁSPERA, SEQUEIRO MORTO

Ó terra seca Barrocal à saída das hortas
da igreja quinhentista e torre altaneira,
abre os olhos acorda dessa pasmaceira,
ergue-te, liberta-te do molho de portas
abertas, parasitagem sentada no teu colo
do Rossio, piscando o olho de vitrina
mostruário de oferta troca e rapina
grossa de compra e venda de casas e solo
avoengo a deslocalizados. Ó terra de sol
fruto seco coroado de Nexe vertical
altivo sem idade, pai e mãe inicial,
origem limpa e única desta ínclita prole
gentílica que subiu alto e está em perda
inclinada, já pouco tens que te marque,
nem a tua estrada é tua: é do parque
do futebol onde foi o parque da merda.
Ó terra áspera, sequeiro morto às portas
do declínio sem rumo, o teu fútil critério
social único é juntar todos no cemitério,
cegos calados, comício de línguas mortas,
serviço raso a defuntos-mortos por utentes
defuntos-vivos de sonho e vontade ausentes.


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quarta-feira, junho 10, 2009

ELEIÇÕES POR CÁ



MACÁRIO
Li no ADF que o candidato Macário em reunião para debater propostas para o ambiente afirmou: «o que tanbém não vai esperar mais, garantiu, é a ligação de água e esgotos em todo o concelho». Bonitas palavras, mas estas palavras são repetições de repetições de outros candidatos e sem consequências, pelo que podemos interpretá-las com humor estragado.

Assim. Quem nos diz que, sendo este Macário o mesmo chefe edil de uma cidade que para poupar uns cêntimos (poupou?) em gasóleo pôs a frota camarária em corropio vai-vem a caminho de Espanha, quando tomar posse e verificar as contas, o financiamento e o custo das obras não vai, como os anteriores, fazer o truque do costume: rever e estudar uma nova solução porque a existente está errada, é impagável ou ficou ilegal? Mas aqui o perigo, face ao antecedente da "grande idéia" de poupança de trocos em combustível, uma vez Presidente é que venha a pôr em prática outra qualquer ideia mirabolante para resolver este problema de 10 mil habitantes do concelho.

Por exemplo. Face ao elevado custo das valas, tubagem, estações, depósitos, bombas e demais equipamentos que tais fornecimentos por rede enterrada implicam, não resolve a situação com outra brilhante e "grande idéia" do género e nos seguintes termos: « Sois uns caros munícipes mas mais caras ainda são as obras ao município, deste modo resolvemos simplificar o projecto inicial previsto e, em vez dum emaranhado de valas e tubos mais o incómodo da estrada esburacada e obras à vossa porta durante meses, decidimos distribuir gratuitamente, a cada cidadão sem rede de águas e esgotos, um balde e um penico com o respectivo manual de instruções».


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ASPECTOS DAS ELEIÇÕES II


RANGEL
Já me tinha aflorado o pensamento antes mas, a acampanha eleitoral recente, voltou a insinuar-me que passou a existir na política portuguesa uma moeda de duas faces: Paulo & Paulo. Numa face um Paulo, mais antigo e conhecido, em alto-relevo de perfil bem definido e identificado por obra própria, na outra o Paulo recém-chegado, que já havia sido posto em relevo por invento de facto-político, e de repente se quer seja elevado ao alto-relevo, embora de perfil e identificação indefinidos, de colorido indecifrável e actitude imprevista, tipo gato desconhecido à noite no beiral.

Este novo Paulo parece ser uma imitação perfeita dos truques que não dos tiques do outro e gasto Paulo: e aqui reside a sua força de actor comediante que convence desprevenidos. Ainda não foi confrontado entre a retórica da crítica ao estilo vasto e abstracto sobre suspeições ficcionadas, ou ao fait-divers fulanizado que, como bom actor fingidor, explora demagogicamente com o ar mais inocente deste mundo, com obra própria feita. Paulo Rangel vive ainda no limbo dos talentos parasitários que, na falta de realizações próprias, fundam a sua reputação sobre a crítica que fazem de outros. Com este artifício, repetido e ampliado pelos media interessados, cada esperteza proclamada cresce por inchaço mal-são: um dia será detectada a infecção. Nesse dia, penso, a moeda terá faces planas indistintas.

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segunda-feira, junho 08, 2009

ASPECTOS DAS ELEIÇÕES

PSD
O PSD ganhou eleições para assumir o poder e governar directamente? Mais do que isso, ganhou o poder de governar no governo dos outros. Como?: inibindo os outros governos de tomar medidas até que ele próprio as ordene de seu mando directo.

CDS/PP
O CDS/PP que quer à viva força arrear e despedir Victor Constâncio do BdP porque não previu que bancos asseados, e sempre bem e cada vez melhor frequentados, até a "roubalheira" monumental ser detectada, bem pode agora reclamar ao país e propor no Parlamento o despedimento de todos os administradores de empresas de sondagens que não souberam prever as votações do partido nas eleições.
Com os indícios de prova evidente como as multidões que o partido arrastava atrás do seu candidato, com as teorias explicativas que o candidato e o presidente davam à tv do seu forte e notório crescimento, não há desculpa. Com o CDS não se brinca: se não são bons adivinhos, rua.

BLOCO
O Bloco, dispara "orgãos se Stalin" como se fora setas de Cupido, para todos os lados e corações de justiceiros e moralistas desencantados da política: a juventude, porque sem vivência e história a subentendem por impressões e retórica; os invejosos, porque incompetentes olham prá gamela dos outros e não querem ser menos e ter menos; os vingativos, afastados ou corridos de outros partidos onde não puderam chegar aos lugares a que se acham com direito por graça de sua importante pessoa.
E têm acertado, logo vão continuar a disparar cada vez com mais estrondo. Até quando? Bem, provavelmente: até quando os portugueses perceberem que são disparos de Stalin e não de Cupido.

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sexta-feira, junho 05, 2009

GRANDES SUPERFÍCIES, ENGANO MANIFESTO


PROPRIEDADE E LIBERDADE
Andava eu acompanhando, de leitura, a actual discussão sobre novas instalações de grandes "Centros Comerciais" para a região do Algarve, que a proximidade de eleições locais trouxeram para a ribalta da actualidade, e constatava que mais uma vez, e ainda, os grandes trunfos dos candidatos é dar a entender quem é mais capaz de captar novos e maiores "CC" para o seu concelho. Já tinha uma ideia madura sobre esta questão, e sobretudo um pensamento assente sobre o nefasto impacto político e social que tal concentração provoca em vilas e cidades devido à perda irremidiável das "forças vivas" locais que eram a máquina da carruagem cultural e o oxigénio da transformação social harmoniosa para o progresso.
Eis que lendo um estudo crítico da filosofia de Locke deparo com este excerto: « A finalidade do governo é a proteção da propriedade, não sendo a propriedade um mero recurso económico para a maximização de proventos mas, ao mesmo tempo, o garante da independência política do cidadão face ao Estado e o fundamento do seu empenho enquanto cidadão do Estado. A liberdade e a propriedade são pensados em conjunto, não sendo colocadas em oposição mútua como mais tarde aconteceria no socialismo. Daí resultava uma consequência: um governo podia ser derrubado, se dispusesse da liberdade ou da propriedade dos cidadãos sem o consentimento dos mesmos». Segundo o autor, tal proposição filosófica, foi a fundamentação que justificou e desencadeou todo o posterior pensamento que deu origem à "Revolução Inglesa de 1688", à "Revolução Americana de 1776" e à "Revolução Francesa de 1789".
Históricamente sabemos que:

1. Na primitiva sociedade organizada "a gens", onde predominava uma liberdade e igualdade natural sem distinções, baseadas no vínculo de parentesco e da exploração da terra comunitáriamente sem hierarquias, essa ancestral igualdade e liberdade existente se perdeu com a criação do Estado moderno e suas redes de relações de produção, sociais e económicas de dependências orgânicas e hierarquizadas. O indivíduo deixou de ser um ente igual e livre entre uma hierarquia familiar e passou a ser um igual (cidadão)perante um território estatal (nacional) mas dependente e condicionado face aos desígnios de governação desse mesmo território.

2. No feudalismo, a organização política mais fielmente dirigida e instituida para representar o poder quase divino de quem detinha a posse da terra, os sem terra foram reduzidos a servos da gleba.

3. No colonialismo, os invasores destruiram a organização gentílica (de gens) dos povos indígenas, retirando-lhe as lavras e plantações próprias, apenas utilizadas sob a condição humana da necessidade de manutenção e sobrevivência da tribo. E deste modo, ao mesmo tempo que desproviam os indígenas dos meios de subsistência, criaram, a partir das suas terras cultivadas, as grandes plantações onde os espoliados locais eram obrigados a vender a sua força de trabalho a troco do pão prá boca. Com a perda da propriedade perdeu a liberdade e foi feito escravo da grande plantação.

4. Na "Revolução Russa" face às dificuldades de moldar as populações rurais e impor-lhes a produção sob os desígnios da revolução, enveredou-se por uma apropriação e concentração forçada da terra pelo Estado e desta forma, sem os meios de independência e subsistência, o povo ficou submetido à vontade inescrutinada duma reduzida elite vanguardista minoritária que se fez dona e senhor da propriedade e liberdade. Em nome da primitiva comunidade de liberdade e igualdade perdidas que seriam devolvidas, as populações foram reduzidas a simulacros humanos obedientes cegas sem vontade própria: isto é, novamente servos de senhores todo poderosos.

5. Hoje verifica-se um fenómeno de cariz algo semelhante: os pequenos comerciantes de rua estão sendo desalojados da propriedade dos seus antigos lugares de venda pelas "grandes superfícies" que concentram dentro de um único espaço toda a variedade de pequenos negócios que antes animavam e coloriam as ruas principais de vilas e cidades e eram sinais de vida nos bairros periféricos. A troca social que tal mudança provoca é demolidora: por cada emprego de baixa qualificação mal pago num "CC", fecha um pequeno negócio que empregava uma família e era o seu ganha-pão remediado. Mas o pior mal, induzido pela mudança em curso, é a transformação de centros populacionais como corpos sociais vivos, em amontoados de pessoas que vivem fechadas entre emprego-casa-"CC". Do conjunto dos muitos pequenos comerciantes saiam as "forças vivas", livres e independentes não sujeitas a qualquer espécie de relações de produção ou dependência, que criavam dirigiam ou colaboravam na imprensa local e regional, nas actividades das Sociedades Recreativas, nos grupos de teatro amador, nos clubes desportivos ou culturais, na crítica à governação da cidade e até na literatura de histórias e costumes locais. Os pequenos negócios criavam um número elevado de pessoas livres e independentes que juntos formavam escola interessada pela cidade (cidadãos) que ganhava massa-crítica suficiente para actuar como "forças vivas", isto é: tinham empenho e usavam em pleno os seu direito a exercer a cidadania.
Salta à vista que a substituição deste grupo de gente que fazia escola e impulsionava o desenvolvimento da cidade, por centenas de empregados de baixa qualificação cultural, sem tempo para leituras ou interessar-se pela cidadania, dependentes de uma hierarquia rígida sob o comando e controlo de um patrão invisível e que, a maior parte das vezes, nem se conhece, é um grande empobrecimento para a cidade. Esse empobrecimento da vida da cidade também, hoje em dia, salta à vista desarmada.

6. Mas, provavelmente, o pior ainda está por acontecer. Ou melhor já está acontecendo mas os edis e candidatos a edis fazem que não vêem. Hoje em dia, quase já desapareceram todos os tradicionais logistas de rua e, os novos negócios sobre novas tecnologias que surgem, são de imediato absovidos e sugados pela e para a grande superfície que não perde nenhuma oportunidade de oferecer de tudo para levar todos a juntar-se no seu espaço hiper.
Se estão em vias de extinção os pequenos negócios de rua, logo toda a oferta de venda que satisfazia e abastecia a cidade, quer isso dizer que a "grande superfície" já atingiu o limite ou ultrapassou a capacidade de oferta-compra dos habitantes dessa cidade. Se mesmo assim se continua a instalar, continuamente, mais e mais capacidade de mercado de oferta por meio de grandes espaços comerciais, por mais grandeza vistosa de catedral do consumo que assumam, (e as facilidades sem travão de financiamento ao consumo já vimos no que deu), vão entrar, necessariamente, numa espiral de concorrência desenfreada que levará à canibalização entre elas, e depois aos encerramentos em cadeia. Restarão imensos e grandiosos espaços de cidades em miniatura para o lazer tão procurado.

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segunda-feira, junho 01, 2009

PULHICES


1. CIRCO EM MOTO-CONTÍNUO I
JPP na sua opinião de historiador volta à carga com a mesma velha e enviesada sentença contra a tv pública, diz:

"A tvi tem certamente muitos aspectos condenáveis, mas vive do valor das suas audiências e é privadada". Depois mais à frente continua, "...enquanto ela existir(a tv pública) e não houver um governo que tenha a coragem de a extinguir, mesmo contra os interesses egoistas em que todos tem vantagens em escolher as pessoas que controlam os telejornais e as horas de circo que a televisão pública passa para distrair o povo da escassez do pão".

Logo para JPP o facto de ser privado desculpa tudo. Pode ter aspectos condenáveis mas ninguem tem nada a ver com isso porque é privada; para o povo do tudo privado e do «privado é bom», tal como no merdado financeiro e dos negócios, segundo o mais puro radicalismo neoconservador, a mão invisível das audiências é que medem e regulam os valores dos conteúdos. JPP, afinal comunga do slogan pulha do Rangel, mestre do Moniz que como todo aprendiz o que mais deseja é ultrapassar o mestre, que ripostavam e ripostam a quem os critíca pela caca televisiva atirada diariamente à cara dos espectadores, que se limitam a «dar o que o povo gosta, quer e pede». Nunca lhes passa pela cabeça elevar a educação e o gosto do público para este pedir mais qualidade, não, nada disso, só se lembram de baixar a qualidade para baixar a qualidade do pedido, num sitema de moto-contínuo ardiloso para criar telelixo-dependências e depois poder vender caro o mau por bom, o falso por verdadeiro.

Existe, contudo, uma diferênça que JPP escamoteia: o circo da tv pública (paga «pelos contribuintes»; versão letrada de «com o nosso dinheirinho»), dizem respeito a todos e é escrutinado a todo o tempo pela oposição, opinadores, críticos especializados, observadores e espectadores atentos, enquanto o grande circo pornográfico das tvs privadas, segundo JPP, é tão somente assunto de negócio e só diz respeito ao dono do negócio. O circo público é indigesto e proibido, o grande circo privado, pode ser indigesto mas temos de engolir.

Julgava-se que tinha sido por reacção política que JPP havia colocado as célebres setas para baixo. Erro puro, JPP colocou as setas para baixo tal como agora as voltou a colocar para cima, ou seja coloca-as para baixo ou para cima conforme o seu "momento vesgo" conveniente.

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