sábado, junho 30, 2007

UM FARENSE ESPECIAL II

SIDÓNIO, CRÍTICO E CONTADOR DE HISTÓRIAS

Depois da publicação da memória do Sidónio como pintor duma época da cidade de Faro com seus protagonistas e figuras típicas, damos a conhecer algumas das suas histórias e críticas, igualmente sobre figuras marcantes das tertúlias culturais da altura e que deixaram nome na cidade na área das artes e letras. Neste vídeo podemos observar o entusiasmo contagiante do contador de histórias e o seu corrosivo espírito crítico do trabalho da concorrência.
Num comentário ao anterior vídeo diz-se que a cidade ficou mais pobre sem a picturesca presença cultural e a caracrerística humanamente rica do Sidónio o que foi claro para quem o conheceu, mas para quem não teve a alegria da sua convivência aqui fica esta recordação da sua memória merecidamente viva.

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sexta-feira, junho 29, 2007

GORJEIOS XII

Entre eternidades erra
pela vida adentro
sobre a terra
feito centro do centro
do mundo um saco roto
de carne caixa de esgoto
ontológica ex-machina
criada por deus ignoto
pouco sábio um sovina
que nos tirou o tempo
vivo e deu necessidades
à carne essa espertina
aguda do pensamento
que ordena prioridades
de busca de mesa fina
para encher o saco
de sangue merda e urina
sucessivamente
cada vez mais fraco
mais tombado mais ruina
mais decadente
até ao dia beco cativo
com saída para o coval
com lápide: - mais vale
morto que ser morto-vivo-.

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quarta-feira, junho 27, 2007

PORTO,PRÓS E CONTRAS

O MOMENTO

Vindo de Lisboa ainda cheguei a tempo de ver parte do debate de ontem dos Prós e Contras para discutir o Porto pelos seus ditos altos representantes tidos como imagem do velho espírito nobre e liberal da invicta vontade nortenha de engrandecimento pelo trabalho e engenho. Mas quem lá estava eram os velhos negociantes iniciados e viciados na escola do salazarismo e como tal apenas sabem reivindicar a protecção do Estado para os seus crescentes negócios de comércio de trocas. Estava um senhor que me pareceu de visão mais recente e actualizada que falava nas ligações ao conhecimento para obter produtos de qualidade e sentia-se optimista com o seu pensamento e actuação. E estava um senhor jovem e activo que aparece todos os dias na televisão a falar de ciência de bola, de aeroportos, de TGVs, de política geral, de política partidária, de leis, comércio,etc., e ainda escreve crónicas nos jornais sobre qualquer assunto, tal o ecletismo e tempo de que dispõe, e parece que é dirigente de uma poderosa Associação Comercial dado a pujança que ostenta. Estava, como não podia deixar de ser, o Presidente da CM do Porto para alvo de todos, tentando responder aos mil problemas que o município tem para resolver sem verbas para tal, mas que todos sabem apontar do alto dos seus poleiros de papagaio.
E todos ficaram calados e mudos como um prego de cabeça chata, quando uma senhora representante dos comerciantes de rua da baixa portista acusou "as novas cidades(ou centralidades)" dos modernaços shopings que brotam à volta da cidade esvaziando-lhe a sua verdadeira centralidade histórica. Foi o momento buraco amnésico, entreolharam-se apavorados, emudeceram cabisbaixos como que sumindo-se num buraco ali aberto, e quando voltaram ao debate ignoraram o que tinham ouvido para tornar à vaca fria dos seus interesses, especialmente o senhor Belmiro que não escondia o seu ressabiamento contra o governo por não lhe conceder o chorudo negócio que tinha planeado sobre a PT. O grande momento do debate foi precisamente aquele que a senhora levantou com delicada leveza mas empunhando pedregulhos como Viriato. Quem não vê actualmente, em qualquer cidade do país onde florescem os shopings, o definhamento do comercio tradicional de ruas pedonais e centros de vilas e cidades despovoadas? Quem não vê as baixas de meter medo a quem se aventura andar nelas á noite?
Pior que a morte das baixas é a própria morte da vida da cidade. O pequeno comerciante era a alma da sua cidade; ele participava das tertúlias sobre as coisas da cidade, ele escrevia crónicas no semanário ou quinzenário local, ele criava o clube de bairro e era seu presidente ou entusiasta sincero, ele participava da banda local, do grupo de teatro amador, do cine cluble ou centro cultural local, discutia a política da cidade com entusiasmo, participava e enchia as bancadas dos clubes desportivos e recreativos, concorria às Juntas de Freguesia, etc., etc. Era um cidadão económicamente independente com hábitos de alguma leitura o que lhe conferia uma liberdade de crítica e opinião de grande validade para a comunidade dos cidadãos.
Será que os serviços que os actuais shopings proporcionam não poderiam ser instalados nas antigas e agradavelmente vistosas ruas, abertas ou toldadas, dos centros das cidades carregados de história e histórias, mantendo as imprescindíveis forças vivas da cidade activas pensando a construção da cidade como comunidade integrada de pessoas, casas de habitação, parques e jardins, comércio e cultura dirigida à inteligência e não ao consumismo primário. Os shopings priviligiam a construção de dormitórios que auto reproduzem os negócios do shoping e do imobiliário mutua e sucessivamente. A mentalidade shoping forma robots consumistas oficiosos praticantes inconscientes do ritual abandono e entrega da cidade à decadência cívica.
Provávelmente já não assistirei à futura revitalização da cidade para ver abrir teatros, galerias, exposições, museus, escolas de arte, etc., nos actuais recintos engalanados para ostentação e apelo imediato à cosmética prateleira de embalados, tal como hoje já se faz relativamente aos grandes e elegantes castelos, palácios e fábricas fechadas sem utilidade.

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sábado, junho 23, 2007

MEMÓRIAS



Maja Desnuda
Goya, 1798-1800



MANUEL SILVA, 1971

Decorriam os princípios de 1971, dirigia o estaleiro de instalações eléctricas de MT da Laminagem da Siderurgia Nacional no Seixal, admiti um idoso de 83 anos mas ainda vivo e ladino, sempre bem disposto, jovial e sábio prático tanto quanto a dura experiência da longa vida saudável lhe ensinara. Ficou adstrito ao escritório do estaleiro para fazer recados e levar água aos locais de trabalho dispersos. Naquela altura vivia sózinho mas já vivera com mais de meia dúzia e conhecera um quarteirão de mulheres, contava ele. Notava-se logo a sua efervescência e olhar em bico quando uma mulher bonita por ali passava. Às vezes, quando não tinha que fazer, vinha ter comigo e se era propício o momento, logo explanava a sua filosofia de vida experimentada. Eu tentava rebatê-lo apelando às minhas leituras mas as suas réplicas tiradas da leitura do livro vivo do dia a dia eram irrefutáveis. Recordo-me de uma vez, falando acerca de mulheres, o seu maior gosto, me dar estes ensinamentos:

-Ao trocar conversas com uma mulher olhe-a bem e se um dia lhe notar um brilho especial nos olhos esse é o dia dela e pode ser o seu também.

-A mulheres não são como os gatos que só têm um mês no ano, elas têm os meses todos do ano e estão sempre prontas.

O Ti Manel Silva do Seixal ainda me fez ouvir muitas outras máximas dos seus pensamentos da vida prática que certamente ele aplicou com sucesso. A vida depois ensinou-me que a receita terá um efeito plenamente conseguido quando o tal brilho especial se repercute entre ambos os olhares. O Ti Manel Silva tinha esse condão de fácilmente fazer repercutir o seu brilho de olhar nos olhos das mulheres.

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sexta-feira, junho 22, 2007

FARO,CAMPO E PRAIA NOS ANOS 40-50

HORTA DA QUINTA DE BELAMANDIL
FAMÍLIA BÍVAR

As hortas de Faro conheceram nos anos 40-50 do século passado o apogeu do seu contributo para a actividade económica da região. O cultivo de regadio nos campos planos e arenosos à volta de Faro eram agradavelmente compensadores. As noras funcionavam de dia e noite e nas hortas com mais terrenos haviam várias espalhadas aumentando o terreno de regadio. Noutros casos, em noras de nascentes de grande caudal, adoptava-se colocar dois ou três engenhos na mesma nora, duplicando ou triplicando a água disponível e os hectares de regadio.
Interessante ver como os garotos viviam o seu dia a dia junto e acompanhando os trabalhos da horta, brincando e simultâneamente participando nesses trabalhos com tal alegria contagiante que, dava ao ambiente dos duros trabalhos de sol a sol uma harmonia saudável e fraterna entre o homem a terra e os animais.


A BANHOS NA PRAIA
FAMÍLIA BÍVAR

A rentabilidade da horticultura de regadio de média-alta dimensão dava para a mesma família que a explorava passar férias a banhos na praia como qulquer médio-alto lavarador, industrial ou funcionário do Estado na altura. Aqui é interessante reparar no ambiente visual de praia, quer sejam os trajes de banho, quer sejam os trajes janotas engravatados mas adequados ao ambiente e elegância de veraneio.

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segunda-feira, junho 18, 2007

NOTÍCIAS DO PAU VIII

O HOMEM, O COELHO E A RAPOSA

Hoje, na redacção do Pau o Reinaldo contou a história, quando ele era moço e antes de ir para a França, do pai do João da Caseira que tinha semeado griséus junto de casa perto do mato e que, com medo que os coelhos os comessem colocou dentro do terreno de semeadura um espantalho gigante, cabeçudo, entroncado e de altas pernas vestido de calças para espantar os coelhos.
Com tal argumento dissuassor dormiu tranquilamente muitas noites e pôde ir trabalhar descansado muitos dias sem se preocupar com o estado da seara. Quando se lembrou que os griséus já deviam ter rebentado fartos e bonitos sob a protecção do guardião de palha, foi dar uma espreitadela pela plantação. Quando verificou que os griséus estavam bastante comidos dos coelhos ficou irritado e voltando-se para o espantalho chamou-lhe nomes e quase o deitou abaixo. Nesse instante ouviu guinchar sob os pés e reparou que tinha pisado uma ninhada de cassapos nascidos e criados entre as pernas do espantalho inofensivo.
O Homem pensou preservar a seara dos coelhos com o espantalho assustador. Os Coelhos pensaram no local ideal para boas refeições e protecção das suas crias face às raposas. Das raposas já se sabia que eram ardilosas mas pouco inteligentes desde a velha fábula: ... estão verdes não prestam. Dos coelhos não se suspeitaria que fossem mais inteligentes do que o homem, mas também não é de admirar. Do homem esperar-se-ia capacidade de entender os coelhos.

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sexta-feira, junho 15, 2007

LISBOAS II

LISBOA I

À porta do Elevador do Lavra descobri este graffitti de célebre professor, jornalista, ministro, deputado, presidente, candidato a presidente, actualmente mais conhecido por comentador político na televisão. O achado não está no retrato graffittado do professor, mais conhecido em Portugal que o bacalhau. O que é para mim o achado deste graffitti de autor desconhecido está na legenda a qual me fez saltar à mente o porquê de "O PROFESSOR MENTE". Nunca fui seu aluno e por aí não sei de mentiras, lembro-me dos seus comentários políticos no Expresso como tentativas de tornar o seu inventivo pensamento em facto político o que quase sempre conseguia, pelo que poderíamos apelidar de meias-mentiras. Tambem me lembro de algumas afirmações como aquela bíblica famosa:- ...nem que Deus desça à Terra...-, e muitas artificiosas vaticinações para criar realidades desejadas que falharam completamente. Também aqui não podemos chamar-lhe própriamente mentiras, mas mais de videntices de professor que dá as cartas, pinta as cartas e lê pelas cartas.
Então onde se basearia o autor para dar o título ao seu graffitti? Penso que talvêz este autor seja crítico literário e não suporte ver todos domingos o Professor mentir ao fazer crítica literária pela olhadela que dá pela capa do livro. Também eu acho uma vergonha que algúem que é catedrático se disponha a fazer juizos críticos sobre um livro a partir da imagem da capa e da leitura do nome da editora. É literariamente uma aldrabice e economicamente uma contrafacção, já era altura do IGAE actuar.

LISBOA II

Em mais de trinta anos de Lisboa nunca me tinha deslocado para ir ver as Marchas Populares que se querem representar o bairrismo popular lisboeta. Este ano, estando casualmente na capital e a poucos passos da Avenida do desfile a ouvir o entusiasmo da multidão na rua, não resisti a sair de casa e ir observar o estado da festa e, se possível entrar na alegria geral.
Vi a multidão que enchia a Avenida de alto a baixo e dos dois lados sem a mais pequena hipótese de poder encostar-me à frente. Vi os arcos, balões e adereços alegóricos ao tema, quando durante a actuação eram levantados acima das cabeças dos dançarinos participantes. Vi grupos enormes de entusiastas, à maneira de claques bairristas espontâneas muito varinas, acompanhando, aplaudindo e apregoando a sua Marcha. A verdadeira Lisboa popular estava de pé, suportava de pé horas e horas o peso do corpo e da longa espera para conviver com alegria festiva o que toma como sua arte genuina.E sê-lo-ia caso os ilustres barões da televisão não se interpusessem explorativamente para adulterar e transformar a festa popular em espectáculo de mensagem pela imagem, nem fosse permitido que os ídolos ocos mediáticos apadrinhassem ou amadrinhassem ocupando o primeiro lugar do desfile roubando o centro do palco ao verdadeiro dono.


LISBOA III

Tanbém no Lavra encontrei este graffitti assinano por um macaco. É, quanto a mim, uma verdade quase indiscutível que a arte fala, ou melhor, que a arte sendo uma linguagem transmite falas, idéias, pensamentos e sobretudo a fala da visão estética e moral do artista. A arte pode ser tudo o que o homem produz pelas suas mãos, mas a arte que fica é aquela que se distingue do fabrico em série, do útilitário, aquela que eleva o pensamento para lá do senso comum, se torma imanipulável e imutável desde o seu acto criador. É aquela que se insere no interior da alma do seu tempo ou já anuncia o futuro.
Será que nos casos acima tratados em Lisboa I e II, poderemos falar de arte? Tanto o professor como as marchas têm a sua linguagem, a sua moral e estética
própria, mas será que são arte que fala ou apenas
arte de astúcias? No meu ver, no primeiro caso trata-se duma arte da falança astuta e não da fala como arte. No segundo caso trata-se duma arte popular que expressa a fala genuína de agradecimento à vida apesar da luta diária pela sobrevivência. Neste sentido, aqui verificar-se-ia uma arte que fala caso a arte da falança astuta não viesse logo incorporá-la no seu discurso e manipulá-la interesseiramente.

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sábado, junho 09, 2007

MARAFAÇÕES XXVI

O VÔO DE PASSARÃO

Desde o badalado prémio Camões pela obra de tradução de Dante que penso acerca deste deputado europeu que me parece, teria sido eleito para falar e trabalhar em Bruxelas pelo país e no entanto só fala partidariamente e trabalha para sí próprio cá dentro. E sem papas nem travão na língua afiada. Li num blog, dado que há vários anos deixei de comprar o DN, o seu artigo "...vôo de pássara". Este artigo foi o rastilho para acender um pensamento que há anos me questionava interiormente acerca do golpe de rabo de pavão deste génio deputado à portuguesa. Foi tal o golpe de pavão emproado que mais próprio será mesmo chamar-lhe um vôo de passarão enfeitado de altas e vistosas penas, garras aduncas, língua afiada e bico grosso.
Lembo-me que, no tempo de Guterres, nas suas crónicas no DN, chamava parasitas a torto e direito(mais a torto), a qualquer empregado político mesmo que fosse notória a seriedade e o esforço deste de acertar e mostrar serviço. Esta actitude sempre me impressionou e acentuou a focagem da minha atenção para o comportamento cívico de tal tipo de pessoas. E este não fugiu à regra; esta gente precisa cobrir-se de espesso manto palavroso rebuscado, para ocultar a sua nudez moral. Já vai no segundo mandato como deputado europeu e alguém já ouviu a sua fala ou conhece algum trabalho realizado pelo senhor no areópago europeu em prol do país? Entretanto traduziu Dante, Shakespear, etc, etc, escreveu livros, publicou livros, coordenou antologias, fez apresentações e conferências, ganhou e agradeceu prémios, e sobretudo escreve todas as semanas um comentário político no DN. Com tanto correr e azáfama particular não pode ter tempo para assentar o rabo no cadeirão doirado europeu a não ser o necessário obrigatório para receber o pacote mensal.
O pequeno parasita aloja-se em cadeiras de corredores esconsos de repartições de curtos vôos, o grande parasita aloja-se em cadeirões de luxuosos edifícios públicos, em salas vip de aerogares internacionais, em lugares de 1ª classe de vôos de passarão.

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quinta-feira, junho 07, 2007

CINEMA

O CAIMÃO
Nani Moretti, 2007

Já tinha tentado ir ver este filme numa das minhas obrigatórias idas a Lisboa, mas agora que o tinha aqui à mão no cine-clube de Faro, era imperdível. Pareceu-me que Nani cineasta, quiz mostrar que é possível driblar e ultrapassar o sarrafeiro Berlusconi, cuja história de esperto milionário que chegou a PM se confunde com a actual realidade italiana. Contudo não leva Berlusconi ao tapete porque não desmonta, nem pelo diálogo nem por imagens, os artifícios subterrâneos do poder de compra e arregimentário dum esperto subitamente surgido milionário armado de poderosos meios mediáticos. Também se absteve de mexer no futebol que, lá como cá, é por onde começa o branqueamento do passado e a entrada, imaculada e intocável, em cena na novela de novos-ricos da alta roda.
Também a burlesca história familiar do produtor com os amores pessoais, a desfazerem-se com a mulher e levemente insinuados com a realizadora, contados por peripécias de conduta e atitudes lamechas (salva-se a irresistível invasão do palco quando a mulher cantava Bach no coro), que se pretende seja uma história paralela ao assunto berlusconiano para o reforçar, afinal contribuem para a fragilização da mensagem final do filme.
No fim, o filme que pretende demolir Berlusconi, ou melhor, os métodos berlusconianos de tomada de poder, não atinge de morte o seu objectivo porque utiliza formas e conteúdo semelhantes aos martelados diáriamente na cabeça do público pela televisão e que já se habituou a vê-los como entretenimento. O filme "A Vida é Bela", que a partir de uma história de amor familiar paternal nos convida a repugnar o horror da guerra, acaba por ser mais eficaz politicamente que este Caimão que, no final ainda nos deixa a dúvida, sob ameaça, da legitimidade entre o direito e o eleito.

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GORJEIOS XI

Era bom ser insecto
abelha formiga
exercer sem ser objecto
falado por intriga
racional do intelecto
viver numa comunidade
onde ninguém obriga
ninguém e solidariedade
é programa genético
imutável e sem virus
nem guerra nem tiros
num ambiente poético
de amor platónico
ideal ligação onde bem
e necessidade são amem
inato para o harmónico
viver e nem o esquisito
facto de ser súbdito
duma rameira rainha
provoca qualquer conflito
ou altera sua vidinha.

Uma bela escrava vida de zangão
devia ser toda a humana ambição.

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segunda-feira, junho 04, 2007

MARAFAÇÕES XXV

OS DITADORES

No "Público" de ontem vem: «Fidel Castro "praticamente recuperado" diz dirigente cubano»
É rara a semana que não aparece uma notícia nos media sobre a recuperação de Fidel Castro. A acreditar na informação proveniemte da Ilha ou do vizinho, o filho ideológico e bem informado Chávez, a saúde de El Comandante todos os dias melhora em abertas e claras declarações mediático-políticas mas em completo segredo clínico. A avaliar pelas constantes melhoras o ditador já teria armazenado saúde para mais 50 anos de poder absoluto.
Só que, como sempre com os ditadores, quer-se tapar um problema incurável de velhice e saúde, com
adesivos e ligaduras feitos de comunicados políticos.
Todos os ditadores de longo curso são armados deuses pelos adoladores, depois o próprio tem vergonha de se assumir como humano e os bonzos adoladores querem vender-nos a decadência humana do ditador como imortalidade.

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sábado, junho 02, 2007

UM FARENSE ESPECIAL



 SIDÓNIO ALMEIDA

Ninguém mais que Sidónio conheceu e viveu as histórias culturais, artísticas, políticas, amorosas, boémias, estudantis, pândegas, etc., que em Faro aconteceram entre os anos 40 e 80 do século passado. Conviveu sempre amigável e estimadamente com todas as gerações de estudantes , especialmente com aqueles que faziam a história proibida da cidade contada de boca a boca. Ele próprio era comparsa da maioria dessas histórias como aquela, pouco após a campanha pela libertação do Merdock, em que fez uma exposição de pintura no átrio do antigo Hotel Aliança da qual fazia parte um quadro de uma macaca à beira de um precipício com a cara do Américo Tomás. Faro artístico e estudantil fazia bicha para ver a macaca do Sidónio o que o levou a ter problemas com a Pide. Quem não se lembra das suas "histórias da marquêza", do "baile da gravata", e sobretudo da graça do seu contar enfeitado dum colorido, genuino e contagioso entusiasmo infantil?
Alguns que mais de perto conviveram com ele já lhe fizeram referência no "Defesa de Faro" e também a Câmara lhe proporcionou uma exposição na galeria Trem da cidade. Com este video também eu quero associar-me à memória merecidamente viva do Sidónio.

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sexta-feira, junho 01, 2007

MARAFAÇÕES XXIV

MOMENTOS "PÚBLICO"

Do diário "Público" de hoje podem retirar-se vários momentos de escrita solta mas que estão intimamente ligados:
1. Na pág. 4 lê-se, a abrir o artigo sobre computadores que o governo quer facilitar a obtenção pode ler-se; "O governo diz ter recuperado uma antiga obrigação dos operadores de telecomunicações , não cumprida, para financiar...", a tal facilitação de computadores e acesso a banda larga a agregados familiares de baixo rendimento. Depois mais à frente repete essa obrigação das operadoras de comunicações móveis, esquecida e não aproveitada pelo Estado, para; " ...justificar a medida com o facto de 57% das famílias portuguesas ainda não terem computador ou ligação a banda larga".
2. Na pág. 41 referente à Economia, meio disfarçada, e relativamente à mal digerida derrota na opa da pt, dá notícia que; "... Paulo Azevedo diz ter acreditado que poderia resolver ineficiências, problemas de corrupção e sustentabilidade que existiam na operadora e que teria, por isso, o apoio do governo, mas não foi isso que aconteceu, lamentou".
3. Na pág.46 em editorial o putativo director(léxico abundante e abusivamente utilizado pelo jornal ultimamente), depois de considerações para se justificar, diz; "É por isso um disparate sem nome nem medida...", e, " Será dinheiro de outros(as empresas de telecomunicações) lançado à rua, sem garantis de retorno".Pelo meio acha que os verdadeiros beneficiários desta operação serão; "...os que operam os contentores que rápidamente levarão os equipamentos para fora do país ou, então, os que os puserem à venda numa feira de beira de estrada". E em vez do Estado se lamentar de muitos ainda não terem net: "... devia era estar calado e tratar de garantir, por exemplo, que o acesso à banda larga diminuia para todos e não para uns felizardos que não a vão utilizar", e não; "...substituir-se às escolhas dos cidadãos, enfiando-les tecnologia pela goela abaixo e, ao mesmo tempo, penalizando as empresas que inovam". E remata o vidente director; "...que este é um disparate caro que, como medida, como método de actuação e como discurso populista, só tem um nome, bem cunhado por Pacheco Pereira: é um exemplar «momento Chávez» do pior de Sócrates no seu apogeu".
Este momento de adivinhação de JMF não tem nada a ver com as lamentações do seu patrão PA acerca da opa sobre a pt, nada absolutamente, vêm directamente dos deuses que segredam o futuro, tim-tim-por-tim-tim, oracularmente ao eleito director do Público e, tão minuciosamente que já sabe que os computadores vão aparecer em feiras de beira de estrada. Espantoso, porém, podem os deuses, que não têm deveres a patrões, ter motivações e objectivos para fazerem JMF pensar uma coisa e ser outra como já fizeram no caso da guerra do Iraque. Também aqui gastou páginas e páginas do jornal para justificar o seu apoio à invasão e agora está calado. E faz bem porque calado tem sempre mais hipóteses de acertar.

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