sexta-feira, novembro 28, 2008

MARAFAÇÕES LIX


VERSO
No episódio Sá Fernandes na CML os sacerdotes guardiões da pureza vestal do Bloco despediram o vereador do templo por ter metido as mãos na política da cidade "tout court", isto é; por exercer a verdadeira cidadania democrática.

É preciso manter a virgindade, nada de casamentos, pois o himeneu obriga a derramar sangue conspíscuo e o Bloco sacrificía em nome de Ártemis: virgem casta insubmissa, mas incansável e persistente indesistível caçadora.



REVERSO
Cada vez é mais notório o casamento de MFL com PSL. Necessidade oblige. Bem pode PP dar pancadas na testa, murros nas fontes e voltas e voltas à mioleira sobre teorias esotéricas de como bem interpretar "ironias" mal-fadadas, sobre a boa ética na política, sobre boas tácticas e estratégias de médio e longo prazo, sobre os malefícios do santanismo, menezismo, BPNismo, que não vencerá a comezinha e premente necessidade da acção política do dia a dia. Para desgraça de MFL a sua fraqueza eleitoral interna vem crescendo à medida que faz propostas aos portugueses e restam-lhe poucas tropas. Logo é preciso ir pescar tropas onde as houver nem que seja nos charcos.

Contra esta necessidade imperativa da sua estimada MFL tentar manter-se à tona da realidade da acção política, PP nada pode fazer senão ficar desmoralizado quando observa a rápida ressurreição e aperecimento de PSL, seu arqui-anti-ideal político, pela mão da sua própria amiga. É o que denota, de uma ponta à outra, o seu último artigo "Tempos Sombrios" no jornal "Público".

Os pensadores interpretadores de ideais políco-económico-sociais, quando a realidade os contradiz, acabam quase invariavelmente em uma destas duas situaçõs: ao estilo apocalíptico fanfarrão de VPV afirmando categórico que Portugal não tem futuro; ou ao estilo vencidos-da-vida de PP, mal-dizendo e lamuriando-se da política.

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quarta-feira, novembro 26, 2008

ENGANO MANIFESTO II


O ENSINO TRAVESTIDO
A professora Jacinta Moreira utiliza música de Maria Bethânia com fundo rap para ensinar biologia de reprodução e afectos, e por tal prática de ensino foi premiada. É mais uma das mil e uma invenções psicológicas para fazer do ensino uma papa de gostos e sabores para os meninos engolirem sem mastigar. Começa no básico, depois no secundário os professores preocupam-se grandemente a fazer passar o conhecimento através de truques, reconhecendo implicitamente, elas próprias, e dando a entender aos alunos que as matérias e o conhecimento são uma xaropada intragável que se deve disfarçar de algo diferente. É o ensino travestido de sopa de pedra.
Mas o pior ainda é a ideia que se transmite ao aluno de que pode obter conhecimentos científicos sem concentração, sem estudo atencioso, sem trabalho dedicado, sem o esforço de entender os fundamentos do conhecimento que estuda. Nada de matar a cabeça dos meninos, é preciso é arranjar uma astúcia de modo a "levar" os meninos ao engano: para não "chamar o guarda", "o polícia" ou "a bruxa má" que são traumatizantes, chamam a música, os jogos, as brincadeiras, as histórias de fadas, a cantiga, o rock, o rap etc., que são aliciantes, para ludibriar o "natural" desinteresse das crianças pelas matéris de estudo. Mas numa criânça o que é natural é o interesse pela novidade, pela primeira vez, pela descoberta logo pelo descobrimento contínuo que é o conhecer pelo ensino.
Não existe maior engano que não dizer e explicar a verdade pura e crua mesmo que, no momento, seja dura de ouvir e entender. Aos alunos deve ser transmitida, desde o início, desde o primeiro dia de escola, a verdade sobre os sacrifícios individuais necessários para obter saber e que só com esforço pessoal e trabalho se pode obter um saber fundamentado que seja ferramenta útil a si e consequentemente à sociedade. Tudo o resto são artifícios manhosos de facilitismo para nos enganarmos a nós próprios e que levam os alunos a racionalizar a ideia de que o ensino é uma droga de remédio e o saber uma doença prejudicial perturbadora do doce bem-estar mental e físico, e como tal um mal não necessário, não querido nem desejado e por conseguinte rejeitado.
No básico finge-se que o ensino são jogos e brincadeiras; no secundário finge-se que é música; no universitário finge-se que é um canudo de emprego; e depois na vida prática temos gente que finge ter conhecimentos. Não se percebe, nunca percebi, porque se hade envolver a aprendizagem na idade juvenil com aliciosas fantasias e não confrontar os alunos, desde a primeira hora, com o princípio da verdade da realidade. As ciências, contém em si mesmas, uma beleza de conteúdo explicativo da ordem da natureza, que por si só são suficientes para despertar o interesse pelo saber. O que é preciso é saber expor a ciência retirando-a racional e fundamentada da ordem fantástica da natureza e não da fantasia.

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domingo, novembro 23, 2008

GORJÕES ILUMINADO, MINADO, MINADO.





À falta de rede onde despejar a nossa merda dá-nos a CMF uma rede de luzinhas de merda. À falta de nos iluminar com a luz real da civilização, ilumina-nos com a luz da fantasia. À falta de nos dar contas do nosso atrazo de vida, dá-nos a vida do faz de contas.

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terça-feira, novembro 18, 2008

SEM CANTO NEM ARMAS, UM DESENCANTO.


MANUEL ALEGRE
Não suporta os tiques autoritários da ministra.
Não suporta a falta de cultura democrática da ministra.
Não suporta mais o posso quero e mando deste governo.
Prevê, preocupado, que por este andar o PS perca votos, a maioria ou as eleições.

A utilização de uma linguagem brusca e expressiva de estados de alma: "não suporto, não suporto mais" é sintomático de emoção e não de razão. Com a sua idade admito que já não tenha paciência para aturar certas coisas, mas se a não tem também não serve, hoje em dia, nem para chefiar politicamante a oposição a uma Junta de Freguesia quanto mais um partido político ou um governo. Por isso mesmo faz, ao seu estilo troante, o mais fácil e de ressonância mediática instantânea: critíca de dentro o seu próprio partido. Se tivesse responsabilidade governativa e efectivamente governasse com base no que pode ou não suportar pessoalmente, rápidamente, numa situação semelhante à que enfrenta a ministra, a sua cultura democrática iria direitinha a um qualquer autoritarismo iluminado ou mesmo parar num qulquer despotismo esquerdista.

Depois de declarar troantemente, à maneira de um deus grego poderoso e implacável, que não suporta isto e aquilo, desce, do alto do seu auto-cultivado estatudo de consciência moral do partido, para a política mais rasteira e comezinha da contagem dos votos; isto é, da política da contabilidade e caça ao voto. As suas lutas trovejantes, contra o próprio partido, que ninguém cala (resíduos tóxicos, presidenciais, urgências-maternidades, professores), afinal tem como fito o benéfico e substancial aumento de votos no seu partido. Está explicado porque é deputado desde a Constituinte e merece continuar.

MA ainda não digeriu racionalmente a derrota nas primárias do PS e, depois da relativa mas improfícua victória interna nas presidenciais, não pára de confrontar-se com o seu fingimento de que quer assumir a canseira da acção política, um calvário na actualidade, em detrimento de estar bem sentado na poltrona da AR, da caça, da pesca e da escrita. Longe vão os tempos que MA, no canto e na acção, antes e depois do 25 Abril, lutava contra a imposição duma classe sobre as outras, pela liberdade. Cego, talvez pela miragem de um projecto político pessoal, até se esquece que uma victória de uma classe obtida na rua sobre um governo democráticamente eleito por todas as classes da nação, é uma perda de liberdade face à captura do Estado a quem foi outorgado garantir liberdade igual a todos os cidadãos. MA não vê, ou não quer ver, que de uma multidão algo dionisíaca, virada de suplicantes a menádes celebrando os ritos do culto na rua de igreja própria, só pode terminar com o rolar de uma cabeça, de outra e de outra se para tal sentir força e até pode acontecer fazer rolar a cabeça da sua cantada querida e amada liberdade.

Numa, já não muito recente, querela que travou por causa de não ser incluido para uma antologia poética, os responsáveis pela escolha dos poetas antologiados, justificavam a sua não inclusão porque, diziam eles; "MA era o poeta maior dos poetas menores". Também agora, politica e moralmente (luta contra Soares), arrisca-se a ser considerado, ou ficar na história, como o político maior dos políticos menores.

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segunda-feira, novembro 17, 2008

EDUARDA CHIOTE, NÃO É PRECISO GRITAR



Acabo de receber pelo correio o novo livro da vizinha e amiga amiga familiar Eduarda Chiote "NÃO É PRECISO GRITAR", edição de "Campo das Letras". O título, segundo me diz, deve-o ao Armando Silva Carvalho, grande amigo de estimação da Eduarda e nosso também. O lançamento está previsto para o próximo mês em data e local ainda não marcado, e só em caso de força maior não estaremos presente.
Já li os primeiros três contos e mais uma vez, como nos livros anteriores, sinto uma falta de formação em psicanálise para bem poder interpretar "os mundos sujos porcos e maus" envolventes reais mas recriados ficcional e psicologicamente para caracterizar as personagens e o meio, subterrâneo invisível mas pressentido, onde se movimentam tais personagens de dois mundos e duas condições distintas. Mesmo assim, julgo reconhecer aquela Sofia e o seu mundo, ou melhor e especialmente o seu sub-mundo promíscuo, tão bela, radical e fielmente retratados, através dessa "refinada sordidez", como lhe chama Maria Velho da Costa, ou do "sórdido marginal teatralizado", como diz e quer que seja a Eduarda.
Uma apreciação mais informada fica para depois da leitura e releitura/s completa da obra que, tudo indica, pelas primeiras e boas notícias críticas que chegam dos amigos literatos entendidos, levantou outra vez bem alto a chancela da qualidade literário-poético da marca Eduarda Chiote.

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sábado, novembro 15, 2008

25 ANOS LUZ


Vinte e cinco anos-luz são: 25x365x24x360x300.000 = 23652.000.000.000Kms; vinte e três mil, siscentos e cinquenta e dois mil milhões de quilómetros. A esta distância o homem descobriu que existe a estrela Fomalhaut na constelação Peixe Austral. Para além desta constelação existem ainda outras distante desta outro tanto e mais ainda até ao inimaginável.
Segundo uma modesta bíblia que possuo ao 1º dia Deus disse: "«Que exista a luz». E a luz começou a existir". Ora se Deus levou luz até para além do limite do imaginável e por conseguinte do pensável, como podemos nós imaginar e pensar Deus? Como podemos ter uma idéia racional de Deus? E se levou a luz levou igualmente as ervas, árvores, águas, animais e o homem e mulher que criou nos dias seguintes da mesma forma que a luz; sem discriminação de lugar. Mas isso ainda não sabemos, só quando o homem o descobrir; os mistérios de Deus continuem sendo os mesmos que os dos homens.

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sexta-feira, novembro 14, 2008

JOÃO BARRA BEXIGA - CONFISSÕES II



APCgorjeios, no seu contributo para a homenagem em curso na Freguesia sobre as reconhecidas e incontestadas qualidades de carácter e obra de acordeonista e conpositor que é João Barra Bexiga, deixa aqui a 2ª parte, em video, da conversa que teve com o Mestre e Homem notável e raro.

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quinta-feira, novembro 13, 2008

JOÃO BARRA BEXIGA - CONFISSÕES I


O apcgorjeios associa-se inteiramente e com muito gosto de alma e coração à justa e merecida homenagem em curso, em boa hora apadrinhada pela Junta de Freguesia, ao Grande Mestre do Acordeão de Bordeira, João Barra Bexiga. Continuador de outro grande Mestre, José Ferreiro (Pai), tal como o seu conterrâneo amigo e modelo exemplar de artista, foi igualmente criador-inventor de arte musical por força imanente do seu espírito de pesquizador perscrutante dos sons tirados dos dedos. Sem ensino de acordeão nem educação musical, tal como o Aleixo fez belos versos sem saber escrever, compôs magníficas e belas melodias de elevado grau de qualidade harmónica e dificuldade interpretativa. Amante do belo foi permanente apaixonado platónico de mulheres bonitas que lhe insinuavam na mente a Musa inspiradora e lhe despertavam a veia da criação em catadupa.
Como contributo para melhor compreender os mecanismos mentais que conduziram e conduzem ainda, felizmente, este Mestre compositor e acordeonista de elevada craveira para o meio e condições de auto-didata que o envolveram e cercearam vôos mais altos ainda, aqui deixo a 1ª parte de uma conversa com o Homem e compositor em Julho de 2005.

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quarta-feira, novembro 12, 2008

MARAFAÇÕES LVIII

PROFESSORES II
Alunos de uma escola vieram para a rua "apedrejar com ovos" a ministra da educação e fizeram mais uma festa imitativa das muitas manifs "espontâneas" dos profes que esperavam o PM nas suas deslocações. Uma menina já senhora declara que "estamos aqui todos, alunos e professores" pelo que pressupôe uma presença incentivadora dos que deviam ser os seus educadores.
Os meninos, por agora, fazem tal protesto contra a ministra com o consentimento dos professores e um dia fá-lo-ão contra os próprios professores que hoje lhes ensinam ou consentem fazer tais protestos. Depois acusam o ministério de violência e falta de autoridade nas escolas e pedem "força policial" à porta. Agora estão plantando uma Educação ao seu jeito, pela força com a ajuda dos alunos, talvez um dia os alunos de sua colheita queiram, por educação e imitação, implantar pela força a seu jeito, uma Educação contra os professores. Os próximos episódios do prec educativo já estão programados, e a festa continua.

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terça-feira, novembro 11, 2008

MARAFAÇÕES LXVII

1. PROFESSORES
Assisti, desde a passagem da cabeça da manisfestação no Rossio até à passagem da cauda nos Restauradores, durante cerca de duas horas, à grande manifestação de má-vontade dos professores contra a avaliação e não carreira única. Quem passou pelos vários graus de ensino sabe, de experiência própria, que em cada e todas as escolas há um restrito núcleo de bons e dedicados professores vocacionados para ensinar e que valem ouro, enquanto um largo grupo cumpre o dever a que está obrigado mais preocupado consigo próprio e a carreira do que com a escola e o ensino, e ainda resta um razoável naipe de professores feitos a martelo que o são apenas como modo de vida e futuro garantido que nem a receita pré-estabelecida são capazes de aplicar devidamente. Estes últimos são irrascíveis quanto a qualquer mudança, os cumpridores indiferentes deixam-se arrastar pelo medo a alguma perda de privilégio e fazem grupo com aqueles e tornam-se, em algumas escolas, grupos activos maioritários enquadrados e dirigidos por sindicalistas com objectivos partidários.
A síntese perfeita do espírito da contestação está nas declarações da professora Beatriz Duarte ao "Público" do dia 9 : -Se for preciso, manifesto-me todos os fins-de-semana-. Nem mais nem menos, o trabalho de avaliação é uma canseira insuportável para a qual não está disponível, para tal peditório não dá o seu tempo, mas se for preciso dará todos os fins-de-semana para desfilar semanalmente em Lisboa ou qualquer lugar do país. A professora acha que dar algum do seu tempo extra ao serviço do ensino estorva insuportavelmente a sua vida pessoal ou familiar, mas está alegremente disponível para, durante a semana reunir, discutir, estudar, preparar e organizar a deslocação e sobre esse tempo ainda dá mais tempo, e duro, para desfilar um dia inteiro em marcha lenta cantando, dançando e apregoando slogans. E se entender necessário fá-lo-á todas as semanas, e viva a festa.

2. BPN
Acerca do BPN já todos os comentadores, opinadores, politólogos, articulistas, editorialistas e tuti quanti disseram que o estado financeiro do banco desde há muito era um segredo de polichinelo "que vinha de longe", comentado à boca cheia por todos mesmo aqueles pouco informados. Contudo todos, feitos polichinelos, guardaram segredo do caso e os mesmos todos apontam agora o dedo acusador ao supervisor BP, quer dizer, aos outros.
Até o jornal "Público" tão atento a investigar pela devassa a carreira escolar e vida privada do PM, e sobretudo tão zeloso do bem público que não se coibiu de bufar na praça pública a perneciosidade de o PM ter fumado um cigarro proibido num avião durante uma viagem, agora não foi capaz de investigar e esclarecer os portugueses a tempo, com manchetes a condizer, o caso do BPN embora dele tivesse fundadas dúvidas e provavelmente muitas certezas incómodas.
A política em Portugal faz-se sempre através de overdoses de fingimento interpretadas, sem a respeitável máscara de comediantes, por puritanas carpideiras de serviço.

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quinta-feira, novembro 06, 2008

O MEU LUGAR XXIII


NOME ESTANCO


Escolhido lugar de casa de pedra e cal

junto da terra plana fértil reprodutora

de graciosa doce grata grada semente

matéria prima de gostosa ceia de casal

abençoada pelo canto da gorjeadora

passarada noite e dia camaradas rente

ao mato lavras árvores casas e quintal,

um dia gente de altos mares navegadora

de naus e caravelas em contra-corrente

arribaram a este lugar luminoso e total

mente amassado à terra deusa criadora

primitiva. Traziam consigo tal gente

de terras de Santa Cruz planta tabacal

receita médica de paz estancadora

de mal-estar e desassossego frequente.

Lugar de clima certo montaram arraial

tabaqueiro estância-seca-venda autora

de nome Estanco pai mãe corpo ventre

parideiro da alma deste lugar original

seco duro áspero mas tido como se fôra

habitar um pequeno paraíso permanente.

terça-feira, novembro 04, 2008

HOJE HÁ BERBIGÕES

O blog "Hoje há Conquilhas" colocou o dedo primindo na muche da ferida mental do mesmo grupo de pensamento que acha que vender o "magalhães" numa reunião de alto nível é sujar as mãos numa tarefa humilhante e como portugueses fidalgotes punhos de renda, por arrastamento, se sentem "envergonhados", "chocados", "humilhados", "desconsiderados", enfim: sentem-se ofendidos na importância que atribuem a sí mesmos transposta para a figura do PM. E são os mesmos que aplicam a torto e a direito o epíteto de "arrogante" a quem agora dizem que se rebaixou à condição de caixeiro-viajante. Afinal de que lado do pensamento político está a arrogância? Aquela arrogância da velha nobreza falida que preferia vender as terras a sujar as mãos nelas, explorando-as.

A mesma arrogância intelectual dos que, pura e simplesmente por questões "de vista", não querem nem podem ver contentores pela frente no porto de Lisboa, a actividade portuária, tão importante à economia da cidade e do país. Que vale isso perante a perda "de vistas" de quem vive da inspiração que os passeios ou esplanadas, ou bares junto ao rio proporcionam? A velha e romantica actividade dos guindastes chiadores e dos estivadores sujos de ferrugem e carvão, que inspiraram tantos romances do neo-realismo, já não dizem nada aos novos escrevinhadores de grandes calhamaços jornalísticos. A crise, o desemprego, a pobreza, os indíces cauda da Europa, etc., são palavras sempre na boca de tais pessoas em defesa dos desprotegidos, contudo são incapazes, face aos monumentais interesses de "suas vistas" de relacionar e equacionar os interesses "de vista" com os interesses "de vida" desses a quem amam em particular mas desprezam em geral.

A mesma arrogância intelectual dos que, pura e simplesmente por quetões "de vista", deram em dizer e escrever sobre "a porcaria do Algarve" depois que a construção pato-brava lhes invadiu as vistas de mar, praias e arribas naturais e virgens. O Algarve deveria manter a sua integral virgindade para deleite das vistas, dos passeios, do repouso, dos banhos de mar limpos, da calma e sossego necessários à descida à Terra das musas inspiradoras. Um Algarve a abarrotar de turistas pé-descalço tatuados, de alentejanos, de beirões e nortenhos, de restaurantes-tascas de sardinha assada por todo o lado, para o snobismo português não passa de "porcaria" ou "mixórdia" como lhe chamou um antigo polícia, depois escritor de telenovelas e actualmente autarca.

Também os farenses bem pensantes andam danados com o caminho de ferro que lhes tira o acesso, as vistas e o gostoso lazer de desfrutar da Ria. Na maneira como abordam a Ria jamais pensam nela na potencialidade da sua actividade económica tradicional, mas apenas e sempre na perspectiva do turismo. A Ria nunca é pensada de forma a conciliar, de forma técnica actual e eficaz, a sua antiquíssima actividade marinha produtiva com a turística futura. Não, querem hotéis arranha-céus ou tipo cobra ao estilo árabe, para ser modernaço, e querem arrancar a linha e Estação CF da Cidade para limpar as vistas e fazer felizes os olhos dos farenses. Os lisboetas inventaram o slogan "devolver o rio aos lisboetas" e os farenses modernos repetem o mesmo com a Ria. Será que não é possivel, com as possibilidades técnicas hoje en dia ao dispor do homem, conciliar uma zona ribeirinha alargada com o caminho de ferro existente? Tiram o combóio para fazer uma avenida coberta de carros a mirar e a tapar a Ria? Para isso, bem melhor e muito mais bela é a visão de ouvir o apitar e ver passar em marcha lenta sobre a doca o tradicional combóio, mantendo a traça e o traçado antigo do centro histórico da Cidade. Basta que se alargue a zona ribeirinha atrás da linha, se lancem passagens superiores e inferiores bem localizadas para a Ria e não permitir qualquer construção em altura nezssa zona. E nesse lado-de-lá-da-linha instalar infra estruturas de desportos e lazer náuticos e outros que não colidam ou agridam o ambiente nem o "ar" da Cidade tal como ela é. A cidade deve crescer e alargar-se sem se travestir, deixando sedimentadas as marcas do seu evoluir histórico.

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segunda-feira, novembro 03, 2008

A VERGONHA À PORTUGUESA


Pacheco Pereira, os brincagalhofeiros do "eixo do mal" e muitos pensantes bloguistas acharam-se "envergonhados" e até "chocados" com a actitude do PM de querer vender o "magalhães" na cimeira ibero-americana. Nem podia ser de outo modo, do alto da elevada magnitude estatutária e dignitária das suas profissões de pensadores escrivinhadores e palradores de cu gordo fofamente assentado, baixar-se à humildade de "vendedor", mesmo que isso represente um bom serviço, uma necessidade e um bem indispensável na actualidade do país, seria como jogar toda a família na lama até à 5ª geração. Ora se assim entendem, tão elevada, enlevada e sentidamente, que devido à sua própria importância jamais se rebaixariam a tal condição de "caixeiro-viajante" como o podiam admitir num Primeiro Ministro? Claro, se for numa embaixada do Chefe de Estado com meia dúzia de Ministros e Secretários, uma centena de empresários e uma centena de jornalistas, todos metidos num avião em evidente missão de caixeiros-viajante, aí sim, nessa situação os "vendedores" são revestidos de ungida dignidade.
A desgraça da política portuguesa está exactamente nesta mentalidade mesquinha e provinciana de ver a política através da altura do "lugar", da "importância", da "dignidade", da "nobreza" (caso de PP), em suma: da "vergonha". Não percebem estes senhores, que se limitam apenas a falar para o ar sentados de cu afofado em cadeirões e só entendem a política feita dessa maneira vista pela grandeza da sua imagem, que é precisamente por isso que não valem nada e ninguém os quer como vendedores, nem prestam como políticos.

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sábado, novembro 01, 2008

UM CAMINHO A PERSEGUIR


No supermercado, enquanto lia o jornal, ouvia duas mulheres ainda jovens conversar calma, pausada e inadvertidamente, olheia-as e ouvi uma delas, serenamente, dizer: "...paciência, nasceu assim, temos de aceitar, todos temos um caminho a perseguir".
Logo pensei que quereria dizer "um caminho a prosseguir", um caminho traçado do qual não podia fugir, pensei até que teria empregado o termo "perseguir" no sentido de "prosseguir". Mas eu ouvi ela repetir "o perseguir" e fiquei pensando no sentido não determinista e flexível de destino que se obtem utlizando tal termo. Dizer "um caminho a perseguir", no sentido de um destino que se persegue contém um pensamento de conteúdo elevado acerda da liberdade e da livre escolha. A ideia religiosa diz que o homem é totalmente dominado por forças exteriores transcendentes que o obrigam, que o dominam, que o manipulam como títeres nas mãos do destino e da necessidade. A ideia libertária diz que o homem é inteiramente senhor do seu agir, nenhuma força o obriga, é autor do seu caminho de pleno acordo com a sua vontade e livre-arbitrio. De um lado uma total dependência e ditaturial não-liberdade absoluta; uma fatalidade. De outro lado a inocente e ingénua liberdade absoluta; uma impossibilidade.
Entre estas duas posições, esta mulher cheia de sabedoria que ouvi no supermercado, definiu o destino como qualquer coisa muito menos rígida, e muito mais plástica, que os extremismos religioso ou libertário. Imagine-se a perseguir algo que foje, algo que tenta fugir e escapar-se de nós, algo como correr atrás de um ladrão que nos roubou. Esta imagem-situação torna imediatamente claro que o destino não tem de ser obrigatóriamente um caminho pré-determinado, ao contrário será um caminho incerto sob a pressão da liberdade e da necessidade: o ladrão tende a escapulir-se inventando, descobrindo ele mesmo, em cada momento o seu caminho próprio, mais propício à sua liberdade, ao sabor dos imprevistos surgidos no decorrer da fuga. Nós perseguimos, no encalço do ladrão, o seu percurso mas simultâneamente vamos inventando, descobrindo o melhor caminho, mais propício à nossa necessidade de o interceptar, caçar e interpelar. Segundo este ponto de observação podemos dizer que o destino é o "jogo do escondido", um jogo do gato e do rato, um contínuo buscar, perseguir e interpelar.
Os antigos já tinham dito que o caminho faz-se caminhando, pois esta mulher ensina-nos que o destino faz-se perseguindo-o. Por isso ela encarava a sua situação não sob uma resignação acabada mas sob uma aceitação lógica a ver e perseguir no tempo, serenamente, sem imprecações e maldições piedosas sobre a sua pouca sorte. E estou totalmente de acordo com a lição desta mulher simples, mas sábia. E muito obrigada a ela por isso.

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