sexta-feira, dezembro 28, 2007

ANO NOVO


ESPERANÇAS

Se o Natal é uma troca de prendas miúdas e de palavras de circunstância, o Ano Novo surge, anualmente, como a prenda sempre ressuscitada sob a forma de um cabaz de esperanças. Os governantes do mundo contam histórias de sucesso e futuros risonhos que nos enchem a alma de esperanças. Os bem instalados transmitem-nos pelos média dados e estatísticas que provam que o novo ano vai ser bem melhor e enchem-nos a cabeça de esperanças. Os vizinhos e conhecidos dezejam-nos grossas prosperidades e enchem-nos o corpo de esperanças. Os amigos afiançam estar sempre ao nosso lado para o que der e vier e transmitem-nos amizade imorredoira que nos enchem o coração de esperanças. Os familiares que estão próximos fazem connosco projectos em comum que são estímulos à esperança de boa vida. Depois a vida vem, o tempo passa, não damos por nada além de mais um período de envelhecimento que veio e um período de esperanças que se foram minguando até caberem num sopro.
Contudo, quando se olha para trás, vimos que a vida mudou substancialmente e o mundo da nossa juventude já só existe na memória de, "no meu tempo". O nosso tempo é curto, limitado e uniforme e a imaginação racional é ilimitada de formas e conteúdos. Pelo imperativo moral gostaríamos de comandar o mundo sob o impulso do bem mas a nossa condição de bicho da natureza impõe-nos uma sujeição corporal às forças naturais. Somos inescapáveis tal qual todos os seres vivos. Bem vimos no tsunami da Indonésia como gordos e ricos turistas que se julgavam poderosos senhores a desfrutar a doce vida, boiando desesperadamente à procura de uma tábua de salvação, tão pequenos e impotentes como os pobres criados locais, perante a revolta da natureza.
Pensamos que podemos moldar o mundo e as pessoas segundo o nosso entendimento de bem e que o devemos fazer a todo o custo enquanto estamos activos. Alguns já o tentaram mas passados anos tudo regressa ao andamento a compasso com a mãe-natureza, pela força impositiva da sobrevivência e renovação dentro do tempo. Tudo o que é cometido fora de tempo e sai fora do tempo acaba por ser engolido, circunscrito e obrigado a colocar-se nos carris da história.
À semelhança do conceito grego apolíneo de que o homem é a medida de todas as coisas, o homem técnico moderno pensa que a sua vida é a medida da história. O homem moral acha que durante o seu período de vida a história deve atingir a meta da felicidade universal sobre a terra e deste modo terminaria a história da barbárie humana e regressávamos ao paraíso da idade de ouro. Este mito é a mãe de todas as esperanças e tão forte que já houve quem filosoficamente propusesse o fim da história com a criação dum paraíso social terreno. Todas as experiências têm levado a inomináveis tragédias, contudo a esperança sobrevive e alimenta sempre a vontade e tentação de conseguir realizar o pensamento.
Lembremo-nos que na caixa de Pandora só constavam males e esperança, os males soltaram-se e foram à vida para maltratar a nossa e a esperança ficou presa entalada a espernear impedida de realizar a sua missão.

terça-feira, dezembro 25, 2007

NATAL


TROCAS

É uma aflição de gente nas lojas, shoppings, fnacs, etc, assoberbados de embrulhos ou de listas em punho junto dos artigos apelativamente expostos. Junto das caixas registadoras há fila permanente para pagar e depois filas para embrulhar nataliciamente as prendas. Os telemóveis apitam e indicam dezenas de mensagens recebidas depois de outras tantas enviadas. As cidades, vilas, aldeias e até os pequenos lugarejos perdidos no barrocal ou na serra, estão emfeitados de luzes desenhando motivos alusivos à quadra.
Não há dúvida é Natal. Ninguém fica às escuras, ninguém fica de fora, ninguém consegue escapar à omnipresença de tal Natal.
Este Natal normalizado é um frenezim de trocas de prendas e de palavras. A troca de prendas movimenta o comércio e ajuda o emprego, a troca de palavras, quase normalmente, movimenta esperanças e ajuda ao ruido piedoso-paternalista. Nos jornais e televisões aparece todo o tipo de pré-fabricados em linhas de montagem de notoriedades a trocar palavras connosco, sem nosso consentimento, desejando para nós o que eles gostam de ser e gostariam de transformar a nós e ao mundo. Estes "notados" do palavreado invariavelmente insinuam que "...se pudessem davam às pessoas, especialmente aos mais desfavorecidos, tudo o que elas precisam para serem felizes". A aldrabice está em que estas luminárias sabem que não podem nem fazem nada para um dia poder fazer o que dizem que fariam "se pudessem". Aliás, se tal acontecesse essa gente punha em risco automáticamente o seu chorudo ganha pão que é precisamente a exploração do analfabetismo cultural da maioria, e como tal trata-se tão somente de palavreado de circunstancia. São os novos vendedores de banha-da-cobra, propagandeiam esperanças e depois vendem ilusões.
Exemplos, no "Correio da Manhã" de ontem: um gostava de oferecer um estado de direito para o país, outro gostava de dizer umas coisas aos políticos que governam sem vergonha a vergonha do país que temos, outra gostava de fazer feliz todos os que ficam de fora e andam tristes.
Vindo de tais notados a interpretação só pode ser; o primeiro quer dar ao país "um estado de direito", claro aquele "um" é o seu estado de direito pessoal. O outro queria dizer umas coisas aos sem vergonha dos políticos mas, ele que passa os dias de microfone à boca, queria mas não diz, pura falácia de boca medrosa e do faz de conta. A outra, patroa da má língua, quer dar mas passa a vida vendendo felicidades postiças e efémeras na televisão, não só no Natal mas diariamente bem se esforça a dona para dotar os portugueses e portuguesas da sua sorridente felicidade.
Rapare-se que esta gente nunca fala do que quer receber mas sim do que gostava de dar. O que querem para si sabem eles bem e melhor ainda sabem que o podem adquirir dado o seu potencial económico.
Se os poetas são sinceros fingidores da sua própria dor estes "notabloides" são apenas falsas máquinas fingidoras das dores alheias.
Um bom dia de Natal e dias bons para o Novo Ano.

segunda-feira, dezembro 24, 2007

NEXENSES V


ESTADA MUNICIPAL 520

A Estrada Municipal nº 520, ligação principal directa da Freguesia de Santa Bárbara de Nexe a Faro é a verdadeira imagem da incúria da Câmara Municipal de Faro. Na 1ª reunião do actual presidente da CMF na sede da Freguesia falei (e outros) do estado lastimoso da estrada e o seu adjunto concordou e até justificou o seu atraso à reunião pela morosidade devido à impossibilidade de conduzir normalmente em tal esburacada estrada. Era altura de chuvas quando a estrada esburacada, estreita, sem bermas, sem valetas, sem pontões, sem escoamento de águas, de longos troços planos e outros encovados, se torna num longo ribeiro com inúmeras lagoas desde a cova sob a Via do Infante até ao Patacão.
Passado um ano, em cima de outros 30 anos passados iguais, neste úlimo dia de fortes chuvas tive de deslocar-me a Faro e constatei ao vivo que em quase todo o referido percurso a estrada se tranformou na linha de água por onde escorre a enchurrada abrindo buracos ou alargando-os, formando compridos e fundos lagos e trazendo lama e pedras para a via tornando-a um verdadeiro leito de ribeira. Tive dificuldade em passar em alguns locais com água pelas portas do carro e senti claramente sentido que se continuasse a chover forte mais algum tempo a mal-amada e abandonada 520 ficaria irremediavelmente intransitável.
Continuo a pensar que as freguesias rurais de Faro são a sua avenida com jardim e quem não cuida da avenida nem do jardim de sua casa é como o sucateiro que vai espalhando ferro velho à sua volta até afogar-se na própria sucata.

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sexta-feira, dezembro 21, 2007

MAIS QUE MIL PALAVRAS, TODAS.


Esta imagem que ilustrava ontem no "Público" um artigo de um deputado membro da comissão política do PCP vale muito mais que as tais mil palavras que se diz valer uma imagem. Esta, na sua perfeita estética do socialismo real estalinista, encerra todas as palavras de um programa político de tipo religioso: a representação simbológica do partido-deus acima (primeiro), entreabrindo-se para mostrar(revelar) o seu filho esfíngico no ritual do bonzo impassível que interpreta e administra as escrituras sagradas. Para quem ama a liberdade como primado para o exercício da individualidade, é arrepiante.

quinta-feira, dezembro 20, 2007

O MEU LUGAR XII

COM TERRA PÃO E JUSTIÇA

E a enxada de sílex e cabo de braço
lado a lado com arado igual e rabiça
também de braço robusto e peludo
vão inscrever no mato traço a traço
terra limpa de pedra onde viça
semente feita haste verde veludo
feita seara empinada sobre o regaço
da terra aplainada domada submissa
submetida ao braço e sílex ponteagudo
dos avós primitivos pedaço a pedaço
vedados de maroiços-altares que iça
a deus ignoto mas não surdo-mudo
aos sacrfícios vai temperando de aço
nossos avós com terra pão e justiça.

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quarta-feira, dezembro 19, 2007

AS GUERRAS DE JOAQUIM FURTADO IX









9º EPISÓDIO


Explicadas as predisposições salazaristas teimosamente intransigentes quanto a qualquer possibilidade de entendimento com os movimentos macionalistas, estes lançaram-se na guerra em Angola e Guiné e após algum recuo perante a investida inicial das nossas tropas, no meio do ano de 64 já nos confrontavam militarmente e causavam sérios danos nas nossas forças militares, especialmente na Guiné, como vimos neste episódio. Assim, a narrativa fílmica vira-se para a descrição das operações de envergadura planeadas pelos altos comandos e executadas por grossos meios militares, como a ocupação da ilha de Como que este episódio nos dá a conhecer com pormenores dos acontecimentos contados por intervenientes directos de ambos lados. Vê-se claramente como uma tropa actuando com meios clássicos de deslocação e logística no meio da mata se torna pesado, de pouca mobilidade e rápido desgaste fisico e moral, restando-lhe quase sempre a necessidade de actuar apenas em sua defesa prória, ao contrário do guerrilheiro que, no seu meio natural, descalço e com uma arma às costas, se move na mata como uma lagartixa e ataca de surpresa.
Indo o estado da guerra já no ano de 64, forçosamente JF tinha de nos contar as causas e motivações do início da guerra em Moçambique que se deu em fins desse ano. Grande parte do episódio é dedicado a contar as peripécias internas dos movimentos e destes perante os chefes dos países africanos, já independentes, e que apioavam e exigiam a unidade dos movimentos de libertação para o lançamento e êxito da luta armada. Ficámos a saber que a FRELIMO nasceu da imposição africana dessa unidade que foi apenas feita ficticiamente no papel. A luta armada acabaria por iniciar-se à pressa e mal preparada só para haver um primeiro.
E também com Moçambique, Lisboa perde uma nova oportunidade de enveredar por uma política apaziguadora. Mondlane bem esperou argumentando, junto dos seus, com dúvidas sobre a luta armada, certamente baseado nas promessas sonsas que Adriano Moreira lhe insinuava. Mais uma vez AM andou a semear esperanças que sabia não poder cumprir. Tal como em Angola com Deslandes, levou para Moçambique Sarmento Rodrigues cujo pensamento ia no sentido de uma abertura política dirigida para uma descolonização pacífica e integrada. Quando Salazar, avisado pidescamente, soube de tal idéia tida à sua revelia, despediu todos e colocou no seu lugar pessoal sem qualquer idéia ou pensamento descoincidente do seu.
Outra vez, uns merdosos dirigentes liberais, se encolheram face a Salazar e a guerra abriu nova e longa frente para mal dos soldados de Portugal.

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quinta-feira, dezembro 13, 2007

NOTÍCIAS DO PAU X


GORJÕES ANTIGO, OS BAILES

Segundo o Tio Cascalheira, que já conta 86 anos e que em rapaz corria os bailes todos das redondezas porque era bom dançarino e namoradeiro, houve aqui no nosso lugar muitas casas "que traziam balho" no seu tempo, princípios dos anos 30 do século passado.
Era já rapazote, entre 12-15 anos, e diz que o primeiro baile de que se lembra e frequentou foi o do "Tio João Apolo Cigano no armazém da Isabelinha", hoje chamado "armazem do Zé Caiado", no desvio para a Goldra de Cima, e que era propriedade de António de Jesus.
Depois começou a frequentar o baile no armazém do meu tio João Pinto, mais tarde do meu tio Adelino Pinto após a morte do irmão, aqui no cruzamento do lugar do Alto, corria o ano de 1935-36. Nesta altura, também trazia baile o "Dólas" (Joaquim de Jesus) no seu armazém novo no lugar do Poço Arranhado. Nos finais da década de 30 traziam baile o Tio Sebastião, no lugar de Santa Catarina, e o seu genro Tio António Veneranda aqui próximo do Alto. Lembra-se o Tio Cascalheira que ainda foi ao baile no armazém do Zé Bento, no desvio para a Goldra de Baixo e Loulé, e que quem trazia o baile era o Tio Manel Sobrado e Xico Pedro "o Bravo", grandes ases do "jogo do teso".
No princípio dos anos 40, juntaram-se aqui no lugar do Alto, que já se tornara a centralidade do sítio, alguns Mestres pedreiros, ferreiros, capatazes de estradas, barbeiros, carpinteiros, proprietários de sequeiro, acordeonistas, etc., que tinham em comum ter frequentado a escola e sabiam ler e escrever escorreitamente, alguns com a 4ª classe de 6 anos tirada na 1ª república, outros tinham estado em França para combater nas trincheiras da Flandres em La Lys, os quais pertenciam não só a uma nova geração como a uma geração de novos conhecimentos, novos costumes e modernidades. Estes homens juntaram muito tempo e esforços a reunir e organizar todos papéis necessários para requerer oficialmente e abrir legalmente uma Sociedade Recreativa Gorjonense em 1943, em plena 2ª guerra mundial.
Com a abertura pública, a sócios e não sócios, da SRG terminaram os bailes à moda antiga, em armazéns sem regras, onde se ia "balhar", "beber à homem" e no final jogar ao "jogo do teso" para acabar tudo à bordoada depois de mandarem as mulheres e as moças para casa. Foi um grande passo civilizacional e social para o sítio, embora tenham ficado para trás os bailes de roda e bailes mandados primeiro e os bailes de concertina depois. Nascera os bailes abrilhantados por famosos acordeonistas locais, onde todos deviam apresentar-se e comportar-se com "preceito", não era permitida a entrada a bebados, cuspir no chão ou ter o chapéu na cabeça na sala de baile. As moças começaram a fazer permanentes, os moços a fazer ondas e usar brilhantina e eram motivo de chacota se vestiam peúgas ou sapatos rotos. Os pares podiam dançar mais apertados e as pernas peludas das moças deixaram de ser sexualmente atractivas.
Hoje o Grupo Folclórico e Etnográfico Gorjonense ao representar os bailes de roda e mandados de antigamente, dá-nos uma idéia acéptica dessas danças, jamais lhes restituirá o seu ambiente próprio à luz do petróleo, ao cheiro do vinho e aguardente e do suor dos corpos sujos de terra.

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quarta-feira, dezembro 12, 2007

AS GUERRAS DE JOAQUIM FURTADO VIII


8º EPISÓDIO

Mais ou menos explicadas as causas e motivações que conduziram os movimentos independentistas à guerra em Angola e Guiné por um lado, e o respectivo desenvolvimento no teatro de operações e consequentes jogos políticos de Lisboa e sua diplomacia, por outro lado, a narrativa fílmica de JF neste episódio dedica-se a mostrar-nos o interior dos movimentos de libertação e suas relações internas e externas. Depois da total reocupação do norte de Angola pelas tropas portuguesas entrara-se numa fase de ocupação pela tropa organizada e instalada de forma a cobrir em quadrícula toda a chamada Zona de Intervenção Norte(ZIN) que incluia o Caxito onde estava o comando operacinal da zona e Luanda onde estavam sediados os Altos Comandos. Agora a função prioritária era de limpeza das áreas sob controle de cada unidade militar, protecção às grandes fazendas, protecção à Engenharia que limpava e alargava picadas e refazia pontes, vigilância de fronteiras e iniciara-se as operações de assistência médica e acção psicológica junto das populações nativas.
Os movimentos independentistas estavam em dificuldade e tiveram de repensar estratégias, discutir internamente os aliados políticos, definir-se ideológicamente. A necessidade de escolher ideológicamente os aliados levou a lutas internas, no MPLA entre maoistas e soviéticos, no PAIGC entre os países vizinhos, na UPA entre mais negritude tribalista e menos. Neste episódio é-nos mostrado muito ao de leve essas lutas pela obtenção da hegemonia, afastamento e destino das partes vencidas no interior dos movimentos nacionalistas.
Por alguns depoimentos ficámos a saber que houve escaramuças entre os movimentos MPLA e UPA no Norte onde esta última dominava fortemente desde o brutal massacre de 15 de Março de 1961. Igualmente ficámos a saber que dentro do MPLA, movimento de maior preponderância intelectual e pendor mais interracista, houve sérios problemas com utilização de meios humanos não puramente negros.
Nas lutas pela definição ideológica interna dos movimentos fica claro que essa definição passava pelo alinhamento ou não com as duas visões do mundo da altura, a pró-ocidental e a pró-soviética. A luta pela independência das colónias tornava-se uma trincheira quente da luta fria mais universal. E vê-se como Cunhal, muito afastado do mato, já se intrometia na contenda a favor da sua querida União Soviética, enquanto Salazar, julgando estar a ganhar a guerra, organizava gigantesca manifestação de apoio no Terreiro do Paço. Contudo, ao mesmo tempo, os nacionalistas já dispunham de armamento igual ou superio ao nosso para mal dos nossos soldados.

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terça-feira, dezembro 11, 2007

1º ANIVERSÁRIO


Eu, APCGORJEIOS dou os parabens a José Neves por me ter propiciado esta página em branco, tamanho do mundo, para me iniciar sem esmerecimento na escrita blogosférica. Faz hoje precisamente um ano que apareci em edição bloguítica e dei a conhecer ao mundo o meu modesto nascimento. Durante um ano expuz-me com opinião própria e independente sobre alguns assuntos que me tocam mais os valores que defendo.
E é nesse sentido que vai a minha continuação.

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segunda-feira, dezembro 10, 2007

O MEU LUGAR XI


SUA OBRA-PRIMA

Um sobe e desce em vai e vem
permanente o cerro da mina
desde o algueirao à terra plana
de mato e pedra que contem
pedaços limpos onde a ponta fina
do sílex penetra à força e gana
de braço e alma dos avós sem
medo de enfrentar a divina
encomenda olímpica de Diana
guia de caçadores que provem
estes de prático saber e ensina
mentos úteis para da terra insana
içar lugar de vida e morte o bem
maior dos avós e sua obra-prima.

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sexta-feira, dezembro 07, 2007

TEATRO


O Grupo de teatro TE-ATRITO que estivera ensaiando aqui nos Gorjões a peça "O Retábulo das Maravilhas" escrito sobre um texto de Cervantes pelo não alinhado Jaques Prévert(1900-1977), esteve ontem à noite no auditórioo da Universidade do Algarve, campus de Gambelas, representando em sala adequada e perante numeroso público a referida peça.
Agora, num palco com todas as condições visuais, movimentação dos actores, sonoras e de iluminação a peça ganhou outra densidade. Embora o autor seja um dos principais cultores do "Teatro do Absurdo", nesta peça a linguagem simples e precisa, não palavrosa, sem palavras a mais nem a menos e apropriadas, vai tecendo o enredo com rigor e tornando clara e perceptível o significado comum das palavras e da encenação representada. Também esta recorreu a meios simplicíssimos de encenação, um único elemento sobre o palco formando um biombo que simultaneamente era a tela(retábulo) onde se representavam as maravilhas do mundo. Igualmente os actores vestidos com roupas em pele de cortiça constituiram em si mesmo uma encenação bem a propósito em relação com os papéis que representavam.
Como diz o texto de apresentação da peça "os textos do autor não visam apenas o entretenimento mas, através da ironia e do humor, ridicularizam aquelas injustiças e procedimentos institucionais que todos reconhecem mas que poucos se atrevem a denunciar - e são de uma actualidade evidente"
E são mesmo, e a representação do Te-Atrito envivece mais ainda essa evidência.

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NOTÍCIAS DO FUTEBOLISMO III

1. - MERCADO DE RESULTADOS I
Dos jornais de ontem fala-se de fortes suspeitas de resultados de jogos oficiais da Liga dos Campeões, taça UEFA e outros, serem pré-fabricados por encomenda paga.
Um dos resultados debaixo de olho seria o recente 8-0 do Liverpool sobre o Bersitkas. Outro resultado suspeito é o 4-o do Hamburgo sobre o Honved para a taça UEFA. E mais intragável é a selecção de um país, a Albanesa, ser acusada pelo próprio governo de vender os resultados dos dois últimos jogos para o Euro 2008.
As suspeitas recaiem sobre 26 jogos dos quais 15 deles dizem respeito a jogos realizados na presente época futebolística. Dissemos aqui, em resposta a E. Graça, que com o aparecimento de empresas multinacionais de apostas sobre resultados de jogos, que por sua vez subsidiam o jogo através das equipas, criava-se a possibilidade de um futebolismo em moto-contínuo. Por enquanto as suspeitas apontam para máfias de apostas ilegais.

2. - MERCADO DE RESULTADOS II
Também no "Público" de ontem, podemos ler que um filho de líder do narcotráfico colomboiano afirmou na rádio que a selecção peruana se vendeu ao Cartel de Cali para ajudar a selecção argentina no Mundial de 1978. A Argentina com-venceu o Peru por 6-0, os precisamente necessários para poder ir à final onde bateu depois a Holanda , tornando-se campeâ mundial nesse ano.
Isto já acontecia há 30 como não havia de acontecer hoje e, certamente, de forma aperfeiçoada e muito mais profissional.
Estas são as formas mercantis puras e duras que cada vez mais penetram no sistema e enformam o futebolismo actual. Outras são as estratégias estudadas em balneário e montadas em campo para "arrumarem", pela violência ou pela provocação imsuportável, deliberadamente os jogadores adversários considerados fundamentais neutralizar para obter superioridade numérica ou de qualidade. A Itátia seguiu esta última regra contra a França fazendo expulsar o pintor de jogadas Zidane por um pincel de jogador de língua suja.
Como se constata o futebolismo vem de longe e faz parte do nosso decadentismo mais geral.

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quarta-feira, dezembro 05, 2007

AS GUERRAS DE JOAQUIM FURTADO VII


7ºEPISÓDIO

Novamente JF, através de depoimentos claros e certeiros ilustrados com as imagens correspondentes aos enunciados dos próprios depoimentos ou da sua narrativa jornalística, nos dá uma visão ineludível de como foi sempre impossível qualquer solução política para guerra. Todas as tentativas, quer através da diplomacia, quer através de golpes militares, quer através de dissidências de governadores, esbarrou sempre na rural obstinação de Salazar.
O ditador recusou a proposta de Kenedy, fez abortar o golpe dos merdosos Botelho Moniz, Costa Gomes & Cª., não aceitou o pedido de diálogo dos independentistas, e neste episódio ficámos a saber que quaiquer supostas veleidades de Deslandes de uma Angola separatista interracista era também uma traição à pátria. Luis Cabral diz neste episódio que, quando Amilcar Cabral enviou a Lisboa a sua proposta-memorando, naquela altura, bastava falar numa autonomia mitigada e a prazo e provávelmente a guerra teria sido evitada. O velho ditador habituado a mandar só e unicamente na sua propriedade portuguesa jamais consentiria que outros mandassem nas suas quintas espalhadas pelo mundo.
Sempre se falou de Costa Gomes como "O Rolha" dada a sua capacidade de se manter à tona. Pois desta história da guerra que, nos parece isenta e totalmente verosímil, ressalta outro "rolha" que ainda anda por aí considerado senador da pátria, o senhor Adiano Moreira. Num seu depoimento colocado no 3º episódio declarou que "era fácil alimentar as esperanças o difícil era concretizá-las". Neste episódio ficou bem claro a que se referia, quando vemos as imagens da sua deslocação a Angola para anunciar o fim do indiginato e prometer igualdade racial para todos desde logo, entre outras várias e vagas promessas. Levou promessas para alimentar as esperanças dos colonos especialmente e, quem sabe, as do próprio Deslandes, mas depois mancomunou-se com Salazar como já o fizera contra Moniz.
Também ficámos agora a saber que com Mondlane, quando conseguiu estabelecer com este alguma simpatia mediante as vagas promessas de diálogo, tentou aliciá-lo para a causa salazarista com um lugar de Professor prestigiado em Lisboa. Mondlane não aceitou, portuguesmente fez-lhe o mamguito, ao responder-lhe que " uma coisa e acertada são as suas idéias outra coisa é o que se passa lá na realidade". As idéias acertadas na boca de A.Moreira só davam para um convite de integração de E.Mondlane na sociedade portuguesa para Salazar exibir mais esse trunfo multiracial interna e sobretudo externamente.
Claro, A. Moreira, cumpridor à risca e exemplarmente, da doutrina do chefe, pelo aparato popular que dava ao seu estilo de vendedor de esperanças, tornou-se motivo de desconfiânça do ditador solitário e foi corrido. Desde a revolução de Abril anda catedraticamente a pregar democracia. Devia começar por ensinar o seu discípulo Paulo Portas porque a descolonização foi como foi e não outra coisa mais pensada e melhor em vez de o deixar andar a atirar culpas para a revolução e para quem a fez.
Ele próprio sim, é um dos grandes responsáveis pela guerra e consequente descolonização em fuga.

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domingo, dezembro 02, 2007

OCASIONAIS


Sábado é dia de ir a Loulé fazer compras e ir ao quiosque habitual buscar o jornal e o respectivo livro de colecção encomendado antecipadamente. Mas ontem havia, montada pela avenida acima, uma feira de artesanato, flôres silvestres, moedas, empreitas, livros, etc., e também uma banca de discos de vinil, os velhos long-play da minha mocidade.
Fiz uma busca um a um e descobri esta preciosidade de Bob Dylan, o famoso "The Times They Are a-Changin", da CBS-Rádio Triunfo de 1967.

Nos discos portugueses descobri e achei interessante este da inimitável Herminia Silva "Isto é Fado", da Decca-Valentim de Carvalho de 1970.

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sábado, dezembro 01, 2007

O MEU LUGAR X


OS AVÓS PALEOLÍTICOS

Foi o algueirão a boa casa primitiva
de pai, mãe e avós paleolíticos,
guerreiros do trabalho braçal
séculos seguidos, sem esquiva
içando do mato farto, raquíticos
pedaços de terra pobre pra cereal
mata-fome-fadiga, prato que aviva
forças e almas, e anima espíritos
fortes capazes, como este cerebral
pai avô antigo, que o semeia e saliva
enquanto sonha criar os míticos
lugares do meu lugar natal,
arrasando pedra e mato sem priva
ção de luta heróica e esforços épicos.

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