sábado, maio 31, 2008

FRANCISCO DIAS BEXIGA

"O BEXIGA" POETA POPULAR  
 Muito miúdo ainda fui conterrâneo do poeta Aleixo que frequentava, cantava e improvisava pelos lugares à volta de Loulé e também aqui nas "vendas" locais e já era muito falado e apreciado aqui nos Gorjões. O meu pai tinha a 1ª edição dos livros "Quando Começo a Cantar" e "Intencionais", compilados por José Rosa Madeira e Dr. Magalhães, do Liceu de Faro e mais tarde meu professor, e editados pelo Circulo Cultural do Algarve de Faro, que eu li por altura da minha 4ª classe.
O Aleixo foi a figura inspiradora de muitos outros poetas e poesia popular que masceu por estas bandas e perdura ainda hoje, e de quem mais se falava, contudo na minha juventude, aqui nos Gorjões, uma outra figura típica de poeta popular "Quadrista" já dava nas vistas e juntava muita gente à sua roda para o ouvir cantar e dizer as suas quadras: "Quadrismos" como ele lhes chamava. Era precisamente o "Bexiga" da Cruz de Pau, hoje Agostos, que era "guardador de terras" locais no tempo dos frutos secos e passava grande parte do tempo aqui nas "vendas" do Alto. Eu, que já tinha feito o 3º ano do Liceu e escrito aqueles versos de amores infantis que fazemos às moças do nosso desejo, metia-me com o Bexiga e ele, sempre diante da sua "nossa senhora" que esvaziava de um trago e continuamente mandava encher ao taberneiro, na sua linguagem arrastada etílico-metafísica quase imperceptível, dizia-me: "ouve lá esta ou estudanteco a ver se percebes o poeta Bexiga, nam, nam vais perceber, mostra lá as mãos, nam, nam vais perceber, não tens calos assim, nem casacos rotos, não vais à ceifa, nem ao varejo, nem ao berbigão nem comes pão seco e dormes numa manta, nam, tu não percebes, os quadrismos do Bexiga são feitos destas coisas e tu não sabes, nam, mas ouve lá". E eu ouvia, gostava, ria-me ou ficava intrigado, conforme o tema, mas de facto eu não percebia de que matéria o Bexiga se servia para construir os seus quadrismos. No seu íntimo as dores que pariam a sua poesia popular eram as da sua vida dura de andarilho dependente da sobrevivência e as de baconismo necessárias para soltar o cante amargo do poeta. Que eu não percebia os caminhos poéticos do Bexiga está bem patente numa quadra que lhe fiz em 1959, inocentemente escandalizado por pensar que seria melhor poeta deixando a bebida e que era assim a 1ª glosa: Tu sabes bem que t'admiro/Pelo que sabes fazer/Mas gostava de te ver/Fazer dessa vida retiro/O homem a que me refiro/Bebe sem conta e medida/Por isso tem a sina já lida/E eu tenho pena ao vê-lo/Bêbado caído no desmazelo/Bexiga, poeta deixa a bebida. Mas a minha compreensão e estima pelo poeta já era notória, como comprova o 1º verso da 4ª glosa da mesma quadra: Onde quer que esteja o Bexiga/o poeta do improviso/Há nos seus olhos um sorriso/E nos seus lábios uma cantiga. Hoje é um dia feliz para a memória do poeta Bexiga e consequentemente para a memória da nossa Freguesia, com o lançamento do livro "Rabiscos de Um Poeta" que contém uma valiosa recolha de quadras suas, publicadas em folhetos de feira, ou que andavam dispersas e aos bocados na boca de pessoas que com ele conviveram. Foi difícil e levou tempo reunir e compilar o acervo poético dado que não havia um baú com a produção do poeta guardado, mas foi importante o trabalho de preservação desta memória popular, cujo conteúdo em grande parte se refere a acontecimentos da nossa História local. Muitos se riam e tinham pena do estado físico decadente do poeta, mas para esses que o olhavam depreciativamente face à sua aparente miséria, o nosso poeta respondia, como só aos poetas visionários com futuro é possivel ter, com a sua filosofia e prática de vida simples de pobre que "tendo um bocado de pão já é ter grande beleza" e que um poeta "Em qualquer cantiga diz, sendo pobre vive bem", sempre imbuído de um sentimento que vai muito para além da comezinha abundância terrena do "ter", desconsiderado e inferior face ao "ser" onde "há mais riqueza num pobre feliz que num rico com tristeza", como com imensa simplicidade e claramente disse na quadra, "Vida Alegre" cujo mote, 3ª e 4ª glosas falam assim: Mote, Vida alegre, quem a tem/Ainda hoje é uma riqueza/Sendo pobre vive bem/Do que o rico com tristeza. 3ª glosa, Qualquer coisa lhes sobeja/ Andam livres de ilusões/Governam-se com uns tostões/Andam livres da inveja/O que esta gente deseja/ É ganhar algum vintém/Só saúde lhe convém/A esse pobre infeliz/Em qualquer cantiga diz/Sendo pobre vive bem. 4ª glosa, Com tão boa protecção/Esse pobre é sempre forte/Desgraça para ele é sorte/Já de rastos pelo chão/Tendo um bocado de pão/Já é ter grande beleza/Canta o fado à portuguesa/Vai a toda a brincadeira/Tem mais dinheiro na carteira/Do que um rico com tristeza. Com o seu livro de "quadrismos" junto de nós o poeta "Bexiga" volta ao nosso convívio a partir de hoje e para ficar.

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sexta-feira, maio 30, 2008

PAIS POR MEDIDA


ESMERALDA FILHA DE, NÃO DE, OU DE, OU DE.

Na antiguidade clássica greco-romana todos os homens reis ou guerreios, referidos na literatura dessas épocas tinham um pai bem defenido, cujos nomes conhecemos hoje tão bem como os próprios filhos heróis. Igualmente os homens pensadores autores notáveis da epopeia, da filosofia, da tragédia, da história, da política, que constam na sua fascinante obra literária, tiveram pais únicos orgulho destes filhos que faziam questão de honra ligar sempre o seu nome ao do seu progenitor. Desta forma o valoroso heroísmo guerreiro ou de pensamento era também uma transmissão de natureza e carácter pelo sangue, uma herança familiar de pai a filho e portanto também pertença de ambos, identificada e comungada pela inequivoca ligação venerável dos dois nomes.
Assim na Ilíada, considerado o primeiro livro da literatura europeia, Homero começa: "Canta, ó deusa, a cólera de Aquiles, o Pelida(filho de Peleu)". Depois, e referindo apenas os principais heróis do relato troiano, diz: "Quanto a homens, o melhor era Ájax, filho de Télamon", e; "Dos troianos era comandante o grande Heitor, de elmo faiscante, filho de Príamo", e; "Dos Dardâneos era comandante o valente filho de Anquises, Eneias..."
Tucídedes, filho de Oloro e Hegesípida, fundador da História por métodos racionais, no seu relato sobre a guerra do Peloponeso, refere-se assim aos notáveis: "Acercou-se também Péricles, filho de Xantipo", e: "O rei dos trácios, Sitalces, filho de Teres o tal que tomou por mulher a ateniense Procne, filha de Pandion".

Actualmente, dada a dificuldade que se tornou saber quem é o pai face à revolução sexual em curso, foi preciso inventar o teste de ADN para garantia de paternidade. Mas os portugueses, altamente expeditos e inventivos na arte de baralhar a natureza das coisas com artifícios de conceitos manhosos, conseguiram alterar a relação da descendência genética de pais para filhos. Assim, inventaram os pais adoptivos, os pais afectivos, os pais psicológicos, os pais de casa, os pais de fim-de-semana, os pais do dia, os pais do coração, os pais do amor, os pais da educação, os pais da creche, os pais do orfanato, os pais religiosos, os pais do ensino, da dança, da música, etc.

Em Faro havia, e creio que ainda há, uma instituição que acolhia os rapazes orfãos ou pobres. Eram muito conhecidos porque usavam uma farda de botas grossas, calças e blusão de cotim cinzento de pintas pretas que lhes ferrava a marca de "da Casa dos Rapazes". Ninguém sabia, ninguém lhes perguntava e alguns já não tinham e outros não saberiam quem eram os pais, por isso eram tão só os moços "da Casa dos Rapazes", sem mais. Eram muito estimados na cidade e alguns estudavam na Escola Comercial e Industrial e fizeram-se homens elevados e dignos. A maior parte, certamente, nunca se libertou do ferrete social e perdeu-se por ofícios menores.

Assim, dado que hoje em dia, os filhos que segundo a classificação portuguesa, vão deixando de ter ligação paternal pelo sangue, passarão a ser designados "filhos da afinidade" afectiva, psicológica, religiosa, etc. Claro, com filhos desta descendência ocasional, feita por medida, dificilmente poderão ser heróis conforme à concepção grega, mas provavelmente tenderão a perder-se por empregos menores ou ser heróis de jogos de mãos ou de pés. Em desespero financeiro serão heróis de livros comerciais que contam a novela das peripécias das suas várias paternidades.

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terça-feira, maio 27, 2008

FUTEBOLITE AGUDA


Há pouco deu na tv que Scolari foi rezar a uma aldeia rural nos arredores de Viseu onde apenas vive um casal de idosos. Falou com o aldeão idoso que não o conheceu nem de longe nem de perto mas não o impediu de lhe tirar uma foto como fazem os turistas aqui aos aldeões do Barrocal Algarvio. Depois dos casos de pimbalhice mediática com o Roberto Leal e o Tony Carreira, talvez porque a história das bandeiras à janela já não pega, criou este caso de ir rezar "misteriosamente" com aviso prévio, para mais uma aplicação psicológica sobre a crendice dos jogadores e população em geral.
O meu capitão na guerra em Angola, antes de arrancarmos para Nambuangongo, também informou os Soldados que tinha uma cixinha preta que detectava todos os terroristas. Muitos Soldados vieram perguntar-me se era verdade e eu, que também tinha medo mas percebera a novidade do capitão, respondi que se o capitão o dizia então era porque era verdade. Mister Scolari anda afanosamente à procura da sua "caixinha preta" para levar a equipa não só a não se amedrontar mas sobretudo ter ganas de ganhar dentro do campo. Provavelmente a Santa da Capela já lhe transmitiu os resultados todos e como proceder para alcançá-los, de que ele dará a entender serem óptimos para a nossa selecção, mas que ele só irá revelando por indícios nas datas e ocasiões precisas. Especialmente depois de cada jogo confirmará se se cumpriram as instruções da Santa ou o que falhou. Irá resultar a táctica escolhida?

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MARAFAÇÕES LIV


1. O PROFESSOR MENTE

Tal como indica o retrato grafitado no elevador do Lavra em Lisboa o professor continua na sua vidência astrológica de indicações manhosamente subreptícias frente à Dra. Pedroso embasbacada a murmurar:, "sim Sr.Professor", "muito bem Sr.Professor", "e agora Sr.Professor", "que acha Sr.Professor", "pois, os livros Sr.Professor", "pois as notas Sr.Professor", "Ah!, pois claro os apontamentos finais Sr.Professor". Perante a ciência do Sr.Professor a entrvistadora limita-se a confirmar encandeada pelo brilho da palavra e reverenciosa porque "Ele disse". Se a Dra. Pedroso está no programa apenas como jarra de enfeitar ponha-se no seu lugar uma estrela de telenovela, sempre seriam duas estrelas à compita para ser rei do show, e a nossa vista ficava a ganhar.
O oráculo de Delfos não dizia nem escondia, limitava-se a indicar. Neste oráculo dominical a pitonisa diz e esconde para indicar. E tal como o oráculo antigo indicava subreptícia e favoravelmente os da sua simpatia política também este o pratica eficazmente sobre os da côr mas sobretudo sobre os sem côr. Ontem à noite, depois da suspeita venda de livros e editoras, professorou sobre o "atrazo" de actuação do governo sobre os preços dos combustíveis que pode vir a "descredibilizar" o PM que de certeza "já perdeu a maioria absoluta" e está em risco de nem ganhar a relativa. E perde a favor de quem? De Manuela Ferreira Leite, dos outros não, pois só esta tem credibilidade suficiente, porque sim e porque o Professor lhe dá e Ele disse. O jogo de ontem, bem montado e treinado á porta fechada, foi: dado que a campanha de MFL tem como base e pano de fundo a credibilidade, quer para dentro quer para fora do partido, há que, em contraponto à crescente olímpica credibilidade de MFL, dar início desde já à decrescente credibilidade do PM. Como a crise dos combustíveis está nas mãos do mercado (ao gosto dos liberais) e por conseguinte vai continuar e criar irritação, é preciso tranformar o caso em custos de crédito político e levantar a tempo a bandeira da inauguração da descredibilização do aversário.
Tudo perfeito, desde que o Professor não se enrede de mais tal como fez no caso do aborto. Para baralhar o jogo a Dra. MFL já informou que é contra a baixa de impostos a granel e também do imposto sobre combustíveis.


2. AS PALAVRAS SAGRADAS

Mais ou menos todos os partidos têem as suas palavras emblema, mas em nenhum outro elas carregam um simbolismo como no PCP. Nos demais partidos são palavras sazonais, fruto da época de acordo com o linguajar do chefe partidário da altura. As palavras "exploração", "luta", "jornada", "salário", "colectivo", são exemplos de palavras carregadas de significado para o PC que as emprega como se foram um programa político. Foi assim com o intelectual Álvaro e é assim agora com o operário Jerónimo. São o legado histórico do marxismo que foi génese e se tornou a marca do partido, logo intemporais e imutáveis mesmo que tudo mude à sua volta.
Na recente exortação aos intelectuais da DORL o Secretário Geral, animado face à inesperada crise económica, como sempre analizada e vista como crise do capitalismo que é certamente, imediatamente foi ao baú das palavras sagradas e aplicou-as todas dado que " alargaram-se as condições objectivas para que muitos deles (intelectuais) sejam mobilizados para o protesto e luta" e porque as mudanças na legislação laboral " justificam ainda hoje a luta de classes" pediu o empenhamento dos intelectuais na luta por "uma democracia que não seja monopólio de um grupo restrito".
Agora, ainda contra o código de trabalho proposto, acusa o governo de "golpe" contra o direito dos trabalhadores e de "rasgar" a Constituição. Estas palavras também sempre fizeram e fazem parte de um baú sagrado, mas neste caso nunca aberto, nem as suas palavras utilizadas antes das hostilidades revolucionárias. Estas sempre foram palavras ditas e trocadas ao mais alto nível mas nunca escritas antes de tempo.
Claro que Jerónimo as aplica agora mais em conotação com o momento actual a pretexto do novo código laboral mas o conjunto de observações recentes carregadas de palavras sagradas gastas mostram o sempre e mesmo entusiasmo á espreita das condições objecticas, uma vez que as subjectivas são inerentes ao capitalismo segundo a vulgata marxista.
Depois de Engels ter vislumbrado o "socialismo científico", temos agora em Portugal os "politólogos cientistas" que dão pareceres oraculares, a quem lhes pedir ( ou a quem lhes pagar?), sobre o futuro dos partidos. Se já o fizeram sobre o futuro próximo do PSD a pedido, podê-lo-iam fazer igualmente a pedido do PC fornecendo-lhe um baú novo de cartilhas impressas de novas palavras sagradas menos codificadas tal como faz o Bloco. Assim tinham mais disfarces para a oportunidade de vir a comandar uma "demucracia monopólio de um partido restrito" com que sonham desde que existem.



3. O FUTEBOLISMO MENTALIDADE URBANA

Hoje, o cabeça de futebolismo do "trio d'ataque", cabeçudo da rtp só equiparável ao "afofadinho" Santos cabeçudo da sic, informou no fecho do telejornal do meio-dia acerca da meteorologia, que tinha más notícias para o povo porque " o tempo que aí vem é impróprio para consumo". Nem mais nem menos, para esta cabeça de fabrico urbano que nasceu, creceu e foi enlatado na grande cidade, o tempo de chuva só pode ser de "consumo impróprio". Até a linguagem é de merceeiro de super-mercado às prateleiras que é o local onde este tipo de gente pensa que os produtos nascem já embalados. Eles querem lá saber se as albufeiras têem ou não água para abastecimento às populações, se as barragens têem água para a produção de energia eléctrica (gazolina cara? O que é isso? Ele enche sempre o depósito.), se o Alentejo com água pode produzir mais cereal, se os rios com bom caudal são mais riqueza para o país, se mais água é mais pastagem, gado, carne e leite e portanto mais riqueza para o país, etc., etc. Qual quê, ele tem a água que precisa na torneira ( se não tem culpa os políticos), e para beber tem na prateleira do super-mercado ( se não tem acusa os políticos), que sem chuva se esfalfarão para lhe dar água importando-a.
Por conseguinte a chuva só atrapalha o plano de passeio de fim-de-semana ou a ida à praia de tais fulanos. E se nesta altura que nem há futebol a chuva é imprópria para consumo o que faria se fosse tempo dele, e respectiva corrida à bola, para estes cabeçudos de futebolite aguda. Uma tragédia provavelmente, contudo o trágico está na cabeça seca e árida destes figurões.

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domingo, maio 25, 2008

JOAQUIM ISIDRO CONCEIÇÃO ROSA


O PINTO (1948-2007)

Vendo e revendo as imagens de video do alegre e feliz almoço da Charola "Flôr de Lis" em Novembro de 2007, no Café Central de Santa Bárbara de Nexe, pensamos imediatamente na impossíbilidade de entendermos os indecifráveis mistérios do espírito humano que, de um Homem pleno de alegria rodeado de amigos, faz um Homem só, a olhar-se, a ouvir-se e a pensar-se a si mesmo e à sua própria existência. De que matéria é feita a razão do ser humano que é uma coisa, pensa outra e deseja ser outra e convive simultâneamente com as três condições contraditórias dentro de si, debatendo-se numa luta interior transcendental, entre o ser e o não ser? Que comédia louca ou que drama trágico é a vida incessantemente representada como um desfile de fantasmas vivos? Que emaranhados caminhos do pensamento conduzem a consciência a um labirinto sem saída? E nós outros, os próximos, os amigos, os conhecidos que julgamos ver a alma do Homem observando a sua acção e olhar, que podemos fazer quando sempre observámos acções e olhares limpos, e dada a impossibilidade de vermos ouvirmos ou lermos o que vai dentro dessa alma? Julgamos compreender o mundo, o cosmos e o micro-cosmos que nos rodeia pela explicação ciêntífica, contudo continuamos primitivos ignorantes quanto á conpreensão de nós próprios.

Certo certo, acontece, é que o Homem por mais que viva irmanado em sociedade, por mais livre que seja, por mais feliz que viva, por mais utopias que sonhe, o seu destino como indivíduo autónomo, está umbilical e inapelavelmente ligado á sua matéria íntima genética que o moldou um ser único intransmissível desde o princípio. Pode a sociedade impôr, legislar, ordenar, perseguir, condenar, prender que jamais poderá impedir o desígnio das leis mais altas e nunca escritas que ditam o nosso inerente direito à eternidade.

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quinta-feira, maio 22, 2008

GORJEIOS XVI


OH!, CIDADE DAS JANELAS INDISCRETAS

Oh!, cidade das janelas indiscretas
Molduras de modelos vivos fazendo convites
De fazer crescer e incendiar apetites
Que chegam em bandos em bicicletas
E em grupos observam e medem os modelos
Em coloquial aberto e minucioso exame
Fitando-os clara e demoradamente a vê-los
De lado a lado da ponta dos pés aos cabelos
Em ruas de Amsterdam.

Oh!, perverso Lautrec das mulheres do Pigalle
Oh!, delicada Maluda das janelas de Lisboa
Pintem estas mulheres e janelas onde o sexo voa
Incandescente ao rubro sobre a rua e águas do canal
Sejam malditos, cubram as telas de vaginas e tetas
Escorrendo e onde todo o mundo vá e mame
Encenem olímpicas orgias e bacanais
Ponham falos cuspindo esperma como agulhetas
Exaltem a folia de bordéis com meninas nas saletas
Ondas de esporra espumem as águas mansas dos canais
Contestem subvertam façam humano o frio e infame
Sexo mecânico tecno-asséptico de Amsterdam.

Amsterdam, 20.04.99

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quarta-feira, maio 21, 2008

ACORDO ORTOGRÁFICO


Trata-se de uma polémica menor aquela travada entre o linguista "nacionalista" e o "economicista", pois penso que independentemente de qualquer acordo imobilista ou dirigista da língua, esta manter-se-á sempre viva e mutante e tomará sempre o caminho traçado na sua origem segundo a incorporação, na língua adoptada, de termos autóctones ou criados por força de costumes e tradições próprias. A língua é o mais importante instrumento de comunição entre o povo que a vai simplificando para a tornar mais prática e entendível e assim facilitar cada vez mais e melhor a conpreensão da sua comunicação. As enormes mutações das línguas ao longo da História foram sempre no sentido de facilitar a transmissão e conpreensão do pensamento e não para dificultá-lo. Uma imposição nacionalista da pureza da língua entre nós, desde o início, levar-nos-ia a que ainda hoje falássemos e escrevessemos à maneira do tempo de D. Diniz, e que nos Palop apenas uma língua nativa maioritária pderia ser língua oficial. A língua escrita nasceu milhões de anos depois da fala e é a sua representação simbólica que deve evoluir de acordo com o falar de cada época. À academia compete apenas regulamentar e preservar a boa etimologia, fonética, gramática e ortografia da linguagem falada.

Diz Pedro Mexia que " O argumento é de que a língua não é nossa porque a antiguidade não conta nada. É claro que a antiguidade não conta nada: mas a quantidade também não conta nada". Ora aqui está uma argumentação fora do real, só possível por um jogo de palavras puramente linguístico, abstracto e sofista em que nenhum dos argumentos palavrosos se encaixa na realidade. Senão vejamos: antes da colonização havia algum sinal ou tipo de língua portuguesa em algum lugar fora de Portugal? Se hoje ela existe nos Palop quem a levou e impôs nessas paragens? Então qual a origem, de quem era então, essa lingua portuguesa? Exactamente por ser antiga e origináriamente única e nossa que o português é, continua sendo e será nosso. Outros podem adoptá-lo, usá-lo e enfeitá-lo que se se mantiver a sua matriz original, a sua marca será sempre portuguesa.
Quanto ao argumento "economicista" da quantidade também enferma de falta de realidade, e vejamos: em matemática ( a tal ciência exacta), 10 são 10, pura e simples, sem mais; mas vinte vezes mais são, 20x10= 200, realidades de quantidade muito diferentes. Um conta uma realidade de dez, outro conta uma realidade de duzentos, portanto são realidades desproporcionadas que se impõem precisamente pelo matemático contar, ou seja pela grandeza numérica a qual o homem sempre históricamente teve não apenas em conta como na devida medida.

Porque é que na nossa actual sociedade um lugar rural, afastado de poucas famílias, é remetido para último da fila de prioridades quanto a ter direito a água, saneamento, recolha de lixo, eléctricidade, estradas para carros, escola, transportes públicos, telefone, telemóvel, televisão, internet, etc, enquanto na cidade em qualquer grande bairro clandestino é urgente e em qualquer nova urbanização é obrigatório, antes de tudo o mais, que as redes de infra-estruturas estejam garantidas e instaladas? Porque um lugar de poucas famílias dispersas tem 200 votantes e um bairro citadino tem concentrados 2000 ou 20000 votantes. São dez ou cem vezes mais votos concentrados e concentráveis e isso não só conta como faz toda a diferênça.
Já na antiguidade arcaica os pitagóricos tentaram explicar o mundo pela decifração do mistério contido nos números e em muitos casos não dixaram de ter razão até hoje.

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terça-feira, maio 20, 2008

O MEU LUGAR XX


LUGAR DITO ESTANCO

A terra de sementeiras e gorjeios
ganhava cores de verde e branco
entre cerros valados searas e cal
do casario onde fêmeas de seios
fartos fonte de vida e encanto
de brados choros e risos pelo vale
ao vento quais pássaros-correios
mensageiros de amor ou pranto
aos machos maridos e pais original
força bruta que sem hora ou freios
luta e doma terra outrora barranco
Caramujeira feita a força braçal
lugar de pão gado e celeiros cheios
de cereal e fruto seco dito Estanco.

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segunda-feira, maio 19, 2008

NOTÍCIAS DO PAU XIII


Estava reunida a redacção do "jornal do pau" quando passei por lá e fiquei a saber que se falava de um dos casos na ordem do dia: o aumento dos combustíveis.
No meio das queixas gerais o Zé Barros, filho da Ti Barba Rosa, sempre bem disposto e cheio de bom humor para furar conversas de desgraças, rematou:
-Eu cá não me importo nada com o preço da gasolina, quer ela baixe ou suba meto sempre 1o euros no depósito-.
A conversa mudou logo para um tom mais prazenteiro, cada um comentou o dito no mesmo registo e antes do pôr do sol cada qual foi para sua casa mais bem disposto. O "jornal do pau" vale mais que um milhão de psicólogos.

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domingo, maio 18, 2008

TELEVISÃO, FUTEBOLISMO, TELENOVELAS, CRIMES, SANGUE, SEXO.


A INOCÊNCIA PERDIDA

Tem toda razão Pacheco Pereira na sua crítica à cada vez mais actual comunicação "pimblóide" em geral e televisão especialmente. Nos meios de comunicação de massa actuais sem excepção, o grosso de seu conteúdo, é uma verdadeira linha de montagem de títulos, cabeçalhos, fotos, legendas, publicidade, cores, design, etc, inteiramente ordenados e manipulados numa linguagem visual destinada a criar um produto final de leitura de choque visual predestinado a obter um efeito mental de mercadoria algo pornográfica para atingir certeiramente e condicionar mentalidades simples desprevenidas.

Mas PP critica a situação como se ela existisse de per si, sem mais e sem causas. Contudo a má tv não nasceu com pecado original, e a actual situação é sobretudo filha das têvês privadas que PP tanto apoiou e apoia ao ponto de estar constantemente a propor a privatização das que ainda são públicas. Tudo começou com os formatos à Rangel na Sic, defendendo a mais obscena pimbalhice para formatar mentalidades acriticas e depois argumentando, com despudorada canalhice, que dava o que o público gostava e exigia. Acabou a proclamar que se fosse preciso venderia um presidente da républica tal qual como vendia sabonetes. Fez escola e foi mestre de Moniz que, aplicando o método e lições do mestre, suplantá-lo-ia como vem demonstrando teimosa e arduamente sem descanso e inimputável.

Pensava e pensa PP que mais privado em comunicação era sinal de melhor conteúdo e mais livre opinião. Engana-se redondamente porque "informar" não é um produto acabado, definitivo, enlatado, inocente, sempre igual e com o mesmo aspecto e gosto. Informar não é criar emoções e suspenses falsos, dramatizá-los com lágrimas de basbaques, e vendê-los em folhetins diários para fazer comércio. Não, informar é um produto base constituinte de um processo construtivo de consciências, mentalidades, pensamentos, éticas e estéticas que não pode ser deixado ao livre arbítrio comercial.

A tv pública precisa da antiga taxa para ser económicamente independente e entregue a jornalistas e homens de cultura honestos, afim de tornar-se um exemplo de escola de educação e formação em todas as áreas, mesmo no desporto e entretenimento mas de forma inteligente. Deve tornar-se exemplo de reconhecimento pela qualidade e deixar aos privados que chafurdem na merda morbida ou côr de rosa como tanto gostam e tanto quanto queiram.

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sexta-feira, maio 16, 2008

NOTÍCIAS DOS GORJÕES IV


DIMINUIDOS E ENVERGONHADOS? QUEM?

Depois de uns dias em Lisboa, hoje de manhã na caixa do correio, tomei conhecimento pela 1ª vez da existência do jornal informativo "Fagar" de Março 2008. Abri a folha verde e deparei com o título em grande, "AVANÇAM AS OBRAS DE ÁGUAS E ESGOTOS, freguesias de S. Pedro, Estoi, Santa Bárbara, Conceição e Sé", que evidentemente me despertaram entusiasmado interesse em conhecer de perto o andamento das obras. Sou um dos ainda muitos portugueses que esperam por esse direito inscrito na Carta dos Direitos do Cidadão Europeu e que nos tem sido sucessivamente prometido e adiado desde Abril.

Da notícia em cabeçalho 12,5 vezes maior ( para se ver e ler bem?) que o corpo do texto (para mal se ver e não ler?), constata-se que existem 10 áreas agrupadas em: lote 1 a 4, lote 5 a 6, e lote 7 a 10, que certamente corespondem a projectos separados dado terem também orçamentos individuais. Depois vem a notícia de que o lote 5 a 6 já arrancou e ficará pronto em serviço até ao final de 2008. Estas áreas em obra, decididas prioritárias englobam as áreas de "campina" arredores próximos da cidade, correspondendo os outros lotes, ainda à espera de garantia de financiamento e, por conseguinte entendidos não prioritários, ao barrocal concelhio mais afastado da cidade. Os Gorjões, o meu lugar, uma cova plana depois e por detrás do Cerro Nexe, está incluido no lote 1 a 4, a extrema concelhia mais afastada da cidade autárquica em Kms, pensamento e cuidados de cidadania.

Pela numeração dos lotes subentende-se uma cronologia da feitura dos projectos que talvez correspondesse, originalmente, a uma intenção definidora de prioridades, o que corresponderia ao que aqui foi afirmado pelo anterior municipal Presidente, em reunião com os gorjonenses, de que as obras, impreterivelmente, teriam início nesta área. Afinal assim não foi e, mais uma vez a obscura e dolorosa maldição histórica deste Lugar se cumpriu, agora democraticamente pensando e agindo tal qual como outrora fazia a ditadura.

Depois de estarmos rodeados de electricidade por todos os lados, soubemos esperar muitos anos para poder dar ao botão de acender a luz; depois de estarmos rodeados de estradas de alcatrão por todos os lados, soubemos esperar e aguentar muitos anos a saltar covas e comer pó numa estrada de macdame; depois de muitos séculos em que filhos, netos e bisnetos puderam construir aqui as suas casas nas suas terras e junto das casas dos antepassados, saberemos esperar pacientemente que a cidade, a quem serviu as leis proibicionistas dessa construção tradicional milenar anterior à nacionalidade causadoras da desertificação da terra em contrapartida aos feios, porcos e babélicos subúrbios de engavetamento de vivos, também um dia reconsidere por dever moral ou por imposição da necessidade e volte a deixar que os pequenos povos nasçam, crescam e criem as suas identidades próprias.

Estamos tão perifericamente habituados a esperar e ser últimos que não é por voltarmos mais uma vez a tal condição que nos iremos sentir diminuidos e envergonhados. Revolver-nos-á certamente um forte sentimento de vergomha e diminuição mas não em relação a nós próprios.

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quinta-feira, maio 08, 2008

A PRIMAVERA CONTINUA II


ARCO ÍRIS DA PRIMAVERA


ARCO VERMELHO DAS PAPOILAS

OFERTA DE FAVAS


FLORES DOS VASOS


FLORES DOS CANTEIROS


FLORES DO JARDIM

FLORES DE PEREIRA

FLORES DE PEREIRO


FLOR DE ROMANZEIRA


FIGO MÁGICO DE "TOCAR" NOS IRMÃOS PARA OS TORNAR VERMELHOS E SABOROSOS

NINHO DE MELRO

NINHO DE ANDORINHA

Já não se vê o verde dos pés e espigas dos cereais, semeados pela mão do homem, entre valados pelo matoso Barrocal Algarvio, mas a Natureza não nos decepciona, em seu lugar podemos contemplar a beleza plástica de vida e côr das plantas bravias, semeadas pelo vento, que transformam o campo seco e áspero numa doce profusão de tons e côres vivas inimitáveis, em louvor e graça de quem resiste viver nele.
Esta espantosa profusão de côres não é gratuita, são a promessa sempre repetida ano após ano de frutos saborosos e nova futura inundação de beleza e côres para o olhar. Nesta altura as favas dão apetitosos pratos de cozinha local, as flôres das árvores de fruto prometem belas româs, peros e peras com bicho e portanto naturalmente saborosas também para o bicho homem. Os melros fizeram o ninho e estão pondo ovos. Após o namoro as andorinhas reconstruiram os ninhos destruidos pelos pardais e já estão chocando os ovos. Os pintassilgos, já muito raros por aqui, fizeram o ninho numa amandoeira encostada à casa e já soltaram as asas a uma ninhada de filhotes que já voam sozinhos livremente pelos ares.
Para o ano todo este cenário se repete porque, apesar do homem, a Primavera Continua.

















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quarta-feira, maio 07, 2008

PORTUGALZINHO II


SALVADOR
Propõe-se "ousar enriquecer Portugal". Já foi o menino guerreiro vem agora armado de "menino salvador" dos portugueses tirando-os da pobreza e do fim das escalas europeias. Certamente em 6/8 meses que costuma ser o prazo que dá nas campanhas eleitorais para resolver qualquer grande problema que mais ninguém é capaz de resolver.

Quem tem a lata e despudor de tais promessas de mágico é o mesmo político que, por onde quer que subiu ao poder, público ou privado, governou sob um evidente poderoso instinto de deboche económico-financeiro.

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terça-feira, maio 06, 2008

MARAFAÇÕES LIII


O ANIMAL SUPERIOR

O homen julgava que já tinha ascendido a uma posição acima da terra e dos animais. Tudo o que precisava para sua subsistência o super-mercado produzia. Preocupava-se já mais com a preservação das espécies não domésticas, as ditas selvagens e designados de "bicharada" da paz ambiental, do que olhava para si mesmo como natureza de necessidades idênticas. Talvez obcecado pelas tecnologias do imaterial fosse levado a pensar que se tornara, ele próprio, também imaterial, incorpório, sem necessidade de se preocupar com necessidades primitivas.
Sempre que se julga e coloca acima da sua condição, uma força dionisíaca vigilante e indomável se faz sentir para fazer sossobrar tal excesso humano. O actual problema dos cereais, o abuso que deles se tem feito e agora a possibilidade de sua escassez, coloca na ordem do dia o dilema da alimentação e da fome, remetendo o homem às origens.

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domingo, maio 04, 2008

A NÃO GUERRA DE PACHECO PEREIRA


O QUE MOVIA QUEM FOI E QUEM RECUSOU A GUERRA COLONIAL?

-A guerra engendrou o mundo, reina sobre o mundo-, disse Heraclito no princípio do século V(a.C.), no sentido de que o mundo (cosmos) é o teatro de uma luta incessante entre elementos opostos, e esta luta gera uma mudança perpétua. Ontem, mais através da guerra violenta, hoje mais através da guerra de idéias, o conflito de perpectivas opostas sobre as melhores soluções é o grande princípio gerador de evolução e desenvolvimento intelectual e material. Também a causa má, a ditadura, que levou à guerra colonial, gerou uma consequência boa, a queda da ditadura e a instauração da liberdade democrática, condição sem a qual não seria possível as benfeitorias de que o país beneficiou. A ditadura levou-nos obrigados à guerra e a guerra gerou no seu interior as condições de acabar com a própria guerra acabando com a causa da guerra, o regime ditaturial existente.

Quer isto dizer que devido às contradições geradas pela guerra no seu seio, foi possível a criação de um espaço de liberdade para originar um movimento de opinião e discussão da guerra. Foram os contínuos mortos e feridos sem soluão de parar que fez os militares repensarem a questão da guerra e tirar conclusões. Sem o sacrifício de milhares de Soldados a tomada de consciência dos comandos intermédios despolitizados nunca teria sido interiorizada nem a guerra questionada. Foi no interior das matas africanas, com sangue, que se inscreveu na consciência dos militares a necessidade de libertar o país da guerra. Jamais os refractários ou desertores por convicção política e anticolonialismo, a trabalhar nas "profissões menores" em fábricas ou restaurantes, a estudar ou a cantar nas ruas de Paris, seriam contributos decisivos para mudar o que quer que fosse cá dentro.

O conceito de liberdade absoluta comporta dois tipos de liberdade relativa: a da exterioridade determinada pela vivência em sociedade e consagrada na lei; a da interioridade determinada pela vontade no foro íntimo do indivíduo. Um exilado, por força do exílio, perde inapelávelmente a primeira liberdade pois fica automáticamente fora dos direitos de cidadania, quanto ao segunto aspecto da liberdade da vontade interior, dado que está fora do meio social onde pode agir, esta apenas lhe pode servir individualmente na forma de estoicismo para suportar as condições duras do exílio. Foi por isso que Sócrates preferiu a morte ao exílio e que mais tarde os gregos ao perderem definitivamente a condição de cidadãos livres em Queroneia, viraram-se para a única liberdade que lhes restava e dedicaram-se a inventar filosofias de vida de refúgio e resistência individual como o estoicismo e o epicurismo.

Pacheco Pereira pertenceu àquele pequeno grupo que podia auto-exilar-se para não fazer a guerra ao contrário de; "aqueles homens, rudes, vindos de um Portugal então muito rural, desajeitados, com capacetes de aço feitos para a II Guerra Mundial". Mas agora, vistos do "lado oposto" à distância de quase 50 anos, tenta pôr em pé de igualdade de "patriotismo" os combatentes e os desertores e até descobre que "também não era o medo da guerra, porque de um modo geral havia mais coragem em recusá-la do que em fazê-la". O artigo de PP (Público, 19 de Abril), tresanda a moralismo paternalista de quem tomando uma actitude de escape face ao perigo, quer desculpar-se fingindo sobranceiramente compreender e desculpar os outros que lutaram. Diz que não foi por medo, mas o certo é que nas ruas de Paris e outras cidades da Europa apenas havia o medo da perda de conforto pessoal e não o medo de vida ou morte; diz que foi por ideologia e anticolonialismo mas o certo, como depois se constatou, é que a guerra proporcionava mais liberdade de promover proficuamente o anticolonialismo que nouto local qualquer (registe-se que os pides infiltrados nas Unidades Militares não tinham a coragem de denunciar os companheiros que arriscavam a vida a seu lado); diz que foi por anti-salazarismo mas o certo é que foi na guerra do mato que se gerou o movimento consciente que levou ao derrube do salazarismo e não nas cidades-luz dos auto-exilados.

Certamente ingénuos politicamente, simples e rudes socialmente, ignorantes culturalmente, inocentes quanto a altos juizos sobre guerras justas ou injustas, foram enviados obrigados à força para as matas e picadas de África e cumpriram o seu dever do momento. Comeram dia e noite a ração de combate diária e o pó das matas e picadas africanas, meses seguidos sob o permanente risco de vida. Não precisam nada, mesmo nada, eu recuso-o totalmente, do comísero paternal atestado de "patriotismo" que PP quer atribuir aos combatentes de 1961 " tão capazes de uma heroicidade simples como a que louvamos nos de 'quinhentos' ". Passados estes 50 anos, visto sob a serenidade de julgar que tal afastamento proporciona, cada vez se torna mais evidente que a História apreciará mais e registará primeiramente quem lutou e não quem se auto-excluiu. Não é apenas porque a sua música era superior que o José Afonso foi sempre mais ouvido e importante que os outros cantores exilados, foi também e sobretudo porque lutou, enfrentou e sofreu cá dento junto dos seus.

Por fim, PP propõe que " uma natural proximidade devia envolver os homens desses dois mundos, cada um patriota a seu modo" porque, "bem vistas as coisas, a esta distância, é a mesma actitude" a que ambos tomaram, quer os auto-exilados quer os combatentes. Só numa concepção da imaginação se pode dizer que foi a mesma actitude, porquanto PP ao ver as imagens dos soldados de 1961 na guerra de Mauser na mão, pode ver-me a mim que estava lá, mas nunca a ele que se recusou participar.
O mesmo fragmento de Heraclito citado na abertura deste texto, traduzido-interpretado por Simone Weil é mais completo e diz: -A guerra é mãe de todas as coisas, rainha de todas as coisas, e revela alguns como deuses, outros como homens, e torna uns livres e outros escravos-.

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quinta-feira, maio 01, 2008

PORTUGALZINHO


O RUMO SANTANISTA

Hoje na RTP, grande entrevista, Santana é peremptório que quer ganhar no partido para ganhar em 2009 e mudar o rumo ao país.
Meteu-se no negócio empresarial ao seu estilo, em grande, de "imprensa e comunicação" e afundou-se numa falência imediata.
Como Secretário da Cultura que Cavaco lhe deu para o calar, afundou milhões com uma artista brasileira de teatradas e alcova, e afundou muitos milhões a mais na construção do Centro Cultural de Belém.
Chamado a presidir ao Sporting, ao fim de seis meses é posto na rua dado que o clube caminhava na carreira para o afundanso total.
Ganhou a Câmara da Figueira da Foz e sem fazer nada de relevante afundou as contas locais, diz-se que o actual presidente que o substituiu, levou anos a pagar dívidas e equilibrar a contabilidade camarária.
Depois ganhou a Câmara de Lisboa (Depois do curriculum acima conhecido foi bem feita para os bem esclarecidos votantes lisboetas), e como é recente e se conhece bem, com medidas ao jeito do seu "espada presidêncial" e "residência presidêncial", levou a gestão financeira e administrativa da Câmara ao fundo do fundo.
Como prémio e cúpula deste notável percurso, por meios ínvios, chega a primeiro ministro de Portugal e se não é despedido ao fim de seis meses o país tornar-se-ia a anedota da Europa tal como já o estava sendo cá dentro. E o seu contributo pátrio foi afundar ainda mais a desgraça de país que temos e somos.

Agora, e novamente, propõe-se mudar o rumo que o país leva. Como, se todos os barcos que comandou os conduziu, sob cantes de sereia, para mares de ondulação de tempestades? Com tal timoneiro a mudança só pode ser de rumo ao fundo.

PERGUNTAS


PERGUNTA I
Tiveram, e ainda têem, um presidente dos anti-elitistas autarcas "descamisados" designado pelas iniciais LFM, agora têem uma candidata de peso dos elitistas "comunicacionistas" ministeriáveis designada pelas iniciais MFL.
Quererá isto dizer que o partido está num tal estado literalmente caótico que quer visto e lido da esquerda para a direita ou da direita para a esquerda significa o mesmo?
Talvez o treinador Jesualdo do Porto, que costuma ter premonições, saiba "premonizar" qual o sentido desta coincidência.

PERGUNTA II
E se fosse o governo que resolvesse acabar com as listas de espera enviando os doentes das cataratas para Cuba, da apendecite para a China, das varizes para a Ucrânia, etc. etc., que se diria? Que se tratava de uma pura e simples medida económica de deslocalização para locais de mão de obra barata? Que o Estado desprezava a vida dos portugueses, colocando-os sob cuidados de saúde técnica e higienicamente desconhecidos, utilizando meios e materiais médicos menos recomendáveis, baratos e por conseguinte de duvidosa qualidade? Que responsabilidades seriam atribuidas ao Estado e quais as atribuidas aos autarcas? O que no Estado seria uma idéia acção má, é boa praticada pelos autarcas?

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